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segunda-feira, março 25, 2019

Polícia investiga suposta rede de proteção a João de Deus


Ministério Público trabalha para descobrir provas de que autoridades ajudavam médium a se livrar de investigações. Um PM e dois delegados são investigados.

 

 

Por Fábio Castro e Lis Lopes, TV Anhanguera e G1 GO
Policia investiga suposta rede de proteção à João de Deus
Policia investiga suposta rede de proteção à João de Deus.

O Ministério Público do Estado Goiás (MP-GO) tem oito denúncias abertas contra João Teixeira de Faria, o João de Deus, e agora trabalha para descobrir se autoridades ajudavam o médium a se livrar de investigações. 


Um policial militar, uma delegada e um delegado são alvos de investigação. 

Depois das denúncias de que autoridades encobriam os crimes de João de Deus, a Polícia Civil mandou um ofício para o MP-GO pedindo provas de que realmente existe essa rede de proteção. 

“Diversos relatos de vítimas diversas diligências já revelaram indícios de que o denunciado já acusado João Teixeira de Faria contou sim, durante todo esse tempo, com uma rede de proteção. 


Rede de proteção composta por autoridades, inclusive, autoridades policiais”, afirmou o promotor Augusto Cezar.
Promotor Augusto Cezar disse que indícios mostram que João de Deus montou uma rede de proteção — Foto: Reprodução/TV Globo
Promotor Augusto Cezar disse que indícios mostram que João de Deus montou uma rede de proteção — Foto: Reprodução/TV Globo.

As denúncias foram ao ar ontem, no Fantástico. 


Uma mulher, que não quis ser identificada, contou que em 1973, quando tinha 17 anos, foi levada pelo médium a uma ponte. 


Ele disse que iria fazer uma limpeza espiritual, mas ela contou que, na verdade, foi abusada sexualmente.


“Eu tava com um vestido verde. 


Tirou o meu vestido. 


Tirou minha calcinha e tirou a roupa dele toda. 


Eu falei: Não. 


Me deixa. 


Eu vou casar. 


Não faz isso, não”, contou. 

O médium teria ficado apavorado ao ver tanto sangue e decidiu matar a jovem. 


Ela conta que foram pelo menos três tiros. 


Depois, João de Deus a jogou no rio e foi embora. Um pescador a salvou. 

Eu falei: "Esse monstro me matou”. 


Ele falou: "Não, você não morreu, menina. 


Eu vou chamar um carro lá na estrada pra você ir para o hospital". 

Somente 46 anos após o crime, ao saber que João de Deus havia sido preso em razão das denúncias de abuso sexual, é que a vítima decidiu denunciar. 


Como o caso é muito antigo, o crime prescreveu. 

Outro caso aconteceu em 1980, que foi a morte de um taxista. 


Uma testemunha disse que, na época, a mulher do médium estaria tendo uma relação amorosa com a vítima. 


João de Deus foi absolvido por falta de provas.
Polícia Civil de Goiás pede ao Ministério Público que apresente provas de suposta rede de proteção ligada a João de Deus — Foto: Reprodução/TV Globo
Polícia Civil de Goiás pede ao Ministério Público que apresente provas de suposta rede de proteção ligada a João de Deus — Foto: Reprodução/TV Globo.

Outra denúncia contra João de Deus foi em 2006, o assassinato de uma turista alemã no dia 27 de junho. 


Hannelore Boldi tinha chegado dias antes a Abadiânia, buscando ajuda para o filho usuário de drogas. 

Uma conhecida da vítima disse que a alemã começou a espalhar pela cidade que o médium era um charlatão. 


Na mesma noite, a alemã foi assassinada. 


Mas no primeiro registro da PM está escrito: "aparentemente morte natural”. 

No IML a verdade apareceu e a polícia investigou, mas não há nenhuma linha de investigação sobre a indignação da vítima contra João de Deus. 


Em 2016 o caso foi arquivado e agora será reaberto.

Uma testemunha, que não quis se identificar, reforçou a suspeita. 

“Foi uma morte em consequência da ameaça dela divulgar que a casa Dom Inácio é uma farsa. 


Todo mundo na cidade falava isso: quem enfrentasse o homem corria o risco de ser eliminado". 

Para o Ministério Público, em todos esses casos, João de Deus sempre teve uma rede de proteção que ajudava a barrar as investigações.

Em um depoimento, o médium confessou que deu R$ 18 mil para o delegado Éder Martins pagar a cirurgia de um sobrinho. 


Para o MP isso foi propina. 


O delegado negou. 

“Tanto eu quando passei por Abadiânia, quanto meus colegas anteriores e posteriores a mim jamais deixava de fazer qualquer procedimento quanto a João Teixeira. 


Nunca foi demonstrada qualquer conduta irregular ou criminosa, praticada pelo mesmo”, disse o delegado. 

Para o advogado de defesa de João de Deus, Alberto Toron, é preciso cautela ao falar do passado do médium. 

“Há casos em que ele foi absolvido e há outros casos que não tem prova alguma do que se fala. 


Já se falou até que ele fazia tráfico de bebê. 


Isso não se provou. 


Tem muita gente falando coisas sem a menor prova”, disse.

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