Em carta, Susana detalha plano de resgate de R$ 300 mil.
Segundo delegado, pena mínima para sequestro com morte é maior.
Susana teria escrito em folhas de caderno o plano
do sequestro (Foto: Cristiane Cardoso/G1)
Mãe de manicure prestou depoimento na manhã
desta segunda (1°) (Foto: Cristiane Cardoso/G1)
desta segunda (1°) (Foto: Cristiane Cardoso/G1)
Susana está em Bangu (Foto: Divulgação / Seap)
"Pelo contexto, só pode ser do João", afirmou Omena.
"Se você envolver mais alguém ou a polícia, seu filho vai para você morto e picado em pedaços, entendeu?", diz trecho do texto.
Segundo o delegado, na carta feita em duas folhas de caderno, a manicure descreveu o plano, detalhando que ligaria para a escola, pegaria a vítima e reservaria o quarto de hotel. Durante a descrição da contabilidade, em momento algum, segundo Omena, Susana menciona pagamento a terceiros, reforçando a tese de que ela agiu sozinha. "Se ela ia pedir resgate depois, a gente não deu tempo para isso, pois ela ia pedir com a criança morta mesmo", disse.
No dia 25, Susana ligou para a escola onde João estudava se passando pela mãe dele, pediu que a criança fosse liberado da aula e o levou de táxi até um hotel, onde teria asfixiado o menino. O corpo foi achado em uma mala, na casa da manicure. O motivo ainda não ficou claro para a polícia, já que a manicure contou versões variadas da história.
A carta feita em duas folhas de papel foi encontrada na casa da manicure, mas, para o delegado, mesmo com os detalhes do plano de sequestro, Susana não tinha intenção de devolver o menino. “Em momento algum ela pensou em devolver a criança para a família. Uma coisa que me causou estranheza foi ela escrever para si mesma", disse Omena, ressaltando que vai analisar as ligações feitas e recebidas no celular da manicure.
A pena para sequestro com morte é maior do que homicídio qualificado, segundo o delegado. "Extorsão mediante sequestro com morte é a maior pena mínima, 24 a 30 anos", afirmou ele, acrescentando que para homicídio a pena mínima é de 12 anos e máxima 30 anos.
Pai de João Felipe deve ser ouvido
Além da mãe da manicure, também são esperados para prestar depoimento o pai do menino, Heraldo Bichara Jr, a camareira do Hotel São Luís, onde Susana disse ter matado João Felipe, e um amigo do taxista Rafael Fernandes, que entregou a suspeita à polícia.
Segundo Omena, o depoimento da mãe de Susana será importante para traçar o perfil psicológico da manicure. Sobre o depoimento do pai do menino, Heraldo Bichara Jr., o delegado espera esclarecer outras questões. "Vai ser uma peça fundamental. Vou ter que analisar o depoimento dele para concluir se ele era o alvo da conquista ou se pode ter descartado a Susana", afirmou.
Omena informou ainda que o depoimento de Aline Bichara narrou as inúmeras ligações que a suspeita fez para a mãe da vítima no dia do crime. "Ela ficou ligando insistentemente a chamando para ir para Volta Redonda. Ou ela estava monitorando a família ou a mãe era o alvo", concluiu.
Imagens de câmeras de segurança
Imagens de câmeras de segurança do Hotel São Luís, em Barra do Piraí, no Sul Fluminense, mostram os momentos em que a manicure entra com o menino andando e sai com o corpo dele no colo. O vídeo foi exibido no Fantástico deste domingo, 31.
Segundo o delegado, a mãe de João era amiga de Susana havia três anos, quando começou a fazer as unhas com ela. À polícia, Aline Bechara disse que vinha sendo procurada pela manicure para que viajassem juntas, o que não aconteceu. "Então ela foi pro plano B. Então ela investiu contra a criança", explicou Omena. "Quem mata o filho de um casal que conhece já sabe de antemão que vai atingir gravemente esse casal (...) Só se mata uma criança ou por vingança ou qualquer tipo de ira, né?"
