03/09/19 por Arthur Stabile, Daniel Arroyo e Maria Teresa Cruz
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‘Me ameaçaram de morte’, diz adolescente de 17 anos agredido nu e filmado em supermercado de SP; ele perdeu o pai há 5 anos e passou a viver na rua.
E., 17 anos, está assustado diante de tantos gravadores, microfones e câmeras.
Em frente ao 80º DP, na Vila Joaniza, zona sul de São Paulo, ele esboça em poucas palavras o sofrimento que passou dentro de uma unidade da rede de supermercados Ricoy, localizado na Avenida Yervant Kissajikian.
O adolescente foi pego tentando furtar um chocolate e dois seguranças o levaram para uma sala dos fundos do estabelecimento, o deixaram nu, amarraram suas mãos e o agrediram com chibatadas.
A cena foi gravada e disseminada pelo Whatsapp.
A vítima não sabe precisar a data do ocorrido, apenas que aconteceu em julho.
“Me levaram a força, amarraram meu braço, me bateram de chicote, colocaram um negócio na minha boca”, conta o jovem.
“Me ameaçaram de morte.
Diziam que se eu contasse aquilo para alguém, iriam me matar”, disse.
O adolescente também afirmou que os mesmo seguranças já teriam agredido ele outras duas vezes.
O delegado que investiga o caso, Pedro Luís de Sousa, define o caso como “uma barbárie.
Remonta aos tempos da escravidão.
É inadmissível.
Nunca vi nada parecido com isso em 42 anos de polícia”.
Ele afirmou à Ponte que impressiona o fato de que, mesmo após semanas da agressão, as marcas persistem e são visíveis.
“As marcas são muito peculiares, condizem com chibatadas, mesmo depois de um longo período, mas não temos exatamente a data”, declarou Sousa.
Os agressores foram identificados como Valdir Bispo dos Santos, o Santos, e David Oliveira Fernandes, o Neto.
Ambos são terceirizados, mas a rede de supermercados se negou a dizer o nome da empresa quando questionada pela Ponte.
Na saída da delegacia, o gerente da unidade do supermercado Ricoy não fez qualquer declaração à imprensa.
A vítima afirmou que quem cometeu as agressões foi Santos e quem gravou com o celular foi Neto.
De família evangélica e pobre, E. saiu de casa aos 12 anos depois que
o pai morreu em um incêndio no barraco onde viviam.
Sua mãe tem
problemas com alcoolismo, fato que o fez não ter o auxílio necessário
desde a morte do pai.
Além deve, são outros sete filhos do casal.
Na
visão de um dos irmãos, Wagner Bispo de Oliveira, 30 anos, isso
desestabilizou bastante o adolescente, que acabou indo para a rua e
passou a usar drogas.
“Eu estava tentando dar um jeito de sustentar ele.
Não somos ladrão, olha minhas mãos, mãos de trabalhador, nunca tive passagem na polícia”, declarou à imprensa na tarde desta terça-feira (3/9), em frente à delegacia.
Para Wagner, o que aconteceu foi uma covardia.
“O erro dele não justifica o que foi feito.
A população no bairro está toda injuriada com isso que aconteceu.
Foi o cúmulo do absurdo, uma injustiça o que aconteceu com meu irmão”, declarou.
A intenção do irmão é conseguir um tratamento da dependência química de E. no CAPS (Centro de Apoio Psicossocial).
O adolescente foi encontrado em uma região bem próxima do supermercado conhecida chamada de “cracolândia” pela venda e uso de drogas.
“Vou cuidar dele, vou levar ele para morar comigo.
Eu tenho certeza que se ele voltar para lá ele vai sumir, vai acontecer algo pior com ele.
Ele sempre foi uma boa pessoa.
Infelizmente as amizades dele não eram legais.
O menino está jogado por aí.
Ninguém quer saber dele, a mãe não quer saber dele.
Se não vem alguém da família para tomar uma atitude, ele tava largado “, desabafou.
“No Brasil existe uma lei ainda e é a lei do trabalhador.
Se eu não sou ladrão, se eu não roubei, não trafiquei, nesse país aqui, no Brasil, eu tenho meus direitos.
Pode ser pouco, mas ainda existe.
A gente vai lutar pela lei, pela justiça”.
O delegado Pedro Luís Sousa conta que tomou contato com a história ao receber o vídeo pelo Whatsapp.
“Perguntou se eu estava sabendo do que aconteceu.
Fui informado que era um supermercado da Vila Joaniza e então, por considerar algo muito grave, fomos atrás dele”, relatou.
“Eu estava com a minha filha do lado quando vi o vídeo e ela disse: ‘pai, que horror’.
É um absurdo.
Ele estava com muito medo, não queria ir até a delegacia.
Nós conseguimos achar ele na comunidade ao lado do supermercado”, disse.
Após a ida de E. e seu irmão à delegacia, eles e a mãe do garoto, Josefa de Oliveira, foram atendidos por conselheiros tutelares da área da Cidade Ademar, a qual a Vila Missionária faz parte.
Os profissionais marcaram atendimento para a próxima quinta-feira (5/9).
O caso tomou grandes proporções e algumas figuras públicas como a deputada estadual Erica Malunguinho, o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, e a historiadora Suzane Jardim, usaram as contas do Twitter para manifestar repúdio e comentar o ocorrido.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP também manifestou em nota oficial no Facebook indignação com relação ao caso que chamou de sessão de tortura.
Não somos ladrão, olha minhas mãos, mãos de trabalhador, nunca tive passagem na polícia”, declarou à imprensa na tarde desta terça-feira (3/9), em frente à delegacia.
Para Wagner, o que aconteceu foi uma covardia.
“O erro dele não justifica o que foi feito.
A população no bairro está toda injuriada com isso que aconteceu.
Foi o cúmulo do absurdo, uma injustiça o que aconteceu com meu irmão”, declarou.
A intenção do irmão é conseguir um tratamento da dependência química de E. no CAPS (Centro de Apoio Psicossocial).
O adolescente foi encontrado em uma região bem próxima do supermercado conhecida chamada de “cracolândia” pela venda e uso de drogas.
“Vou cuidar dele, vou levar ele para morar comigo.
Eu tenho certeza que se ele voltar para lá ele vai sumir, vai acontecer algo pior com ele.
Ele sempre foi uma boa pessoa.
Infelizmente as amizades dele não eram legais.
O menino está jogado por aí.
Ninguém quer saber dele, a mãe não quer saber dele.
Se não vem alguém da família para tomar uma atitude, ele tava largado “, desabafou.
“No Brasil existe uma lei ainda e é a lei do trabalhador.
Se eu não sou ladrão, se eu não roubei, não trafiquei, nesse país aqui, no Brasil, eu tenho meus direitos.
Pode ser pouco, mas ainda existe.
A gente vai lutar pela lei, pela justiça”.
O delegado Pedro Luís Sousa conta que tomou contato com a história ao receber o vídeo pelo Whatsapp.
“Perguntou se eu estava sabendo do que aconteceu.
Fui informado que era um supermercado da Vila Joaniza e então, por considerar algo muito grave, fomos atrás dele”, relatou.
“Eu estava com a minha filha do lado quando vi o vídeo e ela disse: ‘pai, que horror’.
É um absurdo.
Ele estava com muito medo, não queria ir até a delegacia.
Nós conseguimos achar ele na comunidade ao lado do supermercado”, disse.
Após a ida de E. e seu irmão à delegacia, eles e a mãe do garoto, Josefa de Oliveira, foram atendidos por conselheiros tutelares da área da Cidade Ademar, a qual a Vila Missionária faz parte.
Os profissionais marcaram atendimento para a próxima quinta-feira (5/9).
O caso tomou grandes proporções e algumas figuras públicas como a deputada estadual Erica Malunguinho, o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, e a historiadora Suzane Jardim, usaram as contas do Twitter para manifestar repúdio e comentar o ocorrido.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP também manifestou em nota oficial no Facebook indignação com relação ao caso que chamou de sessão de tortura.
“A brutalidade e perversidade da tortura no Supermercado
Ricoy, obriga a CDH/OAB-SP a expressar nossa extrema preocupação com a
escalada de agressões cada vez graves a direitos fundamentais dos
cidadãos e cidadãs brasileiros.
A sociedade brasileira não aceitará a
continuidade dessa barbárie crescente.
Isso não vai continuar”, diz
trecho da nota.
O sentimento era de revolta no entorno do supermercado Ricoy da
Avenida Yervant Kissajikian.
Comerciantes locais condenavam a atitude do segurança em torturar o garoto, como definiram.
“Foi uma covardia.
O garoto mora aqui do lado.
Pode ter feito o que fez, mas nada libera o que foi feito.
É inadmissível”, disse um vendedor ambulante em conversa com o a Ponte, solicitando anonimato.
Um segurança que comia em uma barraca distante 20 metros do estabelecimento criticou a ação de um homem que cumpre a mesma função do que ele.
“Eu sou pai, coloquei como se fosse meu filho no lugar.
É uma barbárie.
Voltamos para esses tempos.
Só lembro de algo similar 200 anos atrás quando negros eram escravizados.
