Documento ainda seria analisado por conselho da Conferência Nacional, mas acabou vazado neste domingo (26). Palácio do Planalto disse que não vai comentar caso.
Por Brenda Ortiz, G1 DF
CNBB na última assembleia em Aparecida-SP, no ano de 2019 — Foto: Divulgação.
Um grupo de 152 arcebispos e bispos da Igreja Católica assinaram uma carta com duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro
(sem partido).
No documento, os religiosos citam que o governo federal
demonstra "omissão, apatia e rechaço pelos mais pobres", além de
"incapacidade para enfrentar crises".
"O desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia também nos estarrece."
Ao longo do texto, os bispos afirmam que a situação "é visível nas
demonstrações de raiva pela educação pública; no apelo a ideias
obscurantistas; na escolha da educação como inimiga e nos sucessivos e
grosseiros erros na escolha dos ministros".
A carta, que seria publicada na última quarta-feira (22), chegou a ser
suspensa para análise do Conselho permanente da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), no entanto, acabou vazando neste domingo (26).
Ao G1
a secretaria de comunicação da CNBB informou que o documento "nada tem a
ver" com a conferência." É de responsabilidade dos signatários".
O
Palácio do Planalto disse que não vai comentar o caso.
"Carta ao Povo de Deus".
Ainda de acordo com o texto, chamado de "Carta ao Povo de Deus", os
bispos e arcebispos afirmam que o presidente da República usa o nome de
Deus para "difundir mensagens de ódio e preconceito".
"Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?"
O documento também pede "união" por um diálogo contrário às ações do
governo.
Neste ponto, os religiosos convocam os leitores para "um amplo
diálogo nacional que envolva humanistas, os comprometidos com a
democracia, movimentos sociais, homens e mulheres de boa vontade, para
que seja restabelecido o respeito à Constituição Federal e ao Estado
Democrático de Direito".
"[...] com ética na política, com transparência das informações e dos
gastos públicos, com uma economia que vise ao bem comum, com justiça
socioambiental, com 'terra, teto e trabalho', com alegria e proteção da
família, com educação e saúde integrais e de qualidade para todos."
Covid-19.
Na carta, os religiosos afirmam que o Brasil atravessa "um dos momentos
mais difíceis de sua história", vivendo uma "tempestade perfeita". Essa
tempestade, nas palavras dos bispos, culminaria em uma "crise sem
precedentes na saúde" e em um "avassalador colapso na economia", com a
tensão "provocada em grande medida pelo Presidente da República [Jair
Bolsonaro] e outros setores da sociedade".
"Analisando o cenário político, sem paixões, percebemos claramente a incapacidade e inabilidade do governo federal em enfrentar essas crises", diz trecho da carta.
Com base em versículos bíblicos, o texto cita o atual momento da
pandemia enfrentada pelo país e o aumento de casos e óbitos pelo novo
coronavírus.
"Assistimos discursos anticientíficos, que tentam
naturalizar ou normalizar o flagelo dos milhares de mortes pela
Covid-19".
"Esse discurso não se baseia nos princípios éticos e morais, tampouco suporta ser confrontado com a Tradição e a Doutrina Social da Igreja."
O documento termina com um pedido da igreja ao povo brasileiro por
união aos movimentos que "buscam novas e urgentes" alternativas para o
país.
"Despertemo-nos, portanto, do sono que nos imobiliza e nos faz meros espectadores da realidade de milhares de mortes e da violência que nos assolam", conclui.
Entenda algumas das expressões mais usadas na pandemia do covid-19.
Leia abaixo a íntegra da carta assinada por 152 bispos da CNBB:
"Somos
bispos da Igreja Católica, de várias regiões do Brasil, em profunda
comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que no exercício de sua
missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da
justiça e da paz.
Escrevemos esta Carta ao Povo de Deus, interpelados
pela gravidade do momento em que vivemos, sensíveis ao Evangelho e à
Doutrina Social da Igreja, como um serviço a todos os que desejam ver
superada esta fase de tantas incertezas e tanto sofrimento do povo.
