O depoimento de um dos
raríssimos
jornalistas que já tiveram a
oportunidade de entrevistar e
conhecer pessoalmente o bispo
Edir
Macedo
Edir Macedo na inauguração do Salomão (divulgação) |
Thales Guaracy, em seu blog
Eu sou um dos pouquíssimos
jornalistas que já tiveram a oportunidade de entrevistar e conhecer
pessoalmente o bispo Edir Macedo.
Fui recebido por ele quando trabalhava no
grupo Exame, anos atrás.
Ele havia acabado de comprar a TV Record e, depois de
muita insistência, concordou que eu escrevesse um perfil falando dele, de sua
igreja e da maneira como a organizava.
Edir chamava a atenção já no aperto de mão.
Vítima de uma má
formação, ele possui em ambas as mãos o polegar diminuto e a pele escamosa; a
sensação foi de que eu apertava uma rã.
Parece apenas um detalhe bizarro, mas a
deformidade de Edir tem um papel fundamental em sua história pessoal.
Ele se
culpava, ou a genes ruins, por ter tido uma filha com lábio leporino.
Buscara
ajuda na igreja católica, mas não encontrava consolo.
E
resolveu fundar sua própria igreja, primeiro subindo nas favelas do Rio de
Janeiro, depois pregando no seu primeiro centro de culto, uma loja aonde antes
funcionava uma funerária.
A igreja criada por Edir é um reflexo dele mesmo, uma panaceia que
junta retalhos de outras fés.
Embora sua base seja o Evangelho e a figura de
Jesus, como a maioria das seitas pentecostais, Edir misturou outros elementos,
da encenação do candomblé, com o exorcismo de pessoas supostamente tomadas pelo
demônio, às raízes judaicas do Velho Testamento.
Lá está o templo de Salomão,
conhecido como o “rei da sabedoria”, na verdade uma figura controvertida na
própria visão bíblica.
No Livro de Salomão, a sabedoria terrena na verdade é
vista criticamente, como a “vaidade das vaidades”, em oposição à simplicidade
da fé.
Sem importar-se em ser um teólogo capaz de fazer sentido, Edir é
na realidade um motivador de pessoas – aí reside seu talento.
Essa virtude lhe
permitiu não só conquistar acólitos como também ser um extraordinário formador
de quadros capazes de ampliar seu raio de ação.
É impressionante sua capacidade
de produzir “bispos” e pastores fiéis ao seu discurso, gestual e ideias.
Graças
ao seu trabalho de RH, Edir fez a Universal prosperar rapidamente no Brasil e
mundo afora.
É também um pastor com tino de empresário.
Para mim, reclamou que
a igreja era vista pela imprensa ingenuamente como uma exploradora do povo mais
pobre.
Para começar, dizia que não era o miserável que sustentava a Universal.
Na verdade ele enxergara um mercado: o trabalhador que tinha emprego e renda,
mas nenhuma perspectiva de subir na vida, por falta de oportunidade.
Seu
discurso sempre foi de que esse trabalhador pode conseguir mais, se tiver fé;
ele tem dinheiro para pagar o dízimo, e a fé que o inspira é uma “fé de
resultados” capaz de levá-lo a uma vida melhor.
A ideia de que ganhamos um lugar no Paraíso além da vida, pregada
pela Igreja Católica, nunca foi suficiente para Edir.
Ele sempre acreditou que
a igreja tem de dar respostas para o ser humano ainda em vida.
Sua igreja é
pragmática e não há dúvida de que ajuda muita gente.
Edir é polêmico porque é
impossível medir a relação entre o benefício que sua igreja traz aos seus
acólitos e o quanto do dinheiro arrecadado vai em benefício pessoal de seus
bispos e pastores.
Edir não vê nisso conflito de interesses, porque nunca
pregou o discurso da vida ascética nem defendeu qualquer espécie de voto de
pobreza.
Edir já foi preso por falsa ideologia, mas não apenas foi solto
como o juiz que mandou prendê-lo (por sinal com um nome bíblico, Abrão), acabou
sendo afastado para um fórum na periferia de São Paulo – foi para a geladeira.
O que era uma suposta defesa do público empreendida pelo justiceiro togado
acabou virando, aos olhos do Judiciário, uma inútil perseguição.
Não se pode
subestimar as pessoas que seguem a Universal, que têm o direito de escolher,
apoiar, pagar e professar a fé que quiserem, por mais descabida que possa
parecer.
E assim Edir vai conseguindo edificar o seu império, do qual o Templo
de Salomão, construção de proporções bíblicas numa das zonas mais abandonadas
do centro de São Paulo, é apenas o mais novo, extravagante e significativo
símbolo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário