Discurso do juiz eleitoral Líbio Araujo Moura, por ocasião da
solenidade de entrega de diplomas para o prefeito eleito de Parauapebas,
Valmir Queiroz Mariano, sua vice Maria Ângela Pereira e aos 15
vereadores do municpío, na última sexta feira (14).
Boa noite, excelentíssimo senhor prefeito de Parauapebas, Darci Lermen
(ausente); excelentíssimo senhor prefeito eleito, Valmir Queiroz
Mariano; excelentíssimo senhor promotor de Justiça, Danyllo Colares,
neste ato representando a promotora eleitoral Higeia Valente, pessoas
nas quais saúdo todas as autoridades componentes da mesa e demais
autoridades aqui presentes; senhoras e senhores.
“Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”.
Carlos Drummond de Andrade, poeta por excelência e servidor público por
necessidade, resumiu nos versos acima a responsabilidade de quem, na
posse da delegação social, empresta sua vida ao exercício da atividade
administrativa. Duas mãos e o interesse do bem comum para zelar.
Nos últimos meses, centenas de pessoas almejaram o sonho de servir à
população desta cidade, indicando seus nomes a merecer o voto popular.
Hoje, nesta cerimônia, mais que a premiação aos vencedores, a quem
sempre cabe contar a história, o cenário político de Parauapebas encerra
um ciclo para que uma nova versão passe a ser escrita pelos escolhidos
nas urnas do dia 7 de outubro de 2012.
E o que será contado a partir de agora?
Certamente para alguns, o desvio da motivação exibirá o cenário da
mesquinhez e do locupletamento pessoal, esquecendo-se facilmente dos
rostos humildes de cada eleitor a quem postulou o crédito, desprezando
promessas que outrora acreditara.
Para outros, no entanto, é o momento esperado de cuidar da coisa pública
– da res pública –, da coisa que não é minha, mesmo o sendo, e que não é
só nossa – ao tempo em que também é do outro.
É no sonho dessas pessoas com espírito e caráter elevados que mais de
170 mil pessoas passarão, a partir de hoje, a despejar suas esperanças.
Esperança, aliás, que é o mote de toda a movimentação democrática, do
jogo da alternância no poder, daquilo que faz – ou ao menos deveria
fazer – milhões de eleitores no país inteiro confiarem seus votos, a
cada biênio, na fria urna eletrônica.
A frígida caixa automática em que depositamos nossas expectativas sempre
exprime muito mais emoção do que o simples dever burocrático do
primeiro domingo de outubro.
É dela, de forma quase mágica, que surge o asfalto na rua enlameada, a
melhoria dos transportes e a ambição para que a água jorre todos os dias
nas torneiras das casas sem vaidade, que nunca se pintam.
Por isso, senhores eleitos, saibam que a partir da presente data, ao
receberem um simbólico papel assinado por uma autoridade judiciária,
vossas excelências passam a ser comparados ao solitário personagem de
Saint Exupéry:
“Serão responsáveis por tudo àquilo que cativaram”.
Certamente esse não é o momento para lições ortodoxas de direito ou de
ética e probidade. Não é o espaço para sermões sob o manto tênue e
movediço da moralidade hipócrita.
Trata-se apenas do caminho para a reflexão do que realmente deve merecer
ser levado ao andor de suas atuações: o respeito ao interesse coletivo e
as regras constitucionais, em especial ao princípio da impessoalidade.
Durante o período eleitoral, vez por outra recordava o cancioneiro popular.
“Eu vi muitos homens brigando, ouvi seus gritos, estive no fundo de cada vontade encoberta”.
Agora, o engajamento e o espírito de tenacidade da militância devem
incorporar em cada um dos senhores, de modo a impulsionar a
transformação.
Já passamos da hora de receber os royalties para o verdadeiro progresso.
A cidade de Parauapebas não pode viver apenas para ostentar títulos em
quadros na parede, de segunda maior arrecadação neste estado
continental, de maior pólo da mineração mundial, da cidade de uma
pecuária forte e de produtores rurais coesos tão somente na defesa de
seus próprios umbigos.
“Gado a gente marca, tange, fere, engorda e mata, mas com gente é diferente”,
escreveram Geraldo Vandré e Théo de Barros.
