O Fantástico teve acesso exclusivo aos depoimentos em vídeo dos suspeitos.
Eles deram detalhes daquela noite de terror.
Como imaginar que existe uma inimiga dentro de sua casa?
E ela é sua própria filha?
Anaflávia Gonçalves: Com certeza naquela hora sim, foram os corpos que foram colocados no carro sim.
Os corpos aos quais Anaflávia se refere com frieza são do pai e do irmão dela.
Anaflávia: Minha mãe é aquela: ‘Vamos beber, vamos zoar, falar besteira’.
Eu e meu pai não tínhamos uma relação muito próxima.
Dia 27 de janeiro.
O casal de empresários Romuyuki e Flaviana Gonçalves
e o filho, Juan, de 15 anos, foram mortos e, depois, queimados dentro
do carro da família na região do ABC.
A filha do casal Anaflávia e a namorada dela, Carina Ramos, foram
presas dois dias depois e acusadas pela polícia de participação no
crime.
As duas moravam juntas e a relação com a família de Anaflávia não
vinha bem.
Os atritos entre Anaflávia e a família aumentaram muito quando ela
ganhou um carro e a namorada transferiu o documento do veículo para o
próprio nome.
Segundo parentes, o pai de Anaflávia se revoltou porque
Carina demonstrava ter total domínio sobre sua filha.
Elas já apresentaram três versões do crime à polícia.
Na última
quarta-feira (5), as duas confessaram que fizeram um assalto à casa dos
pais de Anaflávia, mas negaram a autoria dos assassinatos.
Segundo a polícia, participaram também do crime: Guilherme Ramos da
Silva, Jonathan Fagundes Ramos e Juliano Oliveira Ramos Júnior.
Esses
dois últimos, primos de Carina.
Jonathan está foragido.
Carina e Anaflávia disseram que a intenção de roubar foi de Juliano.
Anaflávia: Falei que não, mas todo mundo chegou ao consenso que sim.
Carina Ramos: Era, a princípio, pra todo mundo entrar e roubar.
Por que Anaflávia decidiu se envolver num crime contra a própria
família?
Ela, Carina e os comparsas disseram que estavam sem dinheiro.
Como a loja de perfumes dos pais teve um bom faturamento no Natal, eles
decidiram invadir e roubar a casa.
Delegado: Você chegou a pensar que podia acontecer a morte dos seus pais ou seu irmão?
Anaflávia: Não porque eles sempre foram muito calmos.
Durante os 40 minutos em que foi interrogada, Anaflávia não se emocionou, não demonstrou arrependimento.
Não chorou.
Anaflávia e os comparsas entraram e saíram com o carro dela algumas
vezes do condomínio dos pais até que a rua ficasse vazia.
Lá fora, ela
ligou para o pai e esperou a chegada dele para entrarem juntos em casa.
Romuyuki só não sabia que no carro da filha já estavam três bandidos
escondidos.
Juliano conta como Anaflávia chegou em casa.
Juliano: Normal, abraçou o pai, deu um beijo no irmão.
Pouco depois, Anaflávia saiu com a desculpa de ir buscar Carina.
Voltou
com a namorada e os comparsas, ainda escondidos no carro.
O assalto vai
começar.
Carina:
Na hora que eu decidi entrar, o Juliano, o Guilherme e Jonathan vieram
atrás de mim com tudo, aí não teve jeito, entrou todo mundo de uma vez.
Delegado: Fingiram que renderam você?
Carina: Sim, fingiram.
Juliano: O pai tava na cozinha.
Tava fazendo frango pra ele comer.
Delegado: E o filho estava onde?
Juliano: O filho tava jogando videogame.
Delegado: Na sala mesmo?
Juliano: Na sala mesmo.
A Ana sentada do lado dele.
Delegado: E qual foi a reação da Ana?
Juliano: A Ana ficou em pânico.
Delegado: Ela fingiu ou ficou em pânico?
Juliano: Fingiu entrar em pânico por querer abraçar o menino.
Amarramos o moleque, amarramos o pai e subimos com o pai.
Guilherme comenta o comportamento do pai de Anaflávia.
Delegado: Machucou bastante o Romuyuki?
Guilherme: Machucou, porque tinha sangue.
Todo momento ele preocupado em não fazer nada com o filho dele.
Juliano: Eles estavam pedindo a senha do cofre e ele falava que não tinha a senha.
Segundo Guilherme e Juliano, foi neste momento que os planos mudaram.
Juliano: Carina falou pra nós que, pra esperar a mãe, tinha que matar um pelo menos.