Evangelizar
é a missão própria da Igreja, herdada de Jesus. Ela tem consciência de
que “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Alegria do
Evangelho, 176).
Temos clareza de que “a proposta do Evangelho não
consiste só numa relação pessoal com Deus.
A nossa reposta de amor não
deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a
favor de alguns indivíduos necessitados [...], uma série de ações
destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência.
A proposta é o
Reino de Deus [...] (Lc 4,43 e Mt 6,33)” (Alegria do Evangelho, 180).
Nasce daí a compreensão de que o Reino de Deus é dom, compromisso e
meta.
É
neste horizonte que nos posicionamos frente à realidade atual do
Brasil.
Não temos interesses político-partidários, econômicos,
ideológicos ou de qualquer outra natureza.
Nosso único interesse é o
Reino de Deus, presente em nossa história, na medida em que avançamos na
construção de uma sociedade estruturalmente justa, fraterna e
solidária, como uma civilização do amor.
O
Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história,
comparado a uma “tempestade perfeita” que, dolorosamente, precisa ser
atravessada.
A causa dessa tempestade é a combinação de uma crise de
saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a
tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em
grande medida pelo Presidente da República e outros setores da
sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança.
Este
cenário de perigosos impasses, que colocam nosso País à prova, exige de
suas instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do
que discursos ideológicos fechados.
Somos convocados a apresentar
propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes
desafios, em favor da vida, principalmente dos segmentos mais
vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual,
injusta e violenta.
Essa realidade não comporta indiferença.
É
dever de quem se coloca na defesa da vida posicionar-se, claramente, em
relação a esse cenário.
As escolhas políticas que nos trouxeram até
aqui e a narrativa que propõe a complacência frente aos desmandos do
Governo Federal, não justificam a inércia e a omissão no combate às
mazelas que se abateram sobre o povo brasileiro.
Mazelas que se abatem
também sobre a Casa Comum, ameaçada constantemente pela ação
inescrupulosa de madeireiros, garimpeiros, mineradores, latifundiários e
outros defensores de um desenvolvimento que despreza os direitos
humanos e os da mãe terra. “Não podemos pretender ser saudáveis num
mundo que está doente.
As feridas causadas à nossa mãe terra sangram
também a nós” (Papa Francisco, Carta ao Presidente da Colômbia por
ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, 05/06/2020).
Todos,
pessoas e instituições, seremos julgados pelas ações ou omissões neste
momento tão grave e desafiador.
Assistimos, sistematicamente, a
discursos anticientíficos, que tentam naturalizar ou normalizar o
flagelo dos milhares de mortes pela COVID-19, tratando-o como fruto do
acaso ou do castigo divino, o caos socioeconômico que se avizinha, com o
desemprego e a carestia que são projetados para os próximos meses, e os
conchavos políticos que visam à manutenção do poder a qualquer preço.
Esse discurso não se baseia nos princípios éticos e morais, tampouco
suporta ser confrontado com a Tradição e a Doutrina Social da Igreja, no
seguimento Àquele que veio “para que todos tenham vida e a tenham em
abundância” (Jo 10,10).
Analisando
o cenário político, sem paixões, percebemos claramente a incapacidade e
inabilidade do Governo Federal em enfrentar essas crises.
As reformas
trabalhista e previdenciária, tidas como para melhorarem a vida dos mais
pobres, mostraram-se como armadilhas que precarizaram ainda mais a vida
do povo.
É verdade que o Brasil necessita de medidas e reformas sérias,
mas não como as que foram feitas, cujos resultados pioraram a vida dos
pobres, desprotegeram vulneráveis, liberaram o uso de agrotóxicos antes
proibidos, afrouxaram o controle de desmatamentos e, por isso, não
favoreceram o bem comum e a paz social.
