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domingo, abril 28, 2019

Imperador Akihito abdica esta semana do trono do Japão; entenda a sucessão

O país tem a monarquia mais antiga do mundo ainda em vigor, com uma tradição de 2,6 mil anos. Não admite mulheres reinando, e teve que aprovar uma lei específica para que o imperador atual, de 85 anos, pudesse abdicar, o que ocorre pela 1ª vez em dois séculos; país tem feriado de dez dias com a mudança imperial.

 

Por Lara Pinheiro, G1

O imperador Akihito e a imperadora Michiko vão deixar o Trono de Crisântemo na próxima terça, 30 de abril. — Foto: Kazuhiro Nogi / POOL /AFP
O imperador Akihito e a imperadora Michiko vão deixar o Trono de Crisântemo na próxima terça, 30 de abril. — Foto: Kazuhiro Nogi / POOL /AFP
5 fatos sobre a sucessão imperial do Japão
5 fatos sobre a sucessão imperial do Japão.


Na próxima terça-feira (30), o imperador do Japão, Akihito, vai abdicar do trono. 



O país, que tem atualmente a monarquia mais longa do mundo — segundo registros oficiais da casa imperial, data de 2,6 mil anos atrás — terá a sua primeira abdicação em 202 anos. 



Popular, Akihito passará a ser conhecido como "imperador Heisei", o nome de sua era imperial, quando deixar o Trono de Crisântemo.

 


Ele anunciou sua abdicação há cerca de um ano e meio. 




A legislação do país, no entanto, não permitia que o imperador saísse do posto ainda em vida. 



Para tornar isso possível, uma lei específica, que só se aplica a este monarca, hoje com 85 anos, teve que ser aprovada. 


Para a japanóloga Carol Gluck, da Universidade Columbia, em Nova York, dois elementos chamam a atenção na saída do imperador: a mudança na legislação que permitiu a abdicação e visão da opinião pública do país sobre o imperador.
O imperador Akihito (na foto com a imperadora, Michiko), que está prestes a abdicar, é popular com a opinião pública japonesa. — Foto: Toshifumi Kitamura/AFP
O imperador Akihito (na foto com a imperadora, Michiko), que está prestes a abdicar, é popular com a opinião pública japonesa. — Foto: Toshifumi Kitamura/AFP.




“A Lei da Casa Imperial diz que o imperador reina até a morte — o que é uma questão política, você não pode simplesmente abdicar. 



Mas não havia outra opção a não ser aceitar. 



Eles não podiam simplesmente dizer que não iam deixá-lo abdicar", explica Carol. 



Para ela, o fato de o congresso do país ter aceitado modificar a lei por causa de Akihito serve para ratificar o quanto ele é bem visto pela opinião pública. 

"Ele é um imperador muito popular, muito benevolente.


Ele fez coisas que ninguém nunca fez, como pedir desculpas pelas atitudes japonesas durante a Segunda Guerra Mundial e dizer que a família imperial tem ancestrais coreanos.


Isso era impossível de ser dito antes", diz a especialista.

Em 2016, durante um raro pronunciamento na televisão, Akihito declarou "sentir restrições" na sua disposição física e temer que, no futuro, sua saúde não fosse permitir que cumprisse seus deveres "da melhor forma para o povo e o país". 



O imperador passou por uma cirurgia do coração em 2012 e, dez anos antes, tinha sido tratado de um câncer de próstata.
O imperador Akihito, com vestimenta cerimonial completa, antes de ser entronado em Tóquio. Ele reina desde 1989. — Foto: Handout / IMPERIAL HOUSEHOLD AGENCY / AFP 
O imperador Akihito, com vestimenta cerimonial completa, antes de ser entronado em Tóquio. Ele reina desde 1989. — Foto: Handout / IMPERIAL HOUSEHOLD AGENCY / AFP.


No Japão, o imperador não governa — ele é o símbolo do Estado, conforme prevê a Constituição do país, em vigor desde 1947. 



O texto foi imposto aos japoneses pelos americanos durante a ocupação pós-Segunda Guerra.



Mesmo antes disso, na maior parte da história do país, o monarca reinava, mas não governava. 



Segundo a mitologia japonesa, os primeiros imperadores, de mais de 2 mil anos atrás, eram descendentes diretos dos deuses do Sol. 



