Valmir Mariano (Valmir da Integral)
Tivemos uma longa conversa com Valmir Mariano, o Valmir da Integral, empresário bem-sucedido de nossa cidade e um dos nomes mais fortes para a corrida eleitoral de 2012
Nesta conversa, falou-se um pouco de tudo. De sua viagem à China, das suas impressões sobre o atual governo, sobre os atuais impasses com a Vale e sobre sua candidatura a prefeito
Leia e aproveite para conhecer um dos grandes homens de nosso tempo, em nossa cidade, nesta série de reportagens
Sobre a China
Nesta minha viagem à China, eu fui conhecer o país com um grupo de empresários brasileiros de quase todos os Estados, para conhecermos o mercado e quem sabe, firmar parcerias. A China hoje, dita o rumo do mercado mundial. É fundamental conhecê-la e entendê-la. Mas entre os lugares que eu fiz questão de conhecer, fora do circuito empresarial, estavam algumas escolas. Em Pequim, eu fui a uma escola – do governo - em que as crianças entram às 07:30h e saem às 17h. Lá, elas recebem atendimento médico, odontológico, café da manhã, almoço e lanche. Têm as aulas normais, mas também têm música, esportes, lazer. O mobiliário é todo de primeira qualidade e a lousa é digital.
Uma coisa que me maravilhou lá, é que eles estão trabalhando sério. Existe um projeto de superar o PIB dos Estados Unidos, já nestes próximos cinco anos e de ser excelência no mundo, em praticamente tudo, nos próximos doze anos.
Essa história de que produto chinês não vale nada, é coisa do passado. Aqui, essa mentalidade é forte, pois há muitos produtos chineses ruins, mas eles na verdade, são fruto de contrabando, tanto aqui, como lá. A verdade é que existe preço para tudo hoje em dia. Na China, existe muito produto de qualidade também, mas a maioria ainda nem chega por aqui.
Outra coisa interessante: a China é um dos países que mais poluem no mundo, é verdade. Mas também é o país que mais está investindo em gestão de meio ambiente no mundo.
Eu mesmo cheguei a ver um exemplo interessantíssimo: uma estrada estava sendo feita e no caminho, havia uma árvore. Eles não derrubaram a árvore. Eles retiraram-na inteira, puseram em cima de uma carreta e depois a replantaram, num lugar próximo do local original. Uma política que vai encarecer em muito as obras, mas que mesmo assim, está sendo posta em prática.
Relação com a Vale
A Vale, historicamente, tem um compromisso social com esta cidade, sim. O que ela não tem é confiança de entregar dinheiro na mão assim, de qualquer jeito.
Eu estou convencido de que se as negociações, tivessem iniciado há mais tempo e, fechado os valores devidos, se propusesse receber isso em obras, ela certamente já teria pago.
Este governo só quer receber se for em dinheiro e não é assim que se negocia com grandes empresas.
O governo não consegue se organizar, está completamente sem foco nessas questões cruciais e vem com essa conversa de extorquir a Vale, tentando arrancar dinheiro de qualquer forma. O administrador público sério, tem que conseguir é obra, investimento na cidade. Fazer questão de receber tudo em dinheiro é até meio suspeito. Não é esse o caminho.
Até porque a Vale não pensa assim. Em conversa com um diretor da vale há uns 4 anos, eu o inquiri sobre o compromisso da Vale com este município e ele me respondeu: "Valmir.. o que a Vale pode fazer, se quando você procura o governo e ele fala que tem solução pra tudo? Tudo que se conversa com ele, ele diz que tem solução, que já tinha pensado e, às vezes, já está até fazendo. O que se pode fazer? E outra: falta confiança.. você coloca dinheiro onde não acredita? Por exemplo, ele (prefeito) está pedindo dinheiro pra fazer a orla. A Vale não vai fazer isso. Se pedisse dinheiro pra saneamento, educação, a gente poderia sentar e discutir, mas esse tipo de obra (orla), a Vale não entra" Foi isso que eu ouvi.
E assim, se perdeu uma grande oportunidade de negociar com a Vale. Eu sempre digo e vou repetir: seja quem for o gestor desse município, não se administra este município de costas para a Vale e principalmente, brigando com a Vale. Isso não quer dizer que se deva tirar o chapéu e dizer amém para a Vale em tudo. Temos que ter em mente que a Vale, é uma empresa e TODA empresa visa lucro. A Vale, a minha, a do pequeno comerciante, o rapaz que vende lanche na rua. Lucro é a finalidade de todo negócio empresarial seja lá qual for o tamanho. O que nos cabe decidir é a que preço, cederemos em nossos interesses. Negociação é a palavra-chave.