O que a população de fato espera é a alteração fática, a diminuição da
antítese de se viver na rica cidade à espera de atendimento médico
decente, de uma carceragem adequada para os que se envolvem em ilícitos,
para completar uma ligação ou não perder horas a fio em agências
bancárias, com o risco de ser subtraído ao final do saque.
Mais que isso, mais que obras, o desfazimento dos palanques pós-disputa
eleitoral exige que as vaidades pessoais cedam espaço à cultura do
respeito ao ordenamento social e jurídico, da pacificação, da tolerância
entre irmãos, em especial à imensa leva de maranhenses que vivem nos
andaimes pingentes,
“que se disfarçam tão bem, que ninguém pergunta de onde essa gente vem?”.
Certamente, muitos dos eleitos terão seus primeiros contatos com a
função pública. O “Seu” Valmir, o “Velhote”, como carinhosamente era
chamado por seus correligionários, já não é mais da Integral e o Major
deixa de ser apenas da Mactra, apenas por ilustração.
Serão servidores públicos na essência da palavra. Afora inconvenientes
benesses e falsos elogios, saberão que suas missões são árduas e que o
caminho é tortuoso.
Aliás, o verdadeiro papel de um servidor público não é a atuação
personificada, mas o fortalecimento intransigente da sua instituição. Os
poderes de um estado democrático de direito necessitam da força da
palavra, do verbo, e que pairem de forma quase lúdica na sociedade como
uma proteção coletiva onipresente, uma nuvem de segurança.
Nesse aspecto, muitos confundiram durante o exercício do poder de
polícia eleitoral que estavam diante de um magistrado justiceiro, de um
criador de novas normas, que transitava acima do bem e do mal. Ledo
engano, senhores.
Juízes são falíveis e não gozam de qualquer santidade. Erram, padecem da
dúvida, despejam discursos de baixo calão em via pública, trabalham na
necessária solidão com suas consciências, choram em quartos de hotéis,
descasam, vivem do amor.
“Ah, se eu soubesse não andava na rua, perigos não corria, não tinha
amigos... já não ria à toa, não ia, enfim, cruzar contigo jamais, mas
acontece que eu saí por aí”.
Contudo, o que deve a comunidade esperar de seus juízes é o engajamento
na construção de um Poder Judiciário forte, imune às fraquezas humanas
de seus servidores.
Saibam, senhores, que essa missão é perseguida diariamente pelos juízes que trabalham na comarca de Parauapebas.
Além disso, a harmonia entre instituições, como dito, deve superar
vaidades. Se há um aspecto a comemorar no desfecho desse período
eleitoral, foi a unidade de atuação, em especial entre Judiciário e as
polícias Militar e Civil.
Não posso deixar de destacar o papel relevante da autoridade policial
Antônio Gomes de Miranda Neto, incansável nas diligências diuturnas
realizadas pela Justiça Eleitoral, e do então major Mauro Sérgio, hoje
com todo o louvor promovido à patente de tenente-coronel e comandante do
23º BPM.
Somente a união permitiu a multiplicação das fiscalizações e emprestou
ao trabalho da 75ª ZE a sensação comum de que poderíamos sustar qualquer
ilegalidade durante o período da propaganda eleitoral. Obrigado aos
dois e a seus agentes.
De igual modo, os servidores da zona eleitoral foram fundamentais para
que toda a estrutura logística e jurídica funcionasse. Destaco entre
eles o “meu chefe de cartório” Rafael Arruda e a técnica judiciária
Claudia Milene Pinheiro. Sem eles certamente o célere desfecho na
entrega dos resultados de apuração não seria obtido.
Agradeço, ainda, o apoio fundamental da imprensa. O diário da justiça
popular, sem trucagem nas informações e repassando recados nos momentos
de dúvida social.
Desejo aos eleitos e a seus familiares um quadriênio de retidão de caráter e de sorte.
Por fim, compreendo esse momento como o adequado à prestação de contas
da justiça eleitoral: decerto nosso trabalho não passaria pelo rígido
crivo da crítica, mas, com a serenidade dos versos de Ivan Lins, encerro
o certamente municipal de 2012:
“Daquilo que eu sei, nem tudo me deu clareza, nem tudo foi
permitido, nem tudo me deu certeza. Não fechei os olhos, não tapei os
ouvidos, cheirei, toquei, provei, eu usei todos os sentidos, só não
lavei as mãos e é por isso que eu me sinto cada vez mais limpo”.
Feliz 2013. Muito obrigado!!!