Este é o primeiro caso de união estável homossexual formalizada em prisão.
União foi em unidade em que estão presas Ana Jatobá e Elize Matsunaga.
As detentas trocam alianças em celebração realizada em
Tremembé (SP). (Foto: Reprodução/TV Vanguarda)
Duas presas formalizaram nesta sexta-feira (1), em Tremembé, no
interior de São Paulo, a primeira união homossexual estável dentro de
uma unidade prisional no Estado de São Paulo. As noivas, Marcela
Aparecida Almeida, de 29 anos, e Kelly Gislaine Ferreira, de 33 anos se
casaram no pátio de recreação da Penitenciária Santa Maria Eufrásia
Pelletier.
A unidade é a mesma que abriga presas envolvidas em crimes de grande
repercussão, como Suzane Von Richthofen, Ana Carolina Jatobá e Elize
Matsunaga. Elas não participaram do evento, que reuniu dezenas de
internas.
As duas detentas estavam juntas há mais de dois anos, e, inclusive já
dividiam a mesma cela. Assim que resolveram pela união estável, elas
procuraram a direção, que, as orientou a escrever uma carta para a juíza
Sueli Zeraik, da Vara de Execuções Criminais pedindo a permissão para a
cerimônia. A juíza respondeu a carta informando que não se opunha,
porém que não cabia a ela autorizar ou não, já que a lei permitia.
Diante da resposta, a direção do presidio pediu autorização para o
órgão do governo que administra os presídios na região do Vale do
Paraíba e Litoral Norte, que então cedeu a autorização. “É uma
escritura de união estável, onde elas vão comprovar uma convivência de
união, porém, não é um casamento e é uma comunhão parcial de bens, onde
tudo o que elas adquirirem, construírem juntas, uma com a outra têm
direito”, explicou a escrevente Adriana Aparecida Couto.
Marcela tem 29 anos, nasceu em Guaratinguetá. Ela está presa por
homicídio desde 2007, nos primeiros dois anos de prisão passou por
outras unidades e está desde 2009 na feminina de Tremembé. Kelly tem 33
anos, é natural de Campo Novo Paulista. Ela também está presa desde
2007 e também chegou na unidade de Tremembé em 2009. Ela cumpre pena por
crime de extorsão mediante sequestro.
Detentas pegam o tradicional buquê de flores.
(Foto: Reprodução/TV Vanguarda)
Festa
Mesmo dentro do presídio, elas tiveram uma preparação como manda a
tradição, com flores, enfeites, bolo, brinde e até o tradicional buquê.
Elas bancaram toda a festa, já que trabalham como costureiras e ganham
um salário mínimo, mas também contaram com a ajuda dos funcionários da
unidade para realizar a cerimônia.
“Toda essa mobilização foi feita através da equipe de reintegração
social. A psicóloga arrumou a cabeleireira, convidou a cabeleireira
dela, alguém fez o contato com a loja de aluguel de roupa, aí foi um
outro funcionário no intervalo de serviço, passou por lá, escolheu
alguns vestidos . Tudo muito mais difícil, mas no fim acabou dando
certo”, contou Eliana de Freitas Pereira, diretora da penitenciária.
José Mauricio Almeida, pai de Marcela, fez questão de estar presente
nesse momento especial para a filha. Além dele, os avós também estiveram
na celebração. “Nós estamos aqui para ajudar a mantê-la feliz, porque
na verdade, hoje é normal no mundo inteiro. Então, não seria diferente
para mim”, disse.
Após a confirmação da união estável, Marcela fez questão de falar sobre
os planos para a vida ao lado da companheira. “Terminar de cumprir
nossa pena, remir nossa pena trabalhando, ir embora, comprar nossa
casinha, montar nossa família e ser feliz”.
Presas cortam o bolo e comemoram a união estável na
unidade prisional. (Foto: Reprodução/TV Vanguarda)