CFEM e Projeto Ramal Ferroviário
Está havendo um grande equívoco nesta situação que envolve a Vale, a prefeitura e a construção do Ramal Ferroviário. Isso não se compensa só com dinheiro não. É preciso criar um centro de inteligência dentro de Parauapebas. Que abranja todos os segmentos da sociedade, ACIP, OAB, sociedade civil organizada, poder público, enfim. Todos unidos para discutir o destino de Parauapebas, encontrar uma nova matriz econômica para a cidade. Pensar Parauapebas em 5 anos, 10 anos, 30 anos 50 anos. Mas começar a pensar agora! Estabelecer uma parceria com as mineradoras. Não existe só a Vale. Ela é a maior, mas não é a única, é importante lembrar disso. Essa parceria deve pensar em um grande projeto para toda essa região, não apenas para Parauapebas, pois é sabido que não é possível crescer, rodeado de miséria.
Este futuro alardeado já está muito próximo. No atual ritmo, a produção extrativista cessará em menos de 30 anos. Essa já é uma informação de domínio público, conforme admitido pelos diretores da Vale. Isso quer dizer que esse novo modelo econômico tem que ser discutido e implementado hoje, já! Pois sabe-se que todo projeto de grande modificação social, leva décadas para dar os primeiros frutos.
Nós já estamos atrasados nesta discussão, no mínimo, 10 anos. Porque Parauapebas vem crescendo e muito, mas o grande "boom" mesmo foi a partir de 2003, quando abriu a Mina do Sossego. Até este fato, Parauapebas crescia, mas de forma até certo ponto tranqüila. A exploração era lá em cima (Carajás), a Vale não se preocupava muito com o município, o município na base do "tanto-faz" com a Vale, etc..
A abertura do "Sossego" foi que realmente projetou Parauapebas para o Brasil e para o mundo e impulsionou essa taxa de crescimento maior que a chinesa, que todo mundo queria vir para cá.
Com relação a esta discussão sobre se a Vale deve ou não deve o valor reclamado, eu vou dizer uma coisa pra vocês, sem medo de errar: se eu estivesse no governo, esse dinheiro já teria saído. Mas em obras, eu negociaria para receber em obras. Eu não tenho dúvidas. Se o dinheiro é devido, ele teria saído em obras. Mas esse governo só quer saber se for pra receber em dinheiro. E para qual finalidade? Eu estava lendo que a Vale fez uma carta-fiança deste dinheiro, para garantir a verba e mesmo assim, eles entraram com um processo lá em Marabá, pra ver se pegavam "pelo menos" 200 milhões em espécie! E antes de julgar o processo. Dinheiro, sempre isso, no final, com este governo. E por este caminho, fica tudo mais difícil.
A Vale não vai querer dar, de bom grado, 200, 300 700, 800 milhões assim, na mão de qualquer um. E o administrador público deveria ser o primeiro a nem tentar pegar. Isso, negociado em obra, transformaria esta cidade para sempre, numa ilha de excelência. Mas num governo que já recebeu a quantidade imensa de dinheiro que já recebeu, mas cuja maior obra que tem pra mostrar é o seu próprio escritório, é realmente compreensível, embora lamentável, a situação de penúria que nossa cidade vive. Apesar de rica, não consegue atrair investidores, pois carece dos serviços mais básicos. Esse governo só conhece um meio de negociação, a extorsão.
preparando a minha empresa para que eu possa me licenciar e cuidar da campanha de corpo e alma. Eu quero me candidatar, porque nesses 21 anos de Parauapebas, eu sempre achei que era possível fazer mais por Parauapebas. Nesse tempo todo, eu sempre participei da vida pública da cidade, apesar de nunca ter me candidatado. Sempre apoiei, militei, discuti, propus. A Fundação Integral, por exemplo, tem mais de duas décadas de existência, realizando trabalhos junto à comunidade. Isso de uma pessoa que jamais havia se candidatado a cargos públicos, mostra meu desapego à coisa pública e minha preocupação em melhorar a comunidade a qual eu pertenço".