É insustentável uma economia que
insiste no neoliberalismo, que privilegia o monopólio de pequenos
grupos poderosos em detrimento da grande maioria da população.
O
sistema do atual governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem
de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma “economia que
mata” (Alegria do Evangelho, 53), centrada no mercado e no lucro a
qualquer preço. Convivemos, assim, com a incapacidade e a incompetência
do Governo Federal, para coordenar suas ações, agravadas pelo fato de
ele se colocar contra a ciência, contra estados e municípios, contra
poderes da República; por se aproximar do totalitarismo e utilizar de
expedientes condenáveis, como o apoio e o estímulo a atos contra a
democracia, a flexibilização das leis de trânsito e do uso de armas de
fogo pela população, e das leis do trânsito e o recurso à prática de
suspeitas ações de comunicação, como as notícias falsas, que mobilizam
uma massa de seguidores radicais.
O
desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia também nos
estarrece.
Esse desprezo é visível nas demonstrações de raiva pela
educação pública; no apelo a ideias obscurantistas; na escolha da
educação como inimiga; nos sucessivos e grosseiros erros na escolha dos
ministros da educação e do meio ambiente e do secretário da cultura; no
desconhecimento e depreciação de processos pedagógicos e de importantes
pensadores do Brasil; na repugnância pela consciência crítica e pela
liberdade de pensamento e de imprensa; na desqualificação das relações
diplomáticas com vários países; na indiferença pelo fato de o Brasil
ocupar um dos primeiros lugares em número de infectados e mortos pela
pandemia sem, sequer, ter um ministro titular no Ministério da Saúde; na
desnecessária tensão com os outros entes da República na coordenação do
enfrentamento da pandemia; na falta de sensibilidade para com os
familiares dos mortos pelo novo coronavírus e pelos profissionais da
saúde, que estão adoecendo nos esforços para salvar vidas.
No
plano econômico, o ministro da economia desdenha dos pequenos
empresários, responsáveis pela maioria dos empregos no País,
privilegiando apenas grandes grupos econômicos, concentradores de renda e
os grupos financeiros que nada produzem. A recessão que nos assombra
pode fazer o número de desempregados ultrapassar 20 milhões de
brasileiros.
Há uma brutal descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação, educação, moradia e geração de renda.
Há uma brutal descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação, educação, moradia e geração de renda.
Fechando
os olhos aos apelos de entidades nacionais e internacionais, o Governo
Federal demonstra omissão, apatia e rechaço pelos mais pobres e
vulneráveis da sociedade, quais sejam: as comunidades indígenas,
quilombolas, ribeirinhas, as populações das periferias urbanas, dos
cortiços e o povo que vive nas ruas, aos milhares, em todo o Brasil.
Estes são os mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus e, lamentavelmente, não vislumbram medida efetiva que os levem a ter esperança de superar as crises sanitária e econômica que lhes são impostas de forma cruel.
O Presidente da República, há poucos dias, no Plano Emergencial para Enfrentamento à COVID-19, aprovado no legislativo federal, sob o argumento de não haver previsão orçamentária, dentre outros pontos, vetou o acesso a água potável, material de higiene, oferta de leitos hospitalares e de terapia intensiva, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea, nos territórios indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais (Cf. Presidência da CNBB, Carta Aberta ao Congresso Nacional, 13/07/2020).
Estes são os mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus e, lamentavelmente, não vislumbram medida efetiva que os levem a ter esperança de superar as crises sanitária e econômica que lhes são impostas de forma cruel.
O Presidente da República, há poucos dias, no Plano Emergencial para Enfrentamento à COVID-19, aprovado no legislativo federal, sob o argumento de não haver previsão orçamentária, dentre outros pontos, vetou o acesso a água potável, material de higiene, oferta de leitos hospitalares e de terapia intensiva, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea, nos territórios indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais (Cf. Presidência da CNBB, Carta Aberta ao Congresso Nacional, 13/07/2020).
