Uma história
que nunca foi contada.
Maria
Alcântara nasceu em Itapetinga, estado da Bahia no ano de 1951, tendo como pai,
Benedito José de Alcântara, sua mãe chamava-se Ricardina Rosa de Jesus, que
tiveram mais sete filhos todos do sexo masculino. Como filha de agricultores,
cultivou também o amor pela agricultura casando-se também com um agricultor de
nome Milton Pereira Nunes, tendo com o mesmo um casal de filhos.
Maria e
seu esposo, para garantirem a sua sobrevivência foram trabalhar na propriedade
rural do Fazendeiro Alfredo Manoel Fernandes. Não demorou muito, o casal foi
convencido por seu patrão e transferir para uma de suas fazendas do estado do
Pará, conhecida como “Fazenda Carajás” no ano de 1986, cujo acesso da mesma é a
estrada que liga o município de Parauapebas a fazenda Rio Branco. Naquela
época, Parauapebas ainda pertencia ao município de Marabá.
O
fazendeiro Alfredo Manoel Fernandes, também era um dos membros do “Grupo
Paragominas”. A extensão de terra da “fazenda Carajás” era de 1300 alqueires,
sendo que somente 300 alqueires eram tituladas. Situação que levou o INCRA e o
INTERPA a desapropriar toda a propriedade do fazendeiro para cumprir com o
programa de reforma agrária em benefício dos “Sem Terra” que a época já
reivindicavam a área.
Em 2002,
começou a entrega dos lotes aos “Sem Terra”, a partir desse momento uma
injustiça foi cometida contra Maria Alcântara, que passou a ser chamada de
"Maria Carajás" pela ligação que tinha com a fazenda onde trabalhava,
seu esposo e seus dois filhos.
Depois de
trabalharem 18 anos na área de desapropriação sem ter salários e sem nenhuma
assistência médica dada pelo seu patrão, que inclusive não cumpriu a promessa
de ter lhe entregue uma área de terra como parte do acordo para deixar a sua
terra natal para trabalhar com ele na sua fazenda, foi expulsa da sede da
fazenda pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais, pelo INCRA e pelos “Sem
Terra”, sem ao menos respeitarem o estado físico do esposo da Maria que naquele
mesmo ano havia amputado uma de suas pernas e não tinham para onde ir.
Começa
agora a grande batalha solitária da baiana guerreira para adquirir seus
direitos que não estavam sendo respeitados por quem deveriam preservá-los. Seu
esposo com a perna amputada precisando de assistência constante, seus dois
filhos menores que também precisavam de sua atenção e assistência, só lhe
restava apelar pela misericórdia de Deus.
Mas ela
não se entregou, lutou bravamente contra os “poderosos” (INCRA, Sindicato dos
Trabalhadores de Parauapebas, “Sem Terra” e um dos filhos do seu ex-patrão
covarde, falso e traidor).
Para
fugir da responsabilidade de pagar a indenização de seus direitos trabalhistas
de 18 anos de serviços prestados em sua fazenda, seu ex-patrão Alfredo Manoel
Fernandes, transferiu de forma fraudulenta o seu domicílio residencial para o
município de Redenção, para fazer com que as autoridades que acompanhavam o
desenrolar do imbróglio criado pelos irresponsáveis “Sem Terra”, INCRA,
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Parauapebas e seu ex-patrão,
desacreditassem da idoneidade da única vítima da safadeza e covardia dessa
corja de bandidos travestidos de instituições e pessoas honestas, que era a Maria
Alcântara sendo que nos seus 18 anos de fixação de residência no município de
Parauapebas, nunca havia pisado naquele município.
Essa
heroína anônima e guerreira solitária, ainda tinha que conviver com as
constantes ameaças de morte dos seus algozes contumazes, como também tinha que
comparecer constantemente a presença do delegado de Polícia para responder
acusações mentirosas que eram feitas contra ela.
Os “Sem
Terra” inclusive chegaram a tocar fogo no pasto com as poucas criações que a
família tinha para garantir-lhe seu sustento, como Maria não se intimidara com
essa ação criminosa, resolveram então, colocar o resto das criações para fora
do pequeno pasto e com arma de fogo em punho, um dos “Sem Terra” ameaçou mãe e
filho de morte.