Apesar de constarem no registro da casa imperial, não há comprovação de que eles, de fato, existiram.
A monarquia japonesa tem 2 mil anos. — Foto: Diana Yukari/Arte G1

A monarquia japonesa tem 2 mil anos. — Foto: Diana Yukari/Arte G1
Até 1868, o Japão ainda era um país feudal, governado pelos samurais. 



Com a ameaça de imperialismo do Ocidente e a necessidade de modernizar e centralizar o Estado, no entanto, o sistema foi abolido. 



Começou, então, a era Meiji — e, com ela, a figura do imperador ganhou um novo papel: de unificação nacional.



A era Meiji marcou uma grande modernização do país, com crescimento econômico e criação de empresas como a Mitsubishi, a Sumitomo e a Yasuda. 
 

Reinado pacífico.

O casal imperial passeia em uma praia perto de Hayama, na prefeitura (região administrativa japonesa) de Kanagawa, em janeiro. — Foto: Kazuhiro NOGI / AFP
O casal imperial passeia em uma praia perto de Hayama, na prefeitura (região administrativa japonesa) de Kanagawa, em janeiro. — Foto: Kazuhiro NOGI / AFP.




Diferente da era do pai, Hirohito — cujo longo reinado (1926-1989) foi marcado pela 1ª e 2ª Guerras Mundiais e a 2ª Guerra Sino-Japonesa (1937-45) —, a era de Akihito foi um período de paz para o Japão. 

No entanto, o reinado, que começou em 1989, foi marcado pela transição pós-Guerra Fria, estagnação econômica e vários desastres naturais, como o terremoto de Kobe, em 1995, e o acidente nuclear de Fukushima, em 2011. 

 
Essas ocasiões foram, inclusive, momentos em que o imperador “fez de tudo” para mostrar que era um símbolo do povo japonês, avalia o professor Masato Ninomiya, da Faculdade de Direito da USP. 

“A era dele foi uma em que, pela pela primeira vez em 150 anos, o Japão não teve guerras.


Mas houve diversas catástrofes naturais — terremotos, tsunamis, acidente nuclear.


Tudo o que o Japão podia experimentar de ruim aconteceu nesses 31 anos.


E toda vez ele foi lá confortar o povo — as pessoas se ajoelhavam e eles conversavam olhando um no rosto do outro”, comenta Masato.
O imperador Akihito se ajoelha para falar com pessoas desabrigadas pela tragédia em Fukushima, em 2011. O gesto foi visto como "um grande símbolo de compaixão com o sofrimento daquelas pessoas", segundo a BBC. — Foto: Hiro Komae/AFP
O imperador Akihito se ajoelha para falar com pessoas desabrigadas pela tragédia em Fukushima, em 2011. 



O gesto foi visto como "um grande símbolo de compaixão com o sofrimento daquelas pessoas", segundo a BBC. — Foto: Hiro Komae/AFP.


Um mês depois do terremoto e tsunami que provocaram o desastre nuclear em Fukushima, Akihito e a imperadora, Michiko, foram vistos se ajoelhando junto às pessoas desabrigadas — o que foi visto "como um grande símbolo de compaixão com o sofrimento daquelas pessoas".



O gesto de Akihito, de fato, quebrou com tradições imperiais japonesas. Até o fim da Segunda Guerra Mundial, a figura do imperador do Japão era divina. 



O próprio pai de Akihito, o imperador Hirohito, renunciou a essa divindade. 



No entanto, nunca foi tão próximo do povo quanto o filho: ainda esperava que as pessoas se curvassem diante dele.
O imperador Akihito O imperador Akihito se ajoelha para falar com sobreviventes do tsunami em Fukushima, em 2011. O gesto foi visto como "um grande símbolo de compaixão com o sofrimento daquelas pessoas", segundo a BBC. — Foto: Toshifumi Kitamura / AFP
O imperador Akihito se ajoelha para falar com sobreviventes do tsunami em Fukushima, em 2011. 




O gesto foi visto como "um grande símbolo de compaixão com o sofrimento daquelas pessoas", segundo a BBC. — Foto: Toshifumi Kitamura / AFP.


Além de se aproximar das pessoas comuns, Akihito também foi o primeiro imperador japonês, a se casar com uma mulher de fora da realeza. 

