Doleiros presos foram avisados de que a investigação estava na reta final. Messer está foragido.
Por Arthur Guimarães, G1 Rio
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/6/U/AsFYaBQAu66Z4Ngl6vrw/messer-perfil.jpg)
Dario Messer (Foto: Reprodução TV Globo).
Interceptação telefônica feita pela Polícia Federal 20 dias antes da Operação Câmbio, Desligo,
da Lava Jato do Rio, mostra que os doleiros presos já sabiam, com
antecedência, que a investigação estava em curso – e chegando à reta
final.
No dia 13 de abril, às 11h31, o suposto doleiro Marcelo Rezinski, que
está preso, foi flagrado, com autorização judicial, conversando por
telefone com a esposa.
Na transcrição do diálogo, a que o G1 teve acesso com exclusividade (veja abaixo), Marcelo diz que falou com “Dadá” “de manhã” – quando teria ouvido que ele iria ficar “um tempinho preso”.
Dadá, segundo os investigadores e fontes ouvidas, é um apelido comum de
Dario Messer, que fugiu do cerco policial internacional e, até hoje,
segue foragido da Justiça – reforçando a tese do vazamento.
O G1 apurou
que a situação era, de certa forma, esperada.
Isso porque, apesar de
sigilosa, a delação que originou a investigação, dos dois principais
“funcionários” de Messer, envolveu a saída dos doleiros de Benfica por
diversas vezes para prestar depoimento – movimentação que, assim que
notada pelos demais presos, rapidamente chegou aos ouvidos dos possíveis
delatados. Messer era o alvo óbvio de seus subordinados.
Segundo os delatores, Marcelo Rezinski os procurava sempre por
aplicativos de celular com criptografia.
Ao lado do irmão Roberto,
Marcelo, aponta a investigação, vendia dólares no exterior e recebia
reais no Brasil, em endereços como “o hotel Sheraton Barra ou Ritz do
Leblon”, e, como já teria assumido, trabalharia para “políticos do
PMDB”.
No total, há movimentações de 12 milhões de dólares na conta dos
irmãos no sistema digital dos doleiros.
Confira o trecho:
MARCELO - Sabe quem também vai ficar um tempinho preso?
CINTHIA - Quem?
MARCELO - O Dadá!
CINTHIA - Tá, mas de novo?
MARCELO - De novo não, ele nunca foi, né, cara!
CINTHIA - Ah, não! Quem foi foi a Rô!
MARCELO - Hum hum!
CINTHIA - Que merda, cara!
MARCELO- É, cara! Falei com ele de manhã!
CINTHIA - Ai, amor! Enfim!
MARCELO - Né?
CINTHIA - Né? É complicado, né!
O nome de Dario Messer, considerado o maior doleiro do país, já está na
Difusão Vermelha da Interpol.
A operação que teve como um dos
principais objetivos a prisão de Dario foi deflagrada na quinta-feira
(3), mas ele não foi preso e é considerado foragido da Justiça.
A ação teve como base a delação do doleiro Vinícius Vieira Barreto
Claret, o Juca Bala, e Cláudio Fernando Barbosa, o Tony, que passaram a
cumprir prisão domiciliar na semana passada em função dos termos da
colaboração premiada.
Dólar-cabo.
Os suspeitos usavam um sistema chamado Bank Drop, no qual doleiros
remetem recursos ao exterior através de uma ação conhecida como
“dólar-cabo”.
Trata-se de um câmbio que envolve depósitos em contas em
diferentes países, mas o dinheiro não é rastreável pelo Banco Central:
doleiros recebem no Brasil e compensam em contas no exterior.
Por não
haver remessa, muito menos registro, o montante escapa das autoridades e
dos impostos.
Segundo a polícia, eram 3 mil empresas offshore em 52 países, que
movimentavam US$ 1,6 bilhão (R$ 5,6 bilhões).
As empresas ficam em
paraísos fiscais e são usadas para ocultar o verdadeiro dono do
patrimônio depositado em uma conta.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/Q/6/Hwpo0aSiiHGioxTYokWQ/operacao-dolar-cabo-v4.png)
Entenda o que é 'dólar-cabo', operação usada para esconder dinheiro de propina (Foto: Infográfico: Juliane Monteiro/G1.
Nenhum comentário:
Postar um comentário