Ronan Pinto já foi condenado por corrupção na gestão de Celso Daniel.
Ele foi preso da 27ª fase da Lava Jato, que apura beneficiários da corrupção.
Do G1, em São Paulo, e do G1 PR
A 27ª fase da Operação Lava Jato
identificou um dos beneficiários do esquema de corrupção: o empresário
paulista Ronan Maria Pinto, que recebeu R$ 6 milhões.
Os recursos vieram
de um empréstimo fraudulento que o pecuarista José Carlos Bumlai obteve
junto ao Banco Schahin em outubro de 2004.
Ronan foi um dos presos na nova etapa da Lava Jato, que foi deflagrada
nesta sexta-feira (1º).
O outro foi o ex-secretário-geral do PT, Silvio
Pereira, suspeito de articular os repasses de dinheiro.
A Polícia
Federal levou para depoimento Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, e o jornalista Breno Altman.
Em nota, advogados de Ronan diz que ele sempre esteve à disposição dos
investigadores.
"Há meses reafirmamos que o empresário Ronan Maria Pinto
sempre esteve à disposição das autoridades de forma a esclarecer com
total tranquilidade e isenção as dúvidas e as investigações do âmbito da
Operação Lava Jato, assim como a citação indevida de seu nome.
Inclusive ampla e abertamente oferecendo-se de forma espontânea para
prestar as informações que necessitassem", diz o texto.
Em nota publicada em sua página no Facebook, o jornalista Breno Altman
diz que prestou depoimento "em clima cordial e respeitoso", porém
criticou a condução coercitiva.
"Minhas declarações sobre a investigação
em curso, no entanto, poderiam ter sido tomadas através de intimação
regular, com data e horário determinados pelas autoridades.
O fato é que
jamais tinha recebido qualquer convocação prévia para depor", diz a
nota.
Altman também diz que orientou seus advogados "a entrarem com uma ação
no Conselho Nacional de Justiça contra o juiz Sergio Moro, pela
ilegalidade de minha condução coercitiva, em decisão prenhe de ilações e
especulações".
Empréstimo fraudulento
No ano passado, Bumlai admitiu a fraude no empréstimo,
que totalizou R$ 12 milhões, e disse que o objetivo era pagar dívidas
de campanha do PT e "caixa 2", sem citar nomes.
Investigadores ainda não
confirmaram quem foram os destinatários finais dos outros R$ 6 milhões.
Bumlai já foi preso pela Lava Jato e é amigo do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
O empréstimo com o banco foi pago com a contratação fraudulenta do
Grupo Schahin como operador do navio-sonda Vitória 10.000, pela
Petrobras, em 2009, ao custo de US$ 1,6 bilhão.
Como foi favorecido para
obter o contrato, parte do lucro dele na operação quitou o débito.
O procurador do Ministério Público Federal Diogo Castor afirma que não
se sabe ainda por que Ronan Pinto recebeu os R$ 6 milhões.
"É a grande
pergunta", afirmou em entrevista em Curitiba nesta sexta.
O empresário, que já tem condenação por corrupção (veja mais abaixo),
foi preso em Santo André, na Grande São Paulo, e será levado à
Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Ele é dono do jornal
"Diário do Grande ABC" e de empresas do setor de transporte e coleta de
lixo.
RESUMO DA 27ª FASE
A operação cumpriu 12 mandados judiciais e foi chamada de Carbono 14, porque remete a episódios antigos e não esclarecidos.
– Objetivo: descobrir os beneficiários do esquema investigado.
– Mandados judiciais: 2 de prisão, 2 de condução coercitiva e 8 de busca e apreensão.
– Presos temporários: Ronan Maria Pinto, empresário, e Silvio Pereira, ex-secretário geral do PT.
– Conduções coercitivas: Breno Altman, jornalista, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT.
– O que descobriu: Um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões obtido por José Carlos Bumlai no banco Schahin, em 2004, tinha como um dos beneficiários finais Ronan Maria Pinto, que recebeu R$ 6 milhões.
– O que falta apurar:
A razão do pagamento a Ronan Pinto;
Qual é a relação entre o repasse e o esquema de corrupção em Santo André;
Para onde foram os outros R$ 6 milhões do empréstimo.
Condenação anterior
Em novembro de 2015, Ronan foi condenado a 10 anos,
4 meses e 12 dias de prisão em regime fechado, além do pagamento de
multa, por concussão e corrupção ativa.
Ele foi acusado de participar de
um esquema de cobrança de propina de empresas de transportes
contratadas pela prefeitura de Santo André, entre 1999 e 2001.
O
empresário alegou inocência e recorre da sentença em liberdade.
O prefeito da cidade na época era Celso Daniel
(PT), que foi assassinado em 2002.
O Ministério Público de São Paulo
chegou a relacionar a morte dele ao esquema – o prefeito teria tentado
barrar a cobrança de propinas.
Mas, para a polícia, houve crime comum.
Mensalão e Lava Jato
Ao detalhar a operação, o procurador Diogo Castor afirmou que o
objetivo era entender o caminho do dinheiro.
Segundo ele, o esquema
investigado na Lava Jato era muito parecido com o que ocorria no
mensalão.
