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sexta-feira, abril 12, 2013

A cultura do estupro gritando – e ninguém ouve

Como a essa altura vocês já devem saber, Gerald Thomas tentou colocar as mãos por dentro do vestido da Nicole Bahls durante um evento no Rio. 

Era noite de lançamento de um livro dele e a Livraria da Travessa estava lotada. Repórteres, cinegrafistas, funcionários da loja, clientes.

Pelas notícias, ninguém fez nada. 

Nas imagens dá para ver que o colega de trabalho de Nicole no Pânico continuou a entrevista como se nada tivesse acontecendo. 

Enquanto isso, Thomas enfiava a mão entre as pernas de Nicole e ela tentava se desvencilhar.

nicole bahls

Sempre rolam os xingamentos à mulher, claro. São os usuais: que ela estava pedindo, que ela estava gostando, que o trabalho dela é esse mesmo, que a roupa era justa. 

Vocês estão cansados de saber quais as justificativas injustificáveis para o assédio e a agressão sexual.

Mas duas coisas me chamam a atenção nesse caso. 

A primeira é ninguém ter feito nada. 

Acharem normal. Acharem aceitável. Se a agressão tivesse sido com uma atriz considerada recatada, as pessoas reagiriam da mesma forma?

Duvido. Indignar-se-iam, aposto. Muita gente nas redes sociais se posicionou e apontou o comportamento de Gerald Thomas como agressão, mas a imprensa tratou como algo que “Nicole não esperava”, mostrando o assunto como mero constrangimento.

Se a mulher geralmente já é tratada como “coisa”, como um objeto para deleite masculino, quando ela tem seu corpo e sua sexualidade transformada em um produto vendável, tudo só piora. 

Nicole faz sucesso porque tem um corpão, segundo os padrões de beleza atuais. 

Ela aparece de biquini na televisão, tira fotos “sensuais”, usa roupas curtas e provocantes

Como ela “provocou” (apenas sendo quem ela é), ela merece ser apalpada por um estranho.

Porém, não existe isso de “provocar”. Gerald Thomas não é um animal irracional. 

Ele – e eu e você – deve esperar o consentimento do outro para poder tocar em seu corpo. 

Nicole Bahls claramente disse “não”, ao tentar tirar as mãos de Thomas. 

Parece que não é suficiente, como não é suficiente quando viramos o rosto para evitar o beijo do desconhecido na balada.

Criou-se a ideia de que o homem deve insistir e insistir, enquanto a mulher tenta guardar algo. O “não” é visto como “talvez”. 

No entanto, se a mulher transforma o talvez em um “deixa pra lá”, ela na verdade não está consentindo. 

Não é um “sim” entusiasmado, intenso, certeiro, como deve ser em qualquer relação. 

É um “sim” por convenção social, por achar que ele já fez demais, que agora merece o contato sexual, que é melhor ceder e se livrar logo. Isso não é consentimento, é coerção.

O pior é que esses caras não se veem como agressores, uma vez que todo mundo encara tais comportamentos como “normais”. Brad Perry tem uma frase ótima em Yes Means Yes*: “estes homens acreditam piamente que “não” significa “insista”, e nunca se veem como estupradores, apesar de admitirem o padrão de ignorar e suprimir a resistência verbal e física”.

A segunda coisa que me incomoda no caso é terem dito “mas porque ela não fez algo?”. Infelizmente, a maior parte das pessoas que sofre algum tipo de agressão (não só sexual) não faz alguma coisa. 

Ser vítima é costumeiramente confundido com “ser frágil”. É difícil encarar polícia, legista, imprensa, opinião pública. No caso desse post, o cara estava agredindo na frente de todos – e ninguém fez nada.

Se fosse você a vítima, você não pensaria que a errada é você por não estar gostando, já que todo mundo está achando muito normal?

Lisa Jervis discorre sobre isso no mesmo livro: “estou falando de uma construção cultural nojenta, destrutiva, que encoraja as mulheres a culparem a vítima, a se odiarem, a se culparem, a se responsabilizarem pelo comportamento criminoso dos outros, a temerem seus próprios desejos e a desconfiarem dos seus próprios instintos”.

Se o corpo da mulher é ainda visto como “de todos”, como acontece no caso daquelas que usam a sexualidade para “vender”, fica ainda mais difícil ter noção de que o corpo lhes pertence. 

Que é só seu. 

Que ninguém, ninguém pode tocá-lo sem consentimento.

Acabarmos com a cultura do estupro é um processo social, coletivo, mas também individual. 

Nós temos que encarar nossos corpos como nossos e de mais ninguém, além de repensarmos o sexo, transformando-o no que realmente é: prazeroso e consensual. 

Qualquer coisa fora disso é agressão.

*Yes Means Yes é um livro de Jessica Valenti e Jaclyn Friedman sobre a cultura do estupro. É uma coletânea de artigos muito interessante e que recomendo muito. 