Parauapebas já foi administrada por comerciante, médico, professor, psicólogo, enfim. O que faz as pessoas acreditarem no Valmir é o fato de ele dar mostras contínuas de ser um administrador competente. Sabe lidar com dinheiro, sabe como investir, a Integral é uma prova disso.
Saneamento Básico e Planejamento Estratégico e Urbano
A região pede um projeto abrangente para médio e longo prazos. Parauapebas necessita de projeto de saneamento urgente, pois nossos índices de saneamento giram em torno de 7%.
Saneamento é obra cara e ninguém gosta de fazer, porque não aparece, coisa que, para os políticos, é fundamental. Infelizmente, para alguns, é até mais importante que a obra em si.
Essa cidade precisa ser saneada nos próximos 10 anos, ou depois será praticamente impossível, considerando-se taxa de crescimento e elevação exponencial dos custos.
Nós perdemos, nessa época, uma grande oportunidade de fazer de Parauapebas, uma excelente cidade. Isso nós perdemos, em 2003. Nessa época,surgiu a oportunidade de fazermos uma grande cidade ou uma cidade medíocre. Nossos governantes optaram pela cidade medíocre.
De todos os erros que o Darci cometeu, na sua seqüência de ingerências, o maior de todos, na minha opinião, foi autorizar esses loteamentos do jeito que foram feitos.
Esses loteamentos foram todos irregulares e "engessaram" a cidade. Não têm padrão, as ruas são muito estreitas, não têm saneamento, não foram respeitados o meio ambiente, os mananciais.
O próprio Shopping foi construído numa área imprópria. Ele deveria estar mais recuado, pelo menos umas duas quadras. Ele estar na beira da pista, pode trazer problemas e acidentes, pois ele vai criar uma tendência de engarrafamento, numa área de rodovia, onde as pessoas normalmente dirigem em velocidades mais altas.
Em todos eles, deveríamos ter exigido o saneamento básico. Em todos eles. Hoje, a prefeitura teria a obrigação de que? De fazer saneamento dentro da cidade velha, porque o restante já estaria saneado.
Essa irresponsabilidade vai recair sobre os cofres públicos. Então, esse foi um dos grandes erros do governo. Esses loteamentos já se tornaram ônus público. Trouxe muita riqueza pra meia dúzia de pessoas, e ônus para o município, um verdadeiro absurdo, um desrespeito! Essas pessoas ganharam e ganham ainda muito dinheiro e a contrapartida pífia. Sanear essas áreas, vai custar rios de dinheiro ao município, enquanto meia dúzia, simplesmente, enriqueceu!
O outro grande erro, foi não definir a matriz econômica alternativa do município. Pois levantar essas questões tão próximo a períodos eleitorais, pode fazer com que se perca a objetividade e isenção necessárias para discussão tão importante quanto esta. E esse erro, eu nem diria ser apenas do município, mas do Estado, como um todo. É um erro recorrente desde a privatização da Vale. Para a privatização, deveria ter havido mais negociações, mais exigências. Se nesta época, se tivesse exigido que ao privatizar, ela teria que construir uma siderúrgica, por exemplo, para verticalizar o produto. Vocês podem imaginar o que seria esta cidade, se há 10 anos atrás, houvesse nesta cidade, uma siderúrgica? Gente, atrás de uma siderúrgica, vem até montadora de automóveis. Vem toda essa linha branca de produtos (eletrodomésticos, etc..).
Então, eu diria que estamos, pelo menos, com 10 anos de atraso. Agora, falam em siderúrgica, mas agora, não acredito mais que seja viável. O que pode ser feito agora, é que o governo municipal se aliar a estadual para ver o que pode conseguir de benesses. Para você ter uma idéia, já se projeta mais de 20 indústrias que devem ir para marabá. Por que a gente não traz um pouco dessas indústrias pra cá também? Nós estamos aqui nesse eixo de pouco mais de 160km. O que é possível agora, é tirar proveito da verticalização do aço. Ele vai ser verticalizado em Marabá.
Então precisamos ter aqui, empresas de transformação, por exemplo: já se cogita em abrir uma empresa de botijões de gás,lá em Marabá. Já se cogita em ter uma empresa para rodas de carro, outra para vagões de trem e linha branca, como geladeira, fogões, etc..
Fonte: Folha do Sudeste.