  
Em 2015, ele também expressou "remorso profundo" sobre a 2.ª Guerra Mundial, durante um pronunciamento que marcou o aniversário de 70 anos do fim do conflito. 


"Refletindo sobre o nosso passado e tendo em mente os sentimentos de profundo remorso na última guerra, espero fervorosamente que os estragos da guerra nunca se repitam. 



Presto sincero tributo a todos aqueles que perderam suas vidas na guerra, tanto nos campos de batalha como em outros lugares, e rezo pela paz mundial e pelo contínuo desenvolvimento de nosso país", declarou.
Imperador japonês, Akihito, e a imperadora, Michiko, prestaram homenagem nesta terça-feira (27) às vítimas da Segunda Guerra Mundial em Okinawa  — Foto: Kyodo/via Reuters Imperador japonês, Akihito, e a imperadora, Michiko, prestaram homenagem nesta terça-feira (27) às vítimas da Segunda Guerra Mundial em Okinawa — Foto: Kyodo/via Reuters.


Para a especialista de Columbia, o pacifismo de Akihito tem origem clara. 



"Ele foi criado durante a 2ª Guerra Mundial — tem uma missão de paz desde o momento em que era um jovem rapaz. 



Não é coincidência que ele veja o mundo do jeito que vê", afirma. 


Logo depois da guerra, os americanos, ocupando o Japão, tinham dúvidas se deveriam manter a figura do imperador, explica Leonardo Correia, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo cuja dissertação de mestrado é sobre a economia japonesa. 

“Eles viram que o papel do imperador tinha um vínculo forte com a população.


O casal imperial fez um grande papel de relações públicas — tanto no contexto internacional quanto dentro do Japão.


Na Ásia, foi muito relevante no sentido de vender o Japão pacifista”, avalia Leonardo.

O curioso é que o papel do imperador pacifista foi exercido, à época, pelo mesmo monarca que reinou no país durante a guerra: Hirohito.
O jovem príncipe Akihito (dir.) lê o jornal ao lado de seu pai, o imperador Hirohito, e da mãe, a imperatriz Kojun, em foto da década de 1950. Akihito foi entronado o 125º imperador do Japão em 1989, após a morte de seu pai — Foto: AFP/Intercontinentale/Arquivo
O jovem príncipe Akihito (dir.) lê o jornal ao lado de seu pai, o imperador Hirohito, e da mãe, a imperatriz Kojun, em foto da década de 1950. Akihito foi entronado o 125º imperador do Japão em 1989, após a morte de seu pai — Foto: AFP/Intercontinentale/Arquivo.




“É o mesmo homem — e é estranho, se você pensar nisso. 



A mesma pessoa que era o imperador da guerra agora é o da paz. 



De certa forma, o imperador é uma criatura do seu tempo em um grau muito maior do que imaginamos”, explica Carol Gluck. 



Hirohito apoiou a guerra, diz ela, encorajando os japoneses a continuarem lutando na batalha de Okinawa, por exemplo. 




Foi só no final do conflito que ele mudou de posição no sentido da rendição. 

Uma nova era.

O imperador Akihito (à direita) acena para admiradores durante a aparição pública de Ano Novo, no dia 2 de janeiro. O príncipe Naruhito, que aparece à esquerda na foto, assume o trono no dia 1º de maio, dando início à nova era imperial - a Reiwa. — Foto: Eugene Hoshiko/AP
O imperador Akihito (à direita) acena para admiradores durante a aparição pública de Ano Novo, no dia 2 de janeiro. O príncipe Naruhito, que aparece à esquerda na foto, assume o trono no dia 1º de maio, dando início à nova era imperial - a Reiwa. — Foto: Eugene Hoshiko/AP.

Depois que Akihito abdicar, quem sobe ao Trono de Crisântemo é o filho dele, Naruhito — que deve manter o mesmo tom conciliador do pai, explica Jonathan Portela, mestre em história contemporânea pela Universidade Federal de São Paulo. 
“Naruhito deve manter o discurso de diálogo.


Ele é de evitar polêmicas.


Sempre se dedicou mais ao campo acadêmico, é pesquisador, se dedica a palestras, aulas na universidade.


Para o mercado japonês, é excelente.


