Desde o verão passado, quando voltei a morar no Rio de Janeiro, eu andava pelas ruas internas de Ipanema olhando para cima, em busca de orquídeas floridas.
A ideia de escrever uma crônica sobre o assunto me perseguiu durante
quase um ano.
Um taxista chegou a afirmar que o movimento havia começado
com um porteiro orquidófilo; outro disse que uma competição informal
entre zeladores fomentara a reprodução das flores nos troncos das
árvores. Mas tudo isso é conversa de taxista!
Cheguei a uma história mais sensata – a que Bruno Pereira me contou, publicada na crônica da semana passada.
Comerciantes, moradores e zeladores dos prédios foram os que mantiveram a iniciativa viva depois que o primeiro plantio aconteceu, há quase cinco anos e meio, fruto de uma brilhante ideia para melhorar a imagem do bairro.
Também descobri que o coração de Ipanema fora batizado com um nome sedutor: Quadrilátero do Charme.
Imediatamente me dei conta que, para realizar minhas fotos, eu precisaria percorrer todas as 13 ruas e avenidas que conformam o tal do quadrilátero.
Não seria correto deixar nenhum trecho de fora.
Tomei coragem e, com um bloco na mão, percorri 8 km de calçadas no primeiro dia.
Assim como Bruno fizera em 2007, parei em todas as árvores que continham algum cacho branco, rosa, lilás ou amarelo e anotei o número do prédio e qual espécie de orquídea embelezava gratuitamente a rua.
Todos os quarteirões foram esquadrinhados e, no final, acabei com uma lista dos endereços das árvores mais decoradas, cujos troncos albergam dezenas de pés de orquídeas.
No início, não percorri os quarteirões entre a Aníbal de Mendonça e a Henrique Dumont, pois esta rua estava oficialmente fora do Quadrilátero do Charme.
Mas conhecendo a vizinhança, me dei conta que seria injusto não visitar a área.
Percorri mais 2 km no segundo dia e fiz uma dezena de novas descobertas, incluindo a árvore da Bia Lopes e a do zelador Manoel (ambas fotos publicadas na crônica anterior).
No total, identifiquei quase 100 árvores que valiam a pena serem fotografadas – e visitadas!
No terceiro dia, a chuvinha parou e o sol, mesmo tímido, saiu.
Aproveitei para fotografar cada uma das árvores selecionadas. Foram mais 10 km de caminhada no Quadrilátero do Charme, ampliado, incluindo agora a avenida Henrique Dumont.
Nesta época do ano (janeiro e fevereiro), a grande maioria das orquídeas floridas são do gênero Phalaenopsis.
Chamadas de orquídeas-borboleta, elas são originárias do sudeste asiático e vêm em todos os matizes de branco, rosa ou violeta.
As Oncidium, ou orquídea-chuva-de-ouro, nativas da América tropical, também são abundantes. Outras, como a Cattleya, das florestas da América Latina, não estão em floração.
Das mais de 100 espécies de Cattleya, cerca de 30 espécies são brasileiras.
Esta tarefa tão meticulosa trouxe resultados interessantes.
Para aqueles que, um dia, quiserem descobrir as orquídeas de Ipanema, aqui vão minhas conclusões:
• As ruas paralelas à praia e à lagoa – como a Redentor ou a Barão de Jaguaripe – são as que contêm maior número de orquídeas.
• As perpendiculares – como a Aníbal de Mendonça ou a Garcia d’Ávila –, ruas onde a primeira plantação foi realizada em 2007, possuem hoje uma densidade de orquídeas menor que as ruas paralelas.
• A avenida Vieira Souto, na orla, é a que possui menos orquídeas – certamente devido à maresia.
• A rua mais decorada com orquídeas é a Redentor.
A segunda colocada é a rua Barão de Jaguaripe.
Além do esplêndido espetáculo de ter observado milhares – sim, milhares – de orquídeas, uma boa surpresa foi encontrar, no bairro, outras árvores com frutas ou flores inusitadas.
Uma pitangueira (agora sem frutos) vive em frente da sorveteria Mil Frutas na Garcia d’Ávila.Conclusão: Ipanema é bem mais do que seus barzinhos badalados, não é mesmo?!
Boa descoberta.
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