O delegado informou ainda que em depoimento, Aline afirmou que não tinha informações sobre relacionamento do marido fora do casamento e que nucna passou por sua cabeça algum envolvimento com Susana. "Para a Aline, a Susana estava acima de qualquer possibilidade. A Aline considerava a Susana uma amiga", informou.
Susana, que está presa em penitenciária em Bangu, Zona Oeste do Rio, contou que queria apenas dar um "susto" na família. "Eu não queria fazer isso com a criança. Eu ia dar um susto. Só que acabou, as coisas acabaram acontecendo desse jeito. Eu tinha os motivos. Eu já falei pra eles o motivo que eu tinha", acrescentou, sem citar as razões.
Liberação da escola
Devido à amizade, a manicure conhecia a rotina da família, fato que facilitou a liberação de João do colégio, e não fez com que ele questionasse ser buscado por Susana, com quem foi brincando no táxi, segundo o motorista Rafael Fernandes. Por telefone, ela simulou para uma funcionária do colégio ser a mãe do menino e disse que a babá teria se enganado ao mandá-lo para a escola, e que iria pedir para alguém buscá-lo para uma consulta médica.
"Estava de cabelo escovado, estava maquiada, estava com uma bolsa bonita, de óculos escuro", descreveu o taxista.
Rafael foi o responsável por entregar Susana à polícia. A notícia do desaparecimento do menino rapidamente rodou a cidade depois que a mãe chegou para buscar João e foi informada de que alguém havia o levado antes. Eneas, taxista que pegou manicure e a criança no hotel e as levou para a casa dela, passou o endereço para os policiais. Rafael, que tinha os números da mulher no celular, marcou um encontro.
"Ela não queria entrar. Aí eu falei: 'Entra aqui que a gente só vai conversar'. Aí ela falou: 'Tá bom, vou confiar em você'. Foi na hora que ela entrou, eu travei a porta e fui embora", contou, lembrando que a manicure ficou muito nervosa e pediu que a soltasse.
Colégio instala câmeras
João Felipe tinha entrado no Colégio Medianeira em fevereiro. Junto com outras 27 crianças, cursava o 1º ano, no início da alfabetização. Segundo os professores, era uma criança alegre e inteligente e um dos primeiros a terminar as tarefas em sala de aula. Agora, o desafio dos funcionários e dos quase 600 alunos é tentar retomar a rotina a partir desta segunda.
"Tomaram-se algumas medidas. Houve instalação de monitoramento de câmeras, na entrada, externa, interna, nos corredores. Vai ser feito um trabalho com os pais, vai ser feito uma reunião com os pais, assim na retomada das aulas", disse a advogado da escola, Tânia Maria Moraes.
Os alunos terão ajuda de um psicólogo e de um padre e a turma de João Felipe vai estudar em uma nova sala. "Que isso, de certa forma, sirva de exemplo pra criar normas rígidas de conferência. Ah, a mãe ligou... Não pede telefone a quem ligou, não. Vai ligar para os telefones que estiverem constando na ficha. Se não atender, nada feito", disse Omena.
'Ambiciosa', diz parente
Uma parente de Susana, que não quer ser identificada, disse que a manicure era ambiciosa. "Fazia unha, tudo bem, mas pra ela era pouco. Gostava de se envolver com pessoas de dinheiro, essas coisas."
Crimes semelhantes
Coincidências ligam este crime a dois outros. Para matar Taninha em 1960, Neyde Maria Lopes fingiu ser a mãe da criança pra pedir que a menina saísse mais cedo da escola. Neyde, que ficou conhecida como "Fera da Penha", bairro do Rio onde aconteceu o caso, tinha a mesma idade de Susana quando cometeu o crime: 22 anos.
Em 2011, Luciene Reis Santana matou uma menina de 6 anos, mesma idade de João Felipe. O crime também foi cometido em um quarto de hotel, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. As duas mulheres tinham sido amantes dos pais das vítimas.
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