Nesse
momento foi que Maria percebeu o perigo iminente que ela e os demais membros de
sua família estavam correndo, procurou o delegado de Polícia e fez a denúncia
das constantes ameaças de morte que estava sofrendo por grupos dos “Sem Terra”,
ato contínuo, o delegado designou agentes policiais para apurar os fatos
relatados pela denunciante em sua propriedade.
Só a
partir desse momento foi que a autoridade policial descobriu que tudo o que
estava acontecendo com Maria Carajás, não passava de armação dos “Sem Terra”,
Sindicato dos Trabalhadores Rurais e demais indivíduos inescrupulosos, que
usando de calúnia, difamação e injúrias, tentavam denegrir a imagem daquela
agricultora que simplesmente desejava ter o seu pedacinho de terra para
trabalhar e produzir alimentos para o seu sustento e de sua família.
Após se
sentir segura juntamente com sua família, depois que a autoridade policial
tomou as devidas providências para garantir a segurança de Maria e de seus
familiares, ela resolveu procurar o INCRA em Brasília, lá chegando passou a
relatar tudo o que estava acontecendo com ela e seus familiares, inclusive
apresentando todos os documentos de registros de trabalhadores da fazenda,
livro-caixa onde era registrado o movimento financeiro da mesma.
As
autoridades do INCRA em Brasília convencidas da honestidade e transparência,
garantiram-lhe o mesmo direito dos “Sem Terra” a ter seu pedaço de terra como
questão de justiça por tudo o que já havia passado.
Ao
retornar de Brasília, fundou uma associação com os antigos trabalhadores da
fazenda Carajás, a ASTRACA – “Associação dos Trabalhadores Rurais da Carajás”,
através desta associação Maria conseguiu através do INCRA a liberação de 23
lotes de terra cada um medindo 7 alqueires, e na sua atitude nobre distribuiu
20 dos lotes, a 20 famílias.
Graças ao
seu espírito de luta, não só por ela, mas também pelo seu próximo, hoje ela é
proprietária de uma pequena propriedade rural de onde ela tira seu sustento da
terra e reparte com quem não tem.
Seu
esposo já não está com ela, já se foi para a eternidade, seus filhos hoje
adultos e donos de suas próprias vidas.
Ana Meire é professora da rede de
ensino municipal e estadual, formada em Pedagogia, seu filho conhecido por
“Bira” herdou a vocação dos pais, trabalha e tira seu sustento e de sua família
de sua pequena propriedade rural.
Sempre
rodeada pelos seus filhos, amigos e seus quatro netos, esbanja sua alegria e
felicidade por se sentir útil aos seus semelhantes.
Essa
grande heroína e guerreira valente, que não recua diante de seus objetivos e
ideais, MARIA CARAJÁS, merece deste blog essa simples e singela homenagem.
Parabéns pela sua história e pelo seu espírito de luta Maria!
Graças a publicação da história de luta dessa mulher guerreira no nosso blog e posteriormente no nosso quinzenário "Boca no Trombone do Estado do Pará", seus amigos que acompanharam e conhecem de perto essa sua trajetória de vida, insistiram para que ela concorresse uma vaga no Legislativo municpal este ano, e depois de muita conversa para convencê-la, nossa personagem da vida real aceitou mais um desafio na sua vida em disputar uma das 15 vagas na Câmara Municipal de Parauapebas pelo Prtido dos Trabalhadores, PT.
Como sempre eu tenho dito que não tenho problema com partidos políticos independentemente de suas siglas, e sim, com certos elementos que fazem parte dos diversos partidos políticos existentes no Brasil, estou sendo solidário a amiga Maria Alcântara nessa sua decisão de concorrer com os demais candidatos a vereador nessas eleições de outubro do corrente ano, e diga-se de passagem, com muita chance de ser uma das vencedoras, pelo fato da única mulher que tem uma história de lutas pelo bem comum no PT de Parauapebas é ela.
Eu e minha esposa Gina, somos testemunha da generosidade dessa mulher no seu dia a dia, na sua residência, quando nós mesmos desfrutamos de sua benevolência com todos que lhe procuram pedindo-lhe ajuda, e ela não mede esforços para atender e socorrer quem está precisando, quando ficamos hospedados na sua casa por quatro meses sem nos custar nenhum centavo de despesas. Ela sobrevive da sua modesta aposentadoria e dos frutos da terra que ela cultiva e suas criações domésticas.
Valter Desiderio Barreto.