Escreve sobre sustentabilidade e debate temas ligados a economia, meio ambiente e sociedade.
O Nordeste brasileiro foi citado pela Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO), como exemplo de local que
sofre com a persistência da fome e da pobreza, “apesar dos avanços
econômicos e sociais do Brasil”.
A região está entre os “territórios esquecidos” dentro de países da
América Latina e Caribe, estratégia lançada pela agência da ONU nesta
terça-feira (23), visando a combater a miséria e a desnutrição em lugares críticos de países latino-americanos e caribenhos.
Há municípios que apresentam o mesmo perfil em países como Colômbia, Peru e República Dominicana.
Há municípios que apresentam o mesmo perfil em países como Colômbia, Peru e República Dominicana.
“Mesmo em países exitosos, há territórios que estão ficando para trás: o
Brasil experimentou um avanço gigantesco, mas aí está o Nordeste.
No Chile, a Araucanía.
São territórios invisíveis, aos quais estamos levando soluções erradas”, afirmou o representante regional da FAO, Julio Berdegué durante ao lançamento da estratégia que se chama “Os 100 Territórios Livres da Pobreza e da Fome”.
No Chile, a Araucanía.
São territórios invisíveis, aos quais estamos levando soluções erradas”, afirmou o representante regional da FAO, Julio Berdegué durante ao lançamento da estratégia que se chama “Os 100 Territórios Livres da Pobreza e da Fome”.
Pesquisa feita pela FAO em parceria com a Comissão Econômica da ONU
para a América Latina e Caribe (Cepal) identificou, em 14 países da
região, cerca de dois mil municípios onde mais de 40 milhões de pessoas
vivem em condições de extrema pobreza e insegurança alimentar.
Metade dessas pessoas (20,9 milhões) mora no campo.
A outra metade está nas cidades e cidades pequenas.
Quase uma em cada cinco é indígena ou afrodescendente.
O levantamento também mostra que 20% dessas famílias são chefiadas por mulheres.
Dependendo do país, a população desses territórios esquecidos representa de 4% a 16% da população nacional.
Metade dessas pessoas (20,9 milhões) mora no campo.
A outra metade está nas cidades e cidades pequenas.
Quase uma em cada cinco é indígena ou afrodescendente.
O levantamento também mostra que 20% dessas famílias são chefiadas por mulheres.
Dependendo do país, a população desses territórios esquecidos representa de 4% a 16% da população nacional.
“Quase não há acesso à tecnologia e infraestrutura para produzir com
mais eficiência, agregar valor aos produtos agrícolas e especializar-se
em serviços não agrícolas nesses locais”, diz o estudo da FAO.
São lugares congelados no tempo, aonde não chega nem mesmo parte dos
símbolos de desenvolvimento que nos envolvem.
Mesmo que este desenvolvimento também seja questionável porque nem sempre oferece, verdadeiramente, uma melhor qualidade de vida.
O resultado da pesquisa da FAO é o exemplo ilustrado da desigualdade que deixa o Brasil numa das primeiras posições num ranking dos mais desiguais do mundo.
Mesmo que este desenvolvimento também seja questionável porque nem sempre oferece, verdadeiramente, uma melhor qualidade de vida.
O resultado da pesquisa da FAO é o exemplo ilustrado da desigualdade que deixa o Brasil numa das primeiras posições num ranking dos mais desiguais do mundo.
Recentemente, a Oxfam, organização internacional que se dedica a
estudar a desigualdade no mundo, publicou uma pesquisa em que fica claro
que os brasileiros já perceberam que, para se chegar a um progresso
verdadeiro, é preciso que haja distribuição da riqueza.
O cuidado é para que esta atual fase em que vivemos no Brasil - que
tende a involucrar os estudos que mostram realidades difíceis como esta
num nicho de “esquerda mal humorada” – não desanime a opinião pública de
fazer contato com esta notícia.
Com a estratégia que acaba de lançar, a FAO, pretende “trabalhar com governos para identificar locais que exijam as intervenções mais urgentes”, segundo texto publicado no site da instituição.
A ideia é criar soluções específicas para cada contexto.
Com a estratégia que acaba de lançar, a FAO, pretende “trabalhar com governos para identificar locais que exijam as intervenções mais urgentes”, segundo texto publicado no site da instituição.
A ideia é criar soluções específicas para cada contexto.