Empréstimos fraudulentos, que não eram pagos aos bancos, foram
usados para financiamento político.
"Não é o mesmo esquema, são
esquemas inter-relacionados", afirmou.
Os dois casos ocorreram na mesma época.
Alguns dos personagens, como o publicitário Marcos Valério, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares e o ex-secretário geral do PT, Silvio Pereira, estão envolvidos em ambos.
Preso na 27ª fase da Lava Jato, Silvio Pereira é apontado como
articulador do repasse de recursos a Ronan Pinto.
"Era a pessoa
encumbida de arquitetar o esquema que culminou com concessão do
empréstimo e com os repasses para o Ronan Maria Pinto.
O senhor Marcos
Valério fala que Silvio lhe procurou em meados de 2004 falando da
necessidade de operacionalização de outro pagamento em favor do
partido", afirmou Diogo Castor.
O nome de Marcos Valério aparece em um dos contratos de empréstimos que
serviu para ocultar a origem e destino dos R$ 6 milhões.
Alvo de alvo de condução coercitiva, Delúbio Soares foi citado como a pessoa que representou os interesses do PT junto ao Banco Schahin para obter os empréstimos fraudulentos, segundo os investigadores.
Segundo o MPF, o empréstimo obtido por José Carlos Bumlai saiu da sua
conta, foi para o frigorífico Bertin e, depois, foi repassado para os
beneficiários finais.
Pelo menos R$ 6 milhões saíram do frigorífico e foram para uma empresa
do Rio Janeiro, Remar Assessoria.
A empresa de Marcos Valério, S2,
assinou um contrato falso de R$ 6 milhões com a Remar, para justificar
outras transferências.
Foram repassados R$ 5,7 milhões para a Expresso Nova Santo André,
empresa de Ronan Pinto, além de fornecedores e uma pessoa que vendeu a
ele ações do jornal "Diário do Grande ABC".
Outros R$ 300 mil foram
pagos como "comissão" para outras pessoas envolvidas.
O MPF afirma que o jornalista Breno Altman, um dos conduzidos
coercitivamente para depoimento nesta sexta, foi citado por Marcos
Valério como "ponte de ligação" entre o PT e Ronan Pinto.
"Breno tem uma
ligação forte com Partido dos Trabalhadores", afirma o procurador Diogo
Castor.
Segundo ele, o jornalista pagou pelas multas que Enivaldo
Quadrado, sócio da corretora Bônus Banval, levou no processo do
mensalão.
Quadrado foi acusado de repassar dinheiro das agências de
Marcos Valério para parlamentares do PP.
Quem é quem
Empresário Ronan Maria Pinto (imagem de arquivo) (Foto: Reprodução/Jornal Hoje)
Ronan Maria Pinto
Empresário do ABC que atua no setor de transporte e coleta de lixo e é
dono do jornal Diário do Grande ABC.
Em 2015 foi condenado a 10 anos e 4
meses de prisão por ter participado de um esquema de corrupção no setor
de transportes na prefeitura de Santo André entre 1999 e 2001.
O nome dele também apareceu nas investigações da Lava Jato depois da prisão do pecuarista José Carlos Bumlai.
O ex-secretário do PT, Silvio Pereira (Foto: Eraldo Peres/AP) Silvio Pereira, o Silvinho
Se envolveu no mensalão do PT ligado ao ex-ministro da Casa CivilJosé
Dirceu.
O secretário-geral do partido chamou a atenção pela primeira
vez, em 2005, com a revelação de que havia recebido de presente uma Land
Rover da empresa GDK, fornecedora da Petrobrás.
Logo em seguida, ele pediu para se desfiliar do PT e anunciou que
abandonaria a política.
Antes de ser julgado, fez um acordo para prestar
serviços comunitários e não ser preso.
O nome dele voltou a aparecer agora, nas investigações da Lava Jato.
O
empresário Fernando Moura chegou a ser preso na operação e aceitou
fazer delação premiada.
Disse que uma vez pegou R$ 600 mil em dinheiro
na casa de Silvinho.
Segundo Moura, a quantia tinha sido entregue por
uma fornecedora da Petrobrás.
Em outro depoimento, Moura disse que o ex-secretário-geral do PT
recebia "um cala boca" de dois empreiteiros para não falar o que sabia
sobre o esquema.
Delúbio Soares (Foto: Natalia Godoy / G1) Delúbio Soares
Era tesoureiro do PT e foi condenado a 6 anos e 8 meses de prisão por
corrupção ativa no caso do mensalão.
Foi preso em 2013 e em 2014 foi
autorizado a cumprir pena em prisão domiciliar.
No fim do ano passado, o
Supremo Tribunal Federal concedeu a ele o perdão da pena.
Breno Altman
É um jornalista ligado ao PT e ao ex-ministro José Dirceu.
O nome dele
já havia sido citado no esquema do Mensalão pela contadora Meire Poza.
A
Polícia Federal disse que Altman é o elo entre o PT e Ronan Maria
Pinto.
Ela disse em depoimento que recebeu do jornalista R$ 45 mil em três
parcelas para que fosse feito o pagamento da multa de um dos condenados
por lavagem de dinheiro no esquema do Mensalão, Enivaldo Quadrado, sócio
da corretora Bônus Banval.