Não poderiam querer melhor — ele não deve entrar muito em conflito com o primeiro-ministro”, avalia Jonathan.
A princesa Masako acena durante desfile a caminho do Palácio Imperial após seu casamento com o príncipe herdeiro Naruhito, em 9 de junho de 1993 — Foto: Reuters/John Pryke
A princesa Masako acena durante desfile a caminho do Palácio Imperial após seu casamento com o príncipe herdeiro Naruhito, em 9 de junho de 1993 — Foto: Reuters/John Pryke.


O próximo monarca tem outro fator em comum com o pai: a esposa dele, a princesa Masako, também é uma mulher que veio de fora da realeza. 



A futura imperadora estudou em uma faculdade afiliada à Universidade Harvard e em Oxford, e é fluente em inglês e francês. 



Quando aceitou o pedido de casamento de Naruhito, teve que desistir de uma carreira na diplomacia — para a qual tinha acabado de ser aprovada.




As credenciais acadêmicas são, aliás, outro fator em comum que a nova monarca terá com a antiga. 



A atual imperadora, Michiko, também fez cursos em Harvard e Oxford.
Akihito e a imperadora, Michiko, no Palácio Imperial em Tóquio, em abril de 2019. — Foto: Jiji Press/AFP
Akihito e a imperadora, Michiko, no Palácio Imperial em Tóquio, em abril de 2019. — Foto: Jiji Press/AFP.


Por um longo período, Masako ficou sem aparecer em público por transtornos mentais relacionados a estresse, conforme descrito pela casa imperial. 

“É difícil ser uma mulher plebeia entrando na família imperial. 



Respeito muito a maneira como esses homens tentaram proteger suas esposas, mesmo que não pudessem. 


A princesa herdeira está à beira de um colapso nervoso há muito tempo, mais de 20 anos”, pondera Carol.
O príncipe Naruhito, a princesa Masako e a filha do casal, a princesa Aiko, em uma foto de 2002. Pela lei imperial japonesa, Aiko, por ser menina, não pode ascender ao trono. — Foto: Yoshikazu Tsuno/AFP
O príncipe Naruhito, a princesa Masako e a filha do casal, a princesa Aiko, em uma foto de 2002. Pela lei imperial japonesa, Aiko, por ser menina, não pode ascender ao trono. — Foto: Yoshikazu Tsuno/AFP.


O próprio príncipe Naruhito chegou a comentar sobre as dificuldades de adaptação da esposa à vida imperial.



“A princesa ficou muito aflita por não ter permissão para fazer visitas ao exterior por um longo tempo. 



Ela trabalhou duro para se adaptar ao ambiente da Casa Imperial nos últimos 10 anos, mas, pelo que vejo, acho que ela se exauriu completamente ao tentar fazê-lo”, afirmou o príncipe, em 2004, segundo a agência de notícias da Casa Imperial do Japão. 

E depois?

O príncipe Hisahito, de 12 anos, com os pais, o príncipe Akishino e a princesa Kiko, depois da cerimônia de formatura da escola primária, em Tóquio, neste ano. Ele deverá suceder o tio, Naruhito, como imperador do Japão. — Foto: Eugene Hoshiko / POOL / AFP
O príncipe Hisahito, de 12 anos, com os pais, o príncipe Akishino e a princesa Kiko, depois da cerimônia de formatura da escola primária, em Tóquio, neste ano. 



Ele deverá suceder o tio, Naruhito, como imperador do Japão. — Foto: Eugene Hoshiko / POOL / AFP.

A lei japonesa dita que só homens podem se tornar imperadores. 



Há um detalhe, entretanto: o próximo monarca, Naruhito, tem uma filha. 



Isso produziu um grande debate no país para mudar a lei imperial e permitir que uma mulher chegasse ao trono. 



Mas os japoneses conservadores resistiram à ideia. 


“Eles mudaram a lei, mas não desse jeito — tornaram possível ao sobrinho do imperador, Hisahito, se tornar o próximo imperador. 


A sucessão permanece masculina, mas não precisa ser direta. 


Nos tempos antigos, eles nunca tinham descendentes diretos como imperadores, dependentes de uma linhagem sanguínea. 