Até
a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar
divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes.
Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário.
Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?
Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário.
Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?
O
momento é de unidade no respeito à pluralidade!
Por isso, propomos um amplo diálogo nacional que envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e mulheres de boa vontade, para que seja restabelecido o respeito à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito, com ética na política, com transparência das informações e dos gastos públicos, com uma economia que vise ao bem comum, com justiça socioambiental, com “terra, teto e trabalho”, com alegria e proteção da família, com educação e saúde integrais e de qualidade para todos.
Por isso, propomos um amplo diálogo nacional que envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e mulheres de boa vontade, para que seja restabelecido o respeito à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito, com ética na política, com transparência das informações e dos gastos públicos, com uma economia que vise ao bem comum, com justiça socioambiental, com “terra, teto e trabalho”, com alegria e proteção da família, com educação e saúde integrais e de qualidade para todos.
Estamos comprometidos com o recente “Pacto pela vida e pelo Brasil”, da CNBB e entidades da sociedade civil brasileira, e em sintonia com o Papa Francisco, que convoca a humanidade para pensar um novo “Pacto Educativo Global” e a nova “Economia de Francisco e Clara”, bem como, unimo-nos aos movimentos eclesiais e populares que buscam novas e urgentes alternativas para o Brasil.
Neste
tempo da pandemia que nos obriga ao distanciamento social e nos ensina
um “novo normal”, estamos redescobrindo nossas casas e famílias como
nossa Igreja doméstica, um espaço do encontro com Deus e com os irmãos e
irmãs.
É sobretudo nesse ambiente que deve brilhar a luz do Evangelho que nos faz compreender que este tempo não é para a indiferença, para egoísmos, para divisões nem para o esquecimento (cf. Papa Francisco, Mensagem Urbi et Orbi, 12/4/20).
Despertemo-nos,
portanto, do sono que nos imobiliza e nos faz meros espectadores da
realidade de milhares de mortes e da violência que nos assolam.
Com o apóstolo São Paulo, alertamos que “a noite vai avançada e o dia se aproxima; rejeitemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz” (Rm 13,12).
Com o apóstolo São Paulo, alertamos que “a noite vai avançada e o dia se aproxima; rejeitemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz” (Rm 13,12).
O Senhor vos abençoe e vos guarde. Ele vos mostre a sua face e se compadeça de vós.
O Senhor volte para vós o seu olhar e vos dê a sua paz! (Nm 6,24-26)."
COMENTÁRIO:
"Um grupo de 152 arcebispos e bispos da Igreja Católica assinaram uma carta com duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro
(sem partido)."
Os representantes do Clero Romano estão revoltados com o presidente Bolsonaro é porque ele até agora não indicou nenhum representante desta seita que se autointitula "Igreja", assim como as outras seitas ditas "evangélica, também se autodenominam "Igreja", para assumir um cargo no seu governo, a exemplo do que ele, Bolsonaro, tem nomeado ministros evangélicos, isto porque sua esposa, é evangélica, e para agradá-la, e conquistar a simpatia e o apoio da tal "Bancada evangélica", ele encheu seu governo de representantes de várias denominações evangélicas.
Basta o presidente Jair Messias Bolsonaro que se diz católico, começar distribuir cargos para representantes do Vaticano, que esses bispos e arcebispos recuam em suas críticas e manifestações contra o governo do atual mandatário do nosso país !
Em tempo.
Eu continuo convidando esses representantes dessas seitas todas que constroem seus templos, e colocam títulos de "Igrejas", para um debate público em qualquer emissora de televisão, para que eles nos mostrem nas Escrituras Sagradas, onde encontramos a referência do termo Igreja, significa templos construídos por mãos humanas.
"O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;
Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas;...". ATOS 17: 24 e 25.
Valter Desiderio Barreto.
Barretos, São Paulo, 28 de julho de 2020.
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