Delegado: Por que isso?
Juliano: Porque ela queria a herança do pai.
Ela e a Ana.
Guilherme: Na hora ninguém me deu motivo, senhor.
Delegado: Mas você me disse que a reunião na casa da Carina era só pra roubar.
Juliano: Era só pra roubar.
Delegado: Na hora mudou?
Juliano:
Mudou.
A Carina mudou tudo.
Quando ela falou que tinha que matar o pai
ou o moleque pra mãe ver que não tava de brincadeira.
Ela queria a senha
de tudo.
Foi aonde a Ana ligou pra mãe dela: 'Você vai demorar'? 'Já
estou chegando'.
Delegado: A Anaflávia estava tomando cerveja?
E a Carina também?
Juliano: A Carina também.
Agora Juliano relata como foi a chegada de Flaviana, a mãe de Anaflávia.
Juliano: Ela olhou pra Carina.
Falou: ‘o que que tá acontecendo?’.
A Carina falou: ‘Já era.
Acabou pra você’.
Flaviana tinha a senha do cofre.
Juliano:
Pegamos a senha do cofre.
Não tinha dinheiro.
Só tinha dólar.
Tinha um
relógio.
Tinha corrente, mas o que ela falou pra nós, não tinha.
Que era
R$ 85 mil.
Segundo Juliano, Carina falou:
“Agora a gente vai ter que matar todo mundo”.
Juliano:
Porque ela conversou com a Ana lá embaixo.
Passou a senha.
Falou: ‘Ó, a
senha ‘nós tem’ tudo agora.
O que você vai querer?
Vai deixar vivo ou
vai matar por causa da herança?’.
Quando falou que tinha que matar todo
mundo mesmo, aí ela falou, ‘então mata, só que eu não quero ver’.
Delegado: Até do irmão dela, ela concordou?
Juliano: Todo mundo.
Segundo Juliano e Guilherme, Carina matou Romuyuki e Juan por asfixia.
Mas Carina e Anaflávia disseram que ficaram no andar de baixo da casa e
não viram os dois serem assassinados.
Guilherme fala da reação da mulher de Romuyuki.
Guilherme: Quando eu saí do quarto, seu Romuyuki estava morto.
Delegado: Qual foi a reação dessa moça?
Guilherme: Ela olhou pra mim com cara de desespero.
Eles deixaram o condomínio em dois carros.
Levaram os corpos do pai e do filho e Flaviana, ainda viva, no carro da família.
Surgiu então um impasse: para onde ir com as vítimas.
Ana explica friamente:
Anaflávia:
Eles falaram: ‘vai ser onde, no sertãozinho ou no montanhão?’.
No
montanhão.
Aí o Jonathan falou assim: 'Meu, vamos queimar o carro’.
A
Carina falou: tá louco, não vai queimar o carro, não precisa queimar o
carro’.
E como fariam isso?
Anaflávia: Eu fui no posto de gasolina com o Jonathan, ele abasteceu o carro, encheu um galão de gasolina.
Juliano conta que Flaviana foi morta numa estrada deserta, em São
Bernardo, antes de o carro ser incendiado com a família dentro.
Delegado: A senhora morreu lá?
Juliano: No local do carro pegando fogo.
A Carina resolveu matar ela.
Carina, porém, também nega ter matado Flaviana.
Jonathan se feriu ao colocar fogo no pai, na mãe e no irmão de Anaflávia.
Anaflávia:
Deu a explosão, ele se queimou inteiro e ele ficou todo queimado mesmo,
queimou cílios, queimou bigode, queimou bem o cabelo, o peito queimou, a
Carina tentado acalmar ele.
No dia seguinte ele ficou em casa deitado e
eu saí para o trabalho normalmente.
Segundo a polícia, Anaflávia, Carina e Juliano deram depoimentos
contraditórios.
Eles teriam mentido.
Essa seria uma tática de defesa
deles: negar os assassinatos para responder apenas pelo roubo, que tem
uma pena menor.
Só com uma reconstituição e quando eles forem colocados
frente a frente, a polícia vai saber qual a participação real de cada um
no crime.
Delegado: A Carina ou a Anaflávia decidiram voltar atrás quando vocês estavam roubando?
Juliano: Nenhuma das duas.
E pensar que era pra ser só a visita de uma filha numa segunda-feira qualquer.
COMENTÁRIO:
Mais uma Richthofen, sua namorada e comparsas, que matam os pais e o irmão por causa de herança
Valter Desiderio Barreto.
Barretos, São Paulo, 09 de fevereiro de 2020.