A mudança só aconteceu a partir de 1868, com o sistema imperial moderno — que foi inspirado na monarquia europeia”, explica.
A princesa Aiko, filha do príncipe Naruhito, de 17 anos. Por ser menina, Aiko não pode se tornar imperadora. — Foto: AFP PHOTO / FILES / IMPERIAL HOUSEHOLD AGENCY
A princesa Aiko, filha do príncipe Naruhito, de 17 anos. Por ser menina, Aiko não pode se tornar imperadora. — Foto: AFP PHOTO / FILES / IMPERIAL HOUSEHOLD AGENCY.




Desde então, o país passou por quatro eras imperiais, cujos nomes mudam a cada vez que um novo monarca chega ao trono. 



Antes de 1868, podiam mudar com maior frequência, como, por exemplo, depois de grandes desastres. 


O reinado de Naruhito se chamará Reiwa, uma junção das palavras "ordem" e "harmonia". 



Com exceção do nome Meiji, no entanto — que foi escolhido “muito cerimoniosamente”, segundo Carol Gluck — eles têm significados vazios. 
O Palácio Imperial do Japão ficava, até 1868, em Kyoto, que era a capital imperial. Com o advento da era Meiji, Tóquio voltou a ser capital imperial. — Foto: Diana Yukari/Arte G1
O Palácio Imperial do Japão ficava, até 1868, em Kyoto, que era a capital imperial. Com o advento da era Meiji, Tóquio voltou a ser capital imperial. — Foto: Diana Yukari/Arte G1.


“A diferença é que, desta vez [na era Reiwa], eles retiraram os caracteres da coleção mais antiga de poesias japonesas — apesar de a parte da qual eles tiraram estar escrita, na verdade, em chinês. 



(...) Para a maioria das pessoas, isso só significa camisetas novas, material de papelaria novo, carimbos novos”, avalia a especialista. 


O novo nome pode ter um significado vazio, mas a troca de imperador deu ao Japão dez dias de feriado: creches, hospitais, bancos e outros empreendimentos ficarão fechados até o dia 6 de maio.
Bonecos tradicionais japoneses mostram o chefe de gabinete japonês, Yoshihide Suga (à esquerda), e o primeiro-ministro, Shizo Abe,  segurando uma placa com o nome da nova era imperial japonesa, Reiwa, revelado no dia 1º de abril. — Foto: AP Photo/Eugene Hoshiko
Bonecos tradicionais japoneses mostram o chefe de gabinete japonês, Yoshihide Suga (à esquerda), e o primeiro-ministro, Shizo Abe, segurando uma placa com o nome da nova era imperial japonesa, Reiwa, revelado no dia 1º de abril. — Foto: AP Photo/Eugene Hoshiko.

sexta-feira, abril 26, 2019

ONU inclui Nordeste brasileiro em estudo sobre ‘Territórios esquecidos e invisíveis’ da América Latina e Caribe


Por Amelia Gonzalez
Escreve sobre sustentabilidade e debate temas ligados a economia, meio ambiente e sociedade.




O Nordeste brasileiro foi citado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), como exemplo de local que sofre com a persistência da fome e da pobreza, “apesar dos avanços econômicos e sociais do Brasil”. 

A região está entre os “territórios esquecidos” dentro de países da América Latina e Caribe, estratégia lançada pela agência da ONU nesta terça-feira (23), visando a combater a miséria e a desnutrição em lugares críticos de países latino-americanos e caribenhos


Há municípios que apresentam o mesmo perfil em países como Colômbia, Peru e República Dominicana. 

“Mesmo em países exitosos, há territórios que estão ficando para trás: o Brasil experimentou um avanço gigantesco, mas aí está o Nordeste. 


No Chile, a Araucanía. 


São territórios invisíveis, aos quais estamos levando soluções erradas”, afirmou o representante regional da FAO, Julio Berdegué durante ao lançamento da estratégia que se chama “Os 100 Territórios Livres da Pobreza e da Fome”. 

Pesquisa feita pela FAO em parceria com a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e Caribe (Cepal) identificou, em 14 países da região, cerca de dois mil municípios onde mais de 40 milhões de pessoas vivem em condições de extrema pobreza e insegurança alimentar. 


Metade dessas pessoas (20,9 milhões) mora no campo. 


A outra metade está nas cidades e cidades pequenas. 


Quase uma em cada cinco é indígena ou afrodescendente. 


O levantamento também mostra que 20% dessas famílias são chefiadas por mulheres. 


Dependendo do país, a população desses territórios esquecidos representa de 4% a 16% da população nacional. 

“Quase não há acesso à tecnologia e infraestrutura para produzir com mais eficiência, agregar valor aos produtos agrícolas e especializar-se em serviços não agrícolas nesses locais”, diz o estudo da FAO. 

São lugares congelados no tempo, aonde não chega nem mesmo parte dos símbolos de desenvolvimento que nos envolvem. 


Mesmo que este desenvolvimento também seja questionável porque nem sempre oferece, verdadeiramente, uma melhor qualidade de vida. 


O resultado da pesquisa da FAO é o exemplo ilustrado da desigualdade que deixa o Brasil numa das primeiras posições num ranking dos mais desiguais do mundo. 

Recentemente, a Oxfam, organização internacional que se dedica a estudar a desigualdade no mundo, publicou uma pesquisa em que fica claro que os brasileiros já perceberam que, para se chegar a um progresso verdadeiro, é preciso que haja distribuição da riqueza

O cuidado é para que esta atual fase em que vivemos no Brasil - que tende a involucrar os estudos que mostram realidades difíceis como esta num nicho de “esquerda mal humorada” – não desanime a opinião pública de fazer contato com esta notícia. 


Com a estratégia que acaba de lançar, a FAO, pretende “trabalhar com governos para identificar locais que exijam as intervenções mais urgentes”, segundo texto publicado no site da instituição. 


A ideia é criar soluções específicas para cada contexto.

“Com um horizonte de dez anos, o projeto “100 Territórios” prevê o estabelecimento de uma coalizão de atores dos estados, sociedade civil, setor privado, academia e cooperação internacional. 


O objetivo dessa aliança será dar reconhecimento político real para esses ‘lugares esquecidos’”.

Tornando visíveis tais lugares, a agência da ONU espera que surjam práticas inovadoras, ideias, sugestões, até então timidamente escondidas, para ampliar as oportunidades econômicas dos moradores dessas regiões. 


A proposta é dar transparência às políticas públicas locais, regulamentar o mercado. 


Mas a estratégia “100 Territórios” também prevê que os habitantes desses locais possam ter acesso ao mercado de trabalho, aumentar sua participação nas esferas sociais, possibilitar que eles comecem a ser vistos com respeito. 


Até porque, como se sabe, viver em locais esquecidos, e continuar vivendo mesmo num sistema excludente como o nosso, dá ao humano uma resiliência digna de respeito. 

Neste sentido, lembro-me da entrevista que fiz com o agricultor agroflorestal Vilmar Lermen , da Serra dos Paus-Dóias, na Chapada do Araripe, no semiárido brasileiro.


Não sei se a região está sob o foco da FAO neste recente estudo, mas estou certa de que é um lugar que se impõe e merece um tributo pela forma como as pessoas de lá conseguem lidar com a seca, plantar e colher sem auxílio dos agrotóxicos.


Um dos ensinamentos de Vilmar Lermen, que merece ser ouvido com atenção por quem quiser chegar perto para ajudar, é que o importante não é livrar as pessoas de uma rotina que elas já conhecem e com a qual conseguem se adaptar. 


O que precisa, naquela região e em muitas outras, é ajudar, com tecnologias e recursos que se adaptem, não que queiram desconstruir. 

“ O que mais se faz são políticas de combate à seca, não de convivência com o semiárido”, disse-me Lermen. 

Para identificar as áreas mais vulneráveis e que precisam de ajuda, a FAO não considerou apenas fatores como a pobreza e a fome, mas também fenômenos migratórios que levam milhares de famílias a fugir de suas comunidades. 


A agência da ONU avaliou ainda o impacto das mudanças climáticas e das economias ilegais, que agravam a pobreza, a fome e a migração.

“Milhares de camponeses migraram nas últimas décadas das montanhas de Guerrero, no México, mas isso não impediu que muitos milhares permanecessem lá, cultivando a papoula com a qual se produz a heroína”, completou Berdegué, dando assim um exemplo do comércio ilegal ao qual se refere. 

O déficit do estado, da cidadania e do mercado é o responsável maior pela manutenção deste cenário, segundo avaliação dos pesquisadores da FAO. 


E se continuar assim, os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), aposta das Nações Unidas para provocar a mudança necessária em prol de um mundo mais igualitário e justo, não vão ser atingidos em 2030, como é a meta. 

É hora, mais do que nunca, de ouvir aqueles que conseguem viver com tantas privações e se unir a eles. Não para desconstruir, mas para estar junto e ajudar no que for preciso.

Alimentos vencidos que seriam usados em merenda escolar na Ilha do Marajó são apreendidos




Ministério Público do Pará (MPPA) recebeu denúncia que que escolas públicas na zona rural pretendia usar alimentos vencidos e impróprios na merenda e pediu fiscalização, que constatou o crime. 

 

 

Por G1 PA — Belém
Centenas de produtos fora do prazo de validade iam ser servidos para alunos da rede pública da Ilha do Marajó. — Foto: Divulgação / MPPA
Centenas de produtos fora do prazo de validade iam ser servidos para alunos da rede pública da Ilha do Marajó. — Foto: Divulgação / MPPA
Arroz, suco, bolacha, macarrão, feijoada, leite em pó e muito mais. 


Todos alimentos vencidos que teriam sido usados na merenda escolar de crianças de escolas localizadas na zona rural da cidade de Breves, localizada na Ilha do Marajó no Pará. 


O material foi apreendido após denúncias feiras via redes sociais. 

Ao receber as imagens, o Ministério Público do Pará (MPPA) pediu que a Vigilância Sanitária realizasse fiscalizações na área e os agente constataram que vários produtos estavam fora do prazo de validade e outros teriam estragado devido ao mau armazenamento. 

O resultado da fiscalização foi divulgado pelo MPPA nesta sexta-feira (26). 


Foram apreendidos: 2 mil quilos de arroz; 522 garrafas de suco artificial de caju, goiaba e abacaxi, 32 pacotes de bolachas, 36 pacotes de macarrão, 20 latas de feijoada, 105 latas de almôndegas, 109 latas de sardinha, 18 latas de salsicha, 211 garrafas de óleo de soja, 38 pacotes de leite em pó, 32 vidros de leite de coco, 200 unidades de roscas de trigo, 12 potes de margarina e 4,5 quilos de charque. 


Todos impróprios para o consumo e armazenados no Departamento de Alimentação Escolar. 

Além de vencidos, os alimentos estavam guardados em local impróprio. 


Um ambiente sujo, úmido, quente, escuro e com instalações físicas precárias. 


Além disso, não possuía alvará de funcionamento expedido pela Vigilância Sanitária de Breves. 

A Vigilância Sanitária deverá encaminhar ao Ministério Público os laudos de apreensão e inutilização dos alimentos vencidos e avariados e as amostra coletadas devem passar por perícia técnica e encaminhadas à Polícia Civil para subsidiar medidas criminais ou administrativas contra os responsáveis. 

O G1 pediu esclarecimentos à Prefeitura e à Secretaria Municipal de Educação de Breves, mas até o momento não obteve respostas.
Sucos, leite, óleo, bolacha e arroz estragados foram apreendidos pela Vigilância Sanitária. — Foto: Divulgação / MPPA Sucos, leite, óleo, bolacha e arroz estragados foram apreendidos pela Vigilância Sanitária. — Foto: Divulgação / MPPA.

Brasil liderou desmatamento de florestas primárias no mundo em 2018, mostra relatório

Só no Brasil, 1,3 milhão de hectares de florestas primárias – que nunca haviam sofrido interferência humana – desapareceram no ano passado.

 

 

Por BBC
Cenas de desmatamento no interior de Alagoas — Foto: Jonathan Lins/FPI do São Francisco
Cenas de desmatamento no interior de Alagoas — Foto: Jonathan Lins/FPI do São Francisco.

Cerca de 12 milhões de hectares de florestas tropicais desapareceram em 2018, o equivalente a 30 campos de futebol por minuto. 


Só no Brasil, foram desmatados 1,3 milhão de hectares de florestas - é o país que mais perdeu árvores no ano passado. 

Os dados de 2018 são do Global Forest Watch, atualizado pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. 


O levantamento mostra o complexo retrato do desmatamento em áreas densas de florestas tropiciais - da Amazônia, na América do Sul, a África e Indonésia. 

A maior preocupação apontada pelo relatório diz respeito à destruição continuada das florestas primárias, como são chamadas as áreas com as árvores mais antigas e que não são fruto de replantio.

