Exército condecora jornalista criticado por Bolsonaro. MERVAL PEREIRA agraciado com a Medalha do Pacificador. |
Quinta-feira, 16 de setembro de 2021
Com este artigo o jornalista
Merval Pereira atualiza as informações sobre o desmonte da Operação
Lava-Jato.
Este crime contra a democracia brasileira vem sendo conduzido
por uma poderosa aliança suprapartidária e supra-ideológica, que
conforma uma verdadeira “santa aliança” de rabos-presos.
Bolsonaro encaminha o desmonte da soberania à espera de milagres externos. |
Hoje
a “santa aliança” tem como líder máximo o presidente Jair Messias
Bolsonaro, pois foi no seu governo que ela recebeu os principais
ataques.
Primeiro, com sua intervenção no COAF; segundo, com sua
intervenção na Polícia Federal, o que levou ao pedido de demissão de
Moro; em seguida, no Ministério Público Federal (MPF), sob o comando do
atual Procurador Geral da República (PGR), Augusto Aras, que foi
escolhido a dedo para liquidar com todas as Forças Tarefas da Lava-Jato
criadas por seus antecessores.
Não por menos, agora, com 55 votos a favor, 10 contrários e 1 abstenção, o Plenário do Senado, no dia 24/08/21, aprovou a sua recondução ao cargo com aplausos de pé.
Mas
essa desmontagem não seria tão grave se não fosse dentro do STF - a
Suprema Corte -, que a Lava-Jato encontrou os seus principais inimigos.
Sob a liderança de Gilmar Mendes, secundado por notórios ministros,
Lewandowiski e Toffoli, que notabilizaram-se por terem adotado como
missão de vida livrar o ex-presidente Lula, e o PT, de todas as suas
condenações.
Naturalmente,
o quadro não ficaria completo se não se mencionasse a casa das Leis, o
Congresso Nacional, exatamente, o espaço político onde se concentra a
maior densidade de corruptos por metro quadrado da república.
Atingidos severamente pelos processos da Lava-Jato, atuam, sistemática,
cirúrgica e objetivamente, para conformar as mudanças nos estatutos
legais, não apenas para protegê-los, mas para torná-los impunes dos
crimes já cometidos e dos prováveis que cometerão no futuro.
O desmonte do Brasil e do serviço público é projeto de Bolsonaro. |
Vivemos
não apenas um processo de desmonte da Lava-Jato, mas um verdadeiro
retrocesso moral, ético e civilizacional na sociedade brasileira; pior,
conduzido por alguns dos mais poderosos e principais agentes nos três
poderes da república.
Por Merval Pereira16/09/2021 (*)
Vai
de vento em popa a Era do Desmonte, como pode ser conhecida esta etapa
da vida nacional em que se materializou a tese do ex-senador Romero Jucá
de que era preciso “estancar a sangria” num grande acordo “com o
Supremo, com tudo” para deter a atuação da Operação Lava-Jato, que levou
à cadeia pela primeira vez na nossa História figurões da política e do
mundo empresarial.
Desde
que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou os julgamentos do
ex-presidente Lula, sob a alegação de que o então ministro Sergio Moro
foi parcial contra ele, vão caindo por terra todas as condenações contra
os envolvidos no escândalo de corrupção conhecido por “petrolão”,
especialmente as de Lula.
O
ministro Gilmar Mendes garantiu que a decisão da Segunda Turma que
então presidia valia apenas para o caso do apartamento no Guarujá.
No
entanto, a começar por ele, todos os juízes passaram a anular outros
processos ou a arquivá-los, sob o pretexto de seguir a decisão original
do STF.
Brasil em transe e o desmonte generalizado, duas constatações. |
A
reação a Moro e aos procuradores de Curitiba ganhou força institucional
quando o presidente Bolsonaro, para tentar salvar-se e aos filhos,
forçou a saída de Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública e
caiu nos braços do Centrão, maior núcleo político de investigados e
condenados na Lava-Jato.
Os
vazamentos das conversas entre procuradores e deles com o então juiz
Moro, mesmo sendo ilegais por ter origem em invasão de celulares, foram
usados até mesmo por ministros do STF como reforço das acusações.
A
Segunda Turma passou a liberar todos os parlamentares denunciados pelos
procuradores ou condenados por Moro, alegando motivos variados:
transferiu para a primeira instância, ou para a Justiça Eleitoral, as
acusações de corrupção, como se fossem meras infrações eleitorais; ou
simplesmente arquivou processos; ou então os fez retroceder por erro de
jurisdição.
Sob o governo Bolsonaro, Petrobrás sofre o maior desmonte da história.. |
O
Congresso logo entrou como parte fundamental desse festival de
licenciosidade e passou a aprovar diversos projetos que desmontam o
combate à corrupção, sem o menor pudor.
O senador Weverton Rocha, do
PDT, é o relator do projeto que abre brechas na Lei de Improbidade
Administrativa, eliminando punições a agentes públicos — ele que é réu
em ação civil de improbidade e em ação penal por peculato.
Como
de costume, numa votação noturna, também o Senado aprovou um projeto
que flexibiliza ainda mais a Lei da Ficha Limpa, garantindo que gestores
públicos cujas contas foram rejeitadas, mas punidos com multas, possam
se candidatar.
A Câmara já havia aprovado mudanças que amenizam as
punições da Lei de Ficha Limpa, fazendo com que a inelegibilidade passe a
ser contada a partir da punição, e não após o término da pena, como
previsto originalmente.
A
cereja do bolo foi a tentativa de impedir que Sergio Moro e
procuradores da Lava-Jato possam se candidatar em 2022.
A proposta de
impor uma quarentena retroativa de oito anos, por estapafúrdia, foi
derrotada no plenário, mas, numa manobra inédita, retomou-se o tema.
A
nova tentativa, baseada numa emenda aglutinativa que uniu duas outras
que nada tinham a ver com o tema, e incluiu novamente a quarentena, foi
aprovada só a partir de 2026.
Como representa a vontade da maioria,
dificilmente a manobra poderá ser anulada na Justiça, pois se trata de
uma questão interna da Câmara.
Outras
alterações numa reforma eleitoral feita às pressas foram aprovadas na
Câmara, mas provavelmente serão barradas no Senado.
A partir da eleição
para presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira ligou seu trator
legislativo e comanda com mão de ferro a aprovação de várias reformas
que diminuem o controle da sociedade, como redução do papel do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
Na reforma eleitoral, a volta das coligações
nas votações proporcionais é um dos principais retrocessos.
Caso
o ex-presidente Lula seja eleito, provavelmente veremos a anulação de
todos os processos da Lava-Jato.
Todos farão como Leo Pinheiro, da OAS,
que está desdizendo tudo o que denunciou.
A tese de “tortura
psicológica” defendida pelo ministro Gilmar Mendes pode servir de
pretexto para anular as delações premiadas.
O problema vai ser o que
fazer com os mais de R$ 5 bilhões devolvidos pelos condenados.
Pode ser
que os consigam de volta na Justiça.
COMENTÁRIO:
"Como de costume, numa votação noturna, também o Senado aprovou um projeto que flexibiliza ainda mais a Lei da Ficha Limpa, garantindo que gestores públicos cujas contas foram rejeitadas, mas punidos com multas, possam se candidatar".
Esse é o nosso país da corrupção, e berço dos escândalos !
Políticos se unem para legalizarem o o famoso "crime organizado", para não serem punidos por eles próprios, que criam leis para se protegerem contra os roubos que cometem contra a nação.
Valter Desiderio Barreto.
Barretos, São Paulo, 17 de setembro de 2021.
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