GISELLE PAULO (TEXTO E FOTOS) COM HAROLDO CASTRO
Escondido nos confins do leste Asiático, nos pés dos Himalaias, onde Tibete, China e sudeste da Ásia fazem fronteira, vive uma das minorias étnicas mais instigantes da região, os Naxis.
É um povo que, devido à
dificuldade de acesso à região, ficou completamente isolado do mundo
moderno até meados do século XX.
Ao lado da minoria Bai e dos tibetanos, os Naxis foram grandes comerciantes que circulavam por perigosas rotas que iam à Lhasa, no Tibete, e à Índia.
Embora a Revolução Cultural tenha destruído quase toda sua história, boa parte dos 250 mil Naxis ainda existentes vive na província de Yunnan, no sul da China.
Lijiang foi uma das principais cidades Naxis e hoje atrai visitantes que querem conhecer essa cultura.
Na visão Naxi, o mundo seria povoado por espíritos de diferentes formas capazes de prejudicar ou beneficiar os homens.
Árvores, montanhas, riose lagos possuem alma própria.
O Dongba, espécie de sacerdote médium, é central na cultura Naxi e é o responsável por estabelecer a ligação entre o cotidiano e o mundo divino.
Um aspecto encantador dos Naxis é que, em sua mitologia, o ser humano e a natureza são meio-irmãos, filhos de uma mesma mãe, mas depais diferentes.
Por isso, os Naxis levam a sério a ideia de que é preciso viverem harmonia com o mundo natural, representado pela figura de uma serpente com cabeça de sapo chamada Shu.
Os Naxis reconhecem que, em suas atividades diárias, como a caça, a pesca ou a extração de madeira,o homem retira a riqueza de Shu.
Como gratidão, os Naxis dedicam inúmeras cerimônias religiosas à divindade e, em seus festivais, relembram que o homem deve controlar seu apetite para não extrair do meio ambiente mais do que ele poderia devolver.
Se uma comunidade abusa de Shu, alguém certamente ficará doente ou algo ruim acontecerá.
Em “ForgottenKingdon”, Peter Goullart, viajante russo que viveu em Lijiangnos anos 1940 durante quase uma década, descreve a tranquila vida nessa sociedade pitoresca cheia de superstições, na qual as mulheres comandavam o comércio e tomavam conta do dinheiro da família.
Os homens, conta Goullart, pediam autorização para suas esposas até para comprar um cigarro.
Mesmo se muito procurada por visitantes, Lijiang aindamantém o encanto de uma antiga cidade chinesa.
O cenário é mais pitoresco nos dias ensolarados, quando a montanha Jade Dragon Snow, sagrada para os Naxis,é vista de qualquer ponto da cidade.
Os Naxis acreditam que, no topo da montanha,havia um portal imaginário com acesso ao paraíso.
Por ali passariam todos aqueles que cometiam suicídio por amor, prática comum entre os jovens que se rebelavam contra os casamentos arranjados.
Entre outras lendas e mistérios, a montanha Jade DragonSnow abriga ervas medicinais raríssimas utilizadas no tratamento de inúmeras doenças.
Essas plantas foram descobertas por Dr. Ho, um herbalista Naxi de cerca de 100 anos de idade que vive na pequena Baisha, a 20 km de Lijiang.
Em sua casinha de madeira repleta de ervas, Dr. Ho parece um personagem de conto chinês.
Famoso por curar pessoas do mundo todo, o médico é capaz de se comunicar em seis idiomas.
Usando a técnica chinesa de medir o pulso, ele sabe exatamente o que acontece em todos os órgãos do corpo de uma pessoa.
Em seguida, indicauma receita que nunca falha.
“Ter uma vida pacata, comer de forma simples,sem muita carne, tomar chá de erva uma vez por dia e fazer o que gosta: esta é a melhor receita para uma vida saudável”, afirma Dr. Ho.
Ao me despedir, ele insiste: “Volte em dez anos para me fotografar novamente. Estarei aqui!”
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