De acordo com o relatório do Global Forest Watch, uma área de florestas primárias equivalente ao tamanho da Bélgica foi destruída em 2018.
Brasil liderou desmatamento de florestas primárias no mundo em 2018, mostra relatório — Foto: BBC
Brasil liderou desmatamento de florestas primárias no mundo em 2018, mostra relatório — Foto: BBC.

Brasil é o país com mais desmatamento.

 

Brasil e Indonésia foram responsáveis por 46% do desmatamento de florestas tropicais no mundo em 2018. 


O percentual é bem menor que o revelado pelo relatório de 2002, que mostrou que só esses dois países foram responsáveis por 71% das perdas de árvores tropiciais. 

Mas o grande mérito na redução não é do Brasil, e sim da Indonésia, onde a perda de floresta primária foi 40% menor no ano passado que a taxa média entre 2002 e 2016.


O Brasil vivenciou uma queda significativa no desmatamento entre 2007 e 2015, de cerca de 70%. 


Mas incêndios - muitos deles provocados intencionalmente - provocaram grande aumento entre 2016 e 2017. 

A área de floresta primária destruída no Brasil em 2018 – 1,3 milhões de hectares - foi menor que em 2017. 


Mas ainda assim está acima da média histórica do país. 

"Pode parecer tentador comemorar essa queda nos últimos dois anos, mas quando observamos os últimos 18 anos, fica claro que a tendência é de alta no desmatamento. 


Estamos longe de vencer essa batalha", diz Frances Seymour, do World Resources Institute, que administra o Global Forest Watch. 

Na Amazônia, especificamente, o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) registrou, entre agosto de 2017 e julho de 2018, aumento no desmatamento de 13,7% em relação aos 12 meses anteriores - o pior resultado em 10 anos. 

O Global Forest Wacth destaca que várias áreas de florestas desmatadas em 2018 ficam próximas ou dentro de territórios indígenas. 


A reserva Ituna Itata, que abriga índios isolados, perdeu mais de 4 mil hectares em decorrência de exploração ilegal de madeira. 

Por que os novos dados da Global Forest Watch são relevantes?

 

Florestas primárias, como mencionado antes, são aquelas que se encontram em seu estado original, que não foram afetadas pela ação humana. 


Algumas das árvores nessas áreas têm centenas ou até milhares de anos de idade. 

Elas são essenciais para a manutenção da biodiversidade - são abrigo de animais selvagens, como onças, tigres, macacos e diferentes espécies de aves. 

Essas árvores também são essenciais para o controle do aquecimento global, já que armazenam dióxido de carbono, destaca o relatório do Global Forest Watch. 


Por isso, a perda de milhares de hectares de floresta em 2018 é tão preocupante.

"Para cada hectare perdido, estamos um passo mais próximos dos desastrosos cenários projetados para o aquecimento global", diz Frances Seymour. 

Desmatamento em outras partes do mundo.

 

Vários países tiveram aumento na perda de florestas primárias desde 2002, principalmente República Democrática do Congo, Colômbia, Bolívia e Peru. 

No caso da Colômbia, o crescimento do desmatamento, principalmente a partir de 2016, é visto como consequência do processo de paz do governo com as Farc, guerrilha de esquerda que ocupava áreas de floresta. 

O fim da luta armada nessas regiões abriu caminho para a exploração econômica da Amazônia colombiana. 

Em termos proporcionais, Madagascar apresentou resultados preocupantes - perdeu 2% de suas florestas primárias em 2018, mais do que qualquer outro país tropical.


"Não é incomum que a perda de áreas de floresta seja associada à morte, porque a cada ano centenas de pessoas são assassinadas tentando impedir a atividade ilegal de madeireiros e garimpeiros", destaca ainda Frances Seymour. 

E há alguma notícia boa nisso tudo?

 

O caso bem sucedido da Indonésia, que foi capaz de reduzir a perda de florestas primárias em 40% em 2018, mostra que políticas públicas podem ter impacto significativo na redução do desmatamento. 

Um acordo firmado entre a Indonésia e a Noruega, que prevê compensação pela redução de emissões, também parece ter cumprido papel importante nos resultados positivos. 

"Nós estamos levando a política ambiental a sério. 


No nosso país, várias empresas foram punidas ou receberam alertas do governo, então estamos nos esforçando para garantir o cumprimento da lei", diz Belinga Margono, do Ministério de Meio Ambiente da Indonésia.

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