Nada justifica a tortura, nada”, lamentou o homem, que cobrou explicações do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
“Tem que mostrar para o presidente, para o [Sérgio] Moro [ministro da Justiça e Segurança Pública].
Precisa ser feito algo.
Votei nele para que as coisas mudassem, mas estou me arrependendo.
Tudo só piora”, lamentou.
A rede de supermercados Ricoy enviou uma nota à Ponte no início da tarde afirmando que a empresa “repugna esta atitude e foi com indignação que tomou conhecimento dos fatos por intermédio da reportagem.
A empresa não coaduna com nenhum tipo de ilegalidade e colaborará com as autoridades competentes envolvidas na apuração do caso, a fim de tomar as providências cabíveis”.
A empresa informa que os funcionários não são mais prestadores de serviço do local.
Em seu site, destaca que são 50 lojas que compõem a rede e que em cada unidade é possível encontrar uma “infraestrutura completa e preparada oferecer o que você mais merece: o respeito”.
Por volta das 18h desta terça-feira (3/9), a rede de supermercados Ricoy enviou uma nova nota à imprensa.
“Ficamos chocados com o conteúdo de uma tortura gratuita e sem sentido em cima do adolescente vítima.
O Ricoy desde sua fundação na década de 1970 exerce os princípios mais rígidos de valorização do ser humano, seja em nossas lojas ou em nossa comunidade.
Ficamos muito abalados com a notícia que nos causou repulsa imediata”, diz trecho da nota, que confirma que os funcionários envolvidos na agressão não são mais prestadores de serviço da rede e que eram de uma empresa terceirizada.
“O Ricoy já disponibilizou uma assistente social para conversar com a vítima e a família.
Daremos todo o suporte que for necessário”, finaliza.
(*) A Ponte Jornalismo divulga o vídeo com as agressões ao jovem por considerar que seu conteúdo é relevante.
A reportagem esteve no local da violência, falou com o jovem agredido e seus familiares e todos apoiaram a publicação das imagens como forma de denunciar a violência e lutar por justiça.
Comerciantes locais condenavam a atitude do segurança em torturar o garoto, como definiram.
“Foi uma covardia.
O garoto mora aqui do lado.
Pode ter feito o que fez, mas nada libera o que foi feito.
É inadmissível”, disse um vendedor ambulante em conversa com o a Ponte, solicitando anonimato.
Um segurança que comia em uma barraca distante 20 metros do estabelecimento criticou a ação de um homem que cumpre a mesma função do que ele.
“Eu sou pai, coloquei como se fosse meu filho no lugar.
É uma barbárie.
Voltamos para esses tempos.
Só lembro de algo similar 200 anos atrás quando negros eram escravizados.
Nada justifica a tortura, nada”, lamentou o homem, que cobrou explicações do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
“Tem que mostrar para o presidente, para o [Sérgio] Moro [ministro da Justiça e Segurança Pública].
Precisa ser feito algo.
Votei nele para que as coisas mudassem, mas estou me arrependendo.
Tudo só piora”, lamentou.
A rede de supermercados Ricoy enviou uma nota à Ponte no início da tarde afirmando que a empresa “repugna esta atitude e foi com indignação que tomou conhecimento dos fatos por intermédio da reportagem.
A empresa não coaduna com nenhum tipo de ilegalidade e colaborará com as autoridades competentes envolvidas na apuração do caso, a fim de tomar as providências cabíveis”.
A empresa informa que os funcionários não são mais prestadores de serviço do local.
Em seu site, destaca que são 50 lojas que compõem a rede e que em cada unidade é possível encontrar uma “infraestrutura completa e preparada oferecer o que você mais merece: o respeito”.
Por volta das 18h desta terça-feira (3/9), a rede de supermercados Ricoy enviou uma nova nota à imprensa.
“Ficamos chocados com o conteúdo de uma tortura gratuita e sem sentido em cima do adolescente vítima.
O Ricoy desde sua fundação na década de 1970 exerce os princípios mais rígidos de valorização do ser humano, seja em nossas lojas ou em nossa comunidade.
Ficamos muito abalados com a notícia que nos causou repulsa imediata”, diz trecho da nota, que confirma que os funcionários envolvidos na agressão não são mais prestadores de serviço da rede e que eram de uma empresa terceirizada.
“O Ricoy já disponibilizou uma assistente social para conversar com a vítima e a família.
Daremos todo o suporte que for necessário”, finaliza.
(*) A Ponte Jornalismo divulga o vídeo com as agressões ao jovem por considerar que seu conteúdo é relevante.
A reportagem esteve no local da violência, falou com o jovem agredido e seus familiares e todos apoiaram a publicação das imagens como forma de denunciar a violência e lutar por justiça.
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