Agricultores relatam reflexos em áreas das regiões de Campinas e Jundiaí.
Coordenador na Ceasa Campinas diz que crise hídrica deve alterar preços.
Produção de pêssegos foi afetada pela escassez de água (Foto: Mariana Andretta / Prefeitura de Jundiaí)
De acordo com a entidade que representa produtores do Circuito das Frutas, grupo formado por dez municípios das áreas de Campinas e Jundiaí, agricultores já relataram prejuízo médio de 30% nos cultivos, por causa da queda na
"Ainda não temos uma pesquisa e como quantificar a situação, mas sentimos que há receio muito grande de produtores.
No pêssego houve influência grande, haja vista relatos de perdas em algumas cidades por causa do comprometimento da irrigação", explicou José Luiz Rizzato, presidente da Associação de Turismo Rural do Circuito das Frutas.
Segundo ele, a produção deste fruto está concentrada nas cidades de Itatiba, Jarinu, Jundiaí e Atibaia.
Frutas que também devem ser prejudicadas, caso haja continuidade do período de seca, são a goiaba e uva.
"As goiabas são mais rústicas, mas os produtores contam que elas não estão graúdas e bonitas como antes.
Há colheitas de uva entre dezembro e janeiro, por isso podem ocorrer perdas", ponderou sem arriscar sobre aumento nos valores das frutas que chegarão aos mercados.
"O preço, seja no varejo ou atacado, é determinado por oferta e demanda.
A gente percebe que haverá produção menor, mas é complicado estimar".
Os
As perdas nas cidades.
O engenheiro agrícola Daniel Fernando Miqueletto, integrante do Consórcio Intermunicipal para Desenvolvimento do Polo Turístico do Circuito das Frutas, explicou que o principal reflexo da crise hídrica, em Louveira (SP), deve ocorrer na safra de uva de mesa, onde estima-se queda de 20% a 25% na produção.
"Cada hectare rende média de 15 toneladas, portanto, significa uma perda de três toneladas por área", explicou o especialista.
Segundo ele, os produtos indicaram que houve raleio dos cachos, o que prejudica o aspecto da fruta.
Goiabas chegam ao mercado com tamanho inferior ao padrão (Foto: Heitor Corrêa/Ceasa Campinas)
"A uva é muito sensível à oferta e demanda.
No caso do pêssego, que está em fim de colheita, a produtividade foi afetada em 30%, mas o preço mudou porque não elevou procura."
Em Valinhos, o produtor Renato Yoshida possui aproximadamente 700 pés de goiaba no área rural que mantém na Reforma Agrária.
Ele contou que, por causa do racionamento de água iniciado na cidade em fevereiro, houve redução na colheita das frutas para tentar manter a qualidade.
"Antes conseguia de 60 a 80 caixas por semana em condições normais.
Nesta semana foram somente 30", explicou ao admitir que os frutos tiveram redução do tamanho vendidos a mercados de São Paulo e Belo Horizonte (MG).
Além de relatar redução no plantio de hortaliças em Itatiba, o engenheiro agrícola José Eduardo Pereira da Silva contou que a escassez hídrica pode começar a refletir na produção de caqui, que tem colheita prevista para março.
"Em algumas propriedades, as plantas estão fracas e houve um aborto significativo, o que poderá diminuir a produção", explicou.
Preços e recuperação do solo
Para o coordenador do mercado de hortifrutigranjeiros da Centrais de Abastecimento (Ceasa) de Campinas, Márcio Lima, não haverá falta de produtos na região, mas os preços de frutas como a uva, goiaba e pêssego devem variar no mercado, em virtude dos reflexos da crise. "Podemos ter dois casos.
Produtores que conseguiram manter qualidade terão a chance de ganhar um pouco mais, mas não deve passar de 10% o aumento.
Por outro lado, quem sofreu prejuízo terá de abaixar o valor para que a mercadoria não fique encalhada", explicou.
Segundo ele, a concorrência gerada pela variedade de frutas pode também amenizar a alta.
Produção de uva na região de Campinas, SP (Foto: Mariana Andretta / Prefeitura de Jundiaí)
Um levantamento semanal divulgado pela empresa na sexta-feira (7) indicou alta média de 8,9% para os principais produtos comercializados na cidade.
A maior variação, de 27,3%, foi do limão tahiti por causa do início do período de entressafra.
O pesquisador Orivaldo Brunini, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), disse que os dias seguidos de chuva nesta semana devem amenizar as dificuldades dos produtores da região.
Contudo, mantém cautela ao tratar sobre a recuperação dos cultivos.
"Até semana passada a situação estava brava, havia umidade do solo muito baixa e altas temperaturas que afetaram diversas culturas.
Sob o ponto de vista agrícola, é preciso que chova em torno de 200 milímetros por mês entre novembro e janeiro para recuperação."
De acordo com ele, a variação nos preços irá depender da capacidade dos produtores regionais em atender ao mercado e se haverá necessidade de compra dos outros estados.
"Pode ser que esse ano não tenha o excesso de períodos anteriores, quando a gente vê o pessoal vendendo caixas em esquinas.
Além disso, algumas frutas podem vir de outros estados, como Santa Catarina, embora haja gasto maior com transporte", explicou.
Já o economista Cândido Ferreira Silva Filho adota tom otimista ao avaliar que a possível "regularização" das chuvas irá permitir aumento de algumas produções de frutas e amenizar a tendência de aumento dos preços - uma vez que deve ocorrer aumento da demanda por algumas frutas nos próximos meses.
"A produção agrícola depende das condições climáticas.
Se houver persistência da falta de água, deve subir, mas se a chuva ocorrer dentro da expectativa, haverá estabilidade e queda nos preços", avaliou o professor da PUC-Campinas.
Apesar de crise, pêssegos chegam com boa qualidade ao mercado (Foto: Heitor Corrêa / Ceasa Campinas)
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