“Com um horizonte de dez anos, o projeto “100 Territórios” prevê o
estabelecimento de uma coalizão de atores dos estados, sociedade civil,
setor privado, academia e cooperação internacional.
O objetivo dessa aliança será dar reconhecimento político real para esses ‘lugares esquecidos’”.
O objetivo dessa aliança será dar reconhecimento político real para esses ‘lugares esquecidos’”.
Tornando visíveis tais lugares, a agência da ONU espera que surjam
práticas inovadoras, ideias, sugestões, até então timidamente
escondidas, para ampliar as oportunidades econômicas dos moradores
dessas regiões.
A proposta é dar transparência às políticas públicas locais, regulamentar o mercado.
Mas a estratégia “100 Territórios” também prevê que os habitantes desses locais possam ter acesso ao mercado de trabalho, aumentar sua participação nas esferas sociais, possibilitar que eles comecem a ser vistos com respeito.
Até porque, como se sabe, viver em locais esquecidos, e continuar vivendo mesmo num sistema excludente como o nosso, dá ao humano uma resiliência digna de respeito.
A proposta é dar transparência às políticas públicas locais, regulamentar o mercado.
Mas a estratégia “100 Territórios” também prevê que os habitantes desses locais possam ter acesso ao mercado de trabalho, aumentar sua participação nas esferas sociais, possibilitar que eles comecem a ser vistos com respeito.
Até porque, como se sabe, viver em locais esquecidos, e continuar vivendo mesmo num sistema excludente como o nosso, dá ao humano uma resiliência digna de respeito.
Neste sentido, lembro-me da entrevista que fiz com o agricultor agroflorestal Vilmar Lermen
, da Serra dos Paus-Dóias, na Chapada do Araripe, no semiárido
brasileiro.
Não sei se a região está sob o foco da FAO neste recente estudo, mas estou certa de que é um lugar que se impõe e merece um tributo pela forma como as pessoas de lá conseguem lidar com a seca, plantar e colher sem auxílio dos agrotóxicos.
Não sei se a região está sob o foco da FAO neste recente estudo, mas estou certa de que é um lugar que se impõe e merece um tributo pela forma como as pessoas de lá conseguem lidar com a seca, plantar e colher sem auxílio dos agrotóxicos.
Um dos ensinamentos de Vilmar Lermen, que merece ser ouvido com atenção
por quem quiser chegar perto para ajudar, é que o importante não é
livrar as pessoas de uma rotina que elas já conhecem e com a qual
conseguem se adaptar.
O que precisa, naquela região e em muitas outras, é ajudar, com tecnologias e recursos que se adaptem, não que queiram desconstruir.
O que precisa, naquela região e em muitas outras, é ajudar, com tecnologias e recursos que se adaptem, não que queiram desconstruir.
“ O que mais se faz são políticas de combate à seca, não de convivência com o semiárido”, disse-me Lermen.
Para identificar as áreas mais vulneráveis e que precisam de ajuda, a
FAO não considerou apenas fatores como a pobreza e a fome, mas também
fenômenos migratórios que levam milhares de famílias a fugir de suas
comunidades.
A agência da ONU avaliou ainda o impacto das mudanças climáticas e das economias ilegais, que agravam a pobreza, a fome e a migração.
A agência da ONU avaliou ainda o impacto das mudanças climáticas e das economias ilegais, que agravam a pobreza, a fome e a migração.
“Milhares de camponeses migraram nas últimas décadas das montanhas de
Guerrero, no México, mas isso não impediu que muitos milhares
permanecessem lá, cultivando a papoula com a qual se produz a heroína”,
completou Berdegué, dando assim um exemplo do comércio ilegal ao qual se
refere.
O déficit do estado, da cidadania e do mercado é o responsável maior
pela manutenção deste cenário, segundo avaliação dos pesquisadores da
FAO.
E se continuar assim, os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), aposta das Nações Unidas para provocar a mudança necessária em prol de um mundo mais igualitário e justo, não vão ser atingidos em 2030, como é a meta.
E se continuar assim, os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), aposta das Nações Unidas para provocar a mudança necessária em prol de um mundo mais igualitário e justo, não vão ser atingidos em 2030, como é a meta.
É hora, mais do que nunca, de ouvir aqueles que conseguem viver com
tantas privações e se unir a eles. Não para desconstruir, mas para estar
junto e ajudar no que for preciso.
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