
Ex-assessor do presidente depôs à PF em inquérito que apura suposto favorecimento ao setor portuário em troca de propina. Ele disse ter inventado nome para se livrar de executivo da JBS.
Por Camila Bomfim, TV Globo, Brasília

Rocha Loures depõe e nega ser intermediário de Temer.
O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que atuou como assessor
especial do presidente Michel Temer, negou, em depoimento à Polícia
Federal, ter recebido propina para atuar em favor de uma empresa do
setor portuário na edição de um decreto presidencial.
A investigação sobre o decreto
tem como alvos Temer, Rocha Loures, além de Antônio Celso Grecco e
Ricardo Conrado Mesquita, executivos da Rodrimar, empresa concessionária
no porto de Santos.
A suspeita é de que Temer recebeu propina pela
edição do decreto que teria beneficiado a Rodrimar.
O ex-deputado prestou dois depoimentos à PF em novembro do ano passado, e a TV Globo teve acesso aos termos de declaração.
No depoimento, Rocha Loures admitiu ter recebido parecer jurídico com
"apontamentos" do setor portuário à minuta do decreto que, segundo as
investigações, beneficiou a empresa Rodrimar.
Segundo ele, o documento
foi elaborado por um escritório de advocacia e entregue em reunião com
representantes do setor portuário, entre eles, Ricardo Mesquita.
Ele, porém, negou ter recebido dinheiro da empresa para atuar pelo
decreto, e que “não agiu a pedido ou intermediando qualquer tratativa”
de Temer nesta área.
Ao longo do depoimento, o peemedebista afirmou que mantinha relação
somente profissional com o presidente e que Temer não sabia das reuniões
que ele mantinha com representantes do setor portuário, inclusive com
executivos da Rodrimar.
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O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures em julho de 2017, ao deixar a
carceragem da PF, em Brasília, para colocar tornozeleira eletrônica em
Goiânia (Foto: André Dusek / Estadão Conteúdo).
Diálogos
A Polícia Federal confrontou Rocha Loures sobre o conteúdo de áudios
gravados a partir da delação de executivos da J&F, especificamente
sobre conversas entre ele e o executivo da J&F, Ricardo Saud, e
entre ele e o chefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha.
Sobre o primeiro diálogo que, segundo as investigações, tratava sobre
entrega de dinheiro por meio de intermediários, Rocha Loures disse ter
inventando o nome de um suposto intermediário apenas para "se livrar da
abordagem" de Saud.
- Rocha Loures: "Então vamos fazer o seguinte. Eu vou verificar com Edgar, se o Edgar... Tem duas opções: o Edgar ou o teu Xará".
- Ricardo Saud: "Pra mim é mais confortável com o Edgar".
- Rocha Loures: "Você não conhece e ele também não te conhece".
"A pessoa de nome Edgar, citado em áudio conhecido, foi uma pessoa
inventada pelo declarante na ocasião para se livrar da abordagem do
interlocutor Ricardo Saud”, relata a PF sobre o que disse o ex-deputado.
Em outro momento, a PF questionou o peemedebista sobre um diálogo que manteve com Gustavo Rocha.
- Gustavo Rocha: "É uma exposição muito grande para o presidente se a gente colocar isso. Já conseguiram coisas demais nesse decreto".
- Rocha Loures: "O importante é ouvi-los."
- Gustavo Rocha: "A minha preocupação é expor o presidente em um ato que é muito sensível. [...] Esse negócio vai ser questionado".
Ao explicar o diálogo, Rocha Loures disse desconhecer as expressões:
“já conseguiram coisas demais nesse decreto” e "é uma exposição muito
grande para o presidente”.
Ele também negou ter feito pressão junto ao
governo para favorecer a Rodrimar.
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