31 de outubro de 2018 13:45
João Vitor Rezende
General Augusto Heleno foi anunciado como ministro da Defesa pelo presidente eleito Jair Bolsonaro
Foto: Agência Brasil
O general da reserva Augusto Heleno, futuro ministro da Defesa no governo de Jair Bolsonaro (PSL), apoiou hoje (31) a polêmica proposta do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de usar atiradores de elite para conter criminosos que portem armamentos de uso restrito.
O general da reserva disse que já fez uso da mesma "regra de engajamento", no linguajar militar, enquanto atuava no Haiti e que não se trata de uma autorização para matar de forma indiscriminada.
“Minha regra de engajamento no Haiti era muito parecida com essa que o futuro governador colocou.
É óbvio que muita gente faz uma distorção nisso e acaba dizendo que é uma autorização para matar.
É uma reação necessária à exibição ostensiva que tem sido feita no Rio de Janeiro de armas de guerra nas mãos, muitas vezes, de jovens”, disse.
O militar lembrou que esses fuzis, normalmente, são empregados em ações que resultam em mortes de inocentes e de policiais envolvidos em confrontos e defendeu a retomada do respeito pelas forças legais.
“Nós não vamos readquirir esse respeito com as regras de engajamento benevolentes que temos hoje”, destacou.
“Não é uma autorização para matar indiscriminadamente.
Precisa ter um critério muito bem consolidado.
Precisa haver um treinamento bem feito das tropas para que isso seja respeitado.
Tivemos essa regra no Haiti durante mais de dez anos e não há casos de execuções indiscriminadas.
É uma questão de treinamento e, de pouco a pouco, se readquirir o respeito.”
Endurecimento das regras
“Não podemos, em prol de eliminar gente que não pode viver num Estado civilizado, que a gente cause efeitos colaterais e acabe matando inocentes.
Tem que ser uma regra de engajamento muito bem consolidada
junto àqueles que vão fazer uso dela", insistiu Augusto Heleno.
"Acho
que a situação que estamos vivendo nos leva a pensar num endurecimento
dessas regras.
Isso tem que ser muito bem aplicado para não parecer que é
isso que estão colocando: uma autorização para matar.
Isso não é o que
se pretende com esse endurecimento.
É exatamente dissuadir que isso
continue a acontecer”, destacou.
O futuro ministro da Defesa
classificou a polícia do Rio de Janeiro como "talvez uma das mais
valentes no mundo".
"Quem já subiu o morro tomando tiro, quem já
enfrentou uma comunidade tomando tiro que você não sabe de onde vem,
sabe o que é isso.
As polícias no Rio de Janeiro são muito corajosas,
mas precisam ter na sua retaguarda um outro tipo de apoio –
principalmente esse apoio logístico que foi implantado pela intervenção e
que pode servir de modelo para o resto do país.”
Sobre a intervenção federal no Rio de Janeiro, o futuro ministro da Defesa avaliou que o general Braga Neto nomeou comandantes que classificou como “exemplares” e que ele segue norteando sua gestão na capital fluminense por uma nova mentalidade de logística, administração de bens, administração de pessoal e gestão de recursos humanos dentro das polícias.
“Isso tem mostrado um resultado sensacional na
intervenção, pelo pouco prazo em que ela está acontecendo.
Não dá para
resolver o problema do Rio de Janeiro, que foi pouco a pouco se
agravando até por isso.
Aqueles que eram responsáveis por se apresentar
como os faróis, como a referência para a força policial estavam, em boa
parte, na cadeia.
É óbvio que isso tem reflexos inevitáveis no
desempenho da tropa.”
"Despolitização" das polícias
O general Heleno considera que não se deve estimular o emprego das Forças Armadas em situações de intervenção federal, como a que se instalou no Rio de Janeiro desde fevereiro deste ano nem que se banalizem as operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
O general Heleno considera que não se deve estimular o emprego das Forças Armadas em situações de intervenção federal, como a que se instalou no Rio de Janeiro desde fevereiro deste ano nem que se banalizem as operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
"As Forças Armadas
extrapolam em muito as suas missões constitucionais”, avaliou.
“Eu
não acho que as Forças Armadas devam incentivar esse emprego
[participação na garantia da lei e da ordem].
E não incentivam
realmente.
Elas são chamadas quando o governador do estado declara ao
Ministério da Justiça que está numa situação difícil porque sua polícia
esgotou as possibilidades de emprego ou entrou em greve, que é uma coisa
inconstitucional, mas acontece.”
Para o militar, esse tipo de situação pode ser solucionada por meio do que chamou de “despolitização” das polícias, sejam elas militar, civil e mesmo a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal.
De acordo com o general da reserva, não há
espaço para politização em instituições que são de Estado e que, segundo
ele, devem ser regidas por uma gestão baseada na meritocracia.
“Uma coisa que pode mudar muito esse panorama é o exemplo.
Os comandantes
necessariamente têm que dar o exemplo.
Não podemos assistir casos de
corrupção na cúpula de algumas polícias.
Isso se alastra com muita
facilidade.
Essa é uma correção de rumos indispensável.
Essas polícias
precisam ter um outro tipo de gestão.”
'Mesmo barco'
O
general da reserva disse ainda que é preciso esquecer o que chamou de
“confrontos de campanha” e trabalhar pela reconstrução do país.
O
militar se referiu ao momento como uma oportunidade para exortar
brasileiros a um novo período “de tolerância, de conciliação e de busca
do bem comum”.
“Temos muito o que fazer.
Temos que esquecer esses
confrontos de campanha.
Tudo isso tem que ser deixado de lado agora.
Vamos trabalhar pela reconstrução desse país, que é um país fantástico e
que merece chegar muito mais longe do que chegou até hoje".
E concluiu: "Estamos juntos.
É preciso entender isso.
Nós estamos todos no
mesmo barco e precisamos todos remar.
Ninguém pode colocar o remo
n'água e não remar.
Vamos colocar o remo na água para remar."
Com informações da Agência Brasil
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