O texto de Brad Perry se chama Hooking up with healthy sexuality: the lessons boys learn (and don’t learn) about sexuality, and why a sex-positive prevention paradigm can benefit everyone involved. 

16 pensamentos em “A cultura do estupro gritando – e ninguém ouve

  • Fabio em disse:
    o que não saquei… esse cara não é baitolo?
    por que ele fez isso? pra chocar o pânico? a nicole…?

    Responder

    Nossa, que absurdo! Tem gente que ainda acha que o fato dela ser uma ‘panicat’ justifica isso? Ah não, pelamor… isso é algo irracional! Será que ninguém da TV vai fazer nada? Eu acredito que a Nicole não deva fazer, pelas notícias que rolam por ai ela quer muito ‘estar em evidência’ na mídia e se ela resolver brigar com isso vai acabar se dando mal… medo, né? A cultura do estrupo tá ai pra quem quiser ver, só não enxerga quem não quer, ÓTIMO texto btw… Beijos Nádia.


    Mesmo que ela estivesse pelada, ele não tem o direito de fazer isso. Um absurdo mesmo. O pior é pensar que de repente ela gostará de toda essa mídia em cima, pra poder se “destacar”.
     

    Ela estava lá cumprindo um papel. Reclamar e reagir, me parece, seria romper esse papel e poderia ter repercussões potencialmente desastrosas para ela profissionalmente. É a única explicação que consigo imaginar para o imenso autocontrole que ela parece demonstrar nessa situação.
    Apenas para esclarecer, eu não estou avaliando como certa ou errada a reação dela. É evidente que a atitude do boçal deveria ser repudiada e severamente punida. A mensagem que ele passa com a impunidade é, como sempre, a de que isso é tranquilo, apenas “inesperado”.

    Tive ânsia vendo as fotos, lembrei desse vídeo que rodou a internet uns 2 anos atrás, onde um escroto começa a encoxar uma reportes e NINGUÉM FAZ NADA. Que vontade de fugir do mundo.
    O vídeo é esse aqui : http://www.youtube.com/watch?v=kYmYA4ZPsIM&feature=related
    E uma entrevista com a repórter falando sobre o que aconteceu: http://sportsillustrated.cnn.com/2009/writers/jimmy_traina/07/09/heather.nicholes-not-happy-with-rampage-jackson/


    ele é um cara bizarro que gosta de chocar para vender (já mostrou a bunda em uma peça de teatro,por exemplo). mas, até onde se sabe, não é gay. até namorou atrizes famosas.

    “Se a agressão tivesse sido com uma atriz considerada recatada, as pessoas reagiriam da mesma forma?” – boa pergunta. A resposta provável é não. Dá para imaginar todo mundo achando normal se fosse a Angélica? Ou a Grazi? Ou a Mariana Ximenes?
    Isso aí é o que acontece na vida, no dia a dia. Se a mulher estiver vestida de forma recatada, falando baixo, não se sobressaindo… e algum babaca for assediar, todo mundo acha condenável. Se a mesma mulher estiver de vestido curto, um pouco “elegre” (bebeu um pouco)… aí o assédio pode e é justificável. (exemplifiquei assim por experiência própria)
    Não sei se a Nicole não reagiu firmemente porque estava em gravação do Pânico e queria preservar o emprego que acabou de reconquistar… e isso só ela sabe… mas penso que, com emprego ou sem emprego, já passou da hora de mulheres reagirem. A notícia deveria ser “Gerald Thomas é surpreendido com um tapa na cara ao tentar colocar as mãos em Nicole Bahls”.
    Eu acho a Nicole um desserviço à humanidade, e não por mostrar o corpo. Respeito a prostituição, pq não respeitaria a “panicatção”? É um desserviço ela, mesmo que indiretamente, ajudar no cultivo da imagem de mulheres extremamente saradas, que usam qualquer artifício para ficarem gostosas e, ainda por cima, ser bem burrinha para completar… Mas isso não justifica nenhum assédio ou abuso ser cometido contra ela ou contra qualquer outra.



    Que homem asqueroso! argh!
    Coitada da Nicole, muito degradante a forma como as meninas são tratadas no Pânico. Lembro de uma delas que foi obrigada a dar um looooongo beijo em um senhor ( idoso mesmo) sem dentes que é da equipe. Acho que foi a Juju. Ela ficou com ãnsia de vômito depois – e chorou.
    Mas é isso que tem pra elas, e elas pegam, se apegam e se submetem mesmo.
    Lamentável. Estragou minha tarde essa notícia nojenta.

    Concordo com o comentário do Tales. Só não entendo pq NINGUÉM mete o pau no programa mais machista e preconceituoso da TV: o Pânico. É uma afronta a todas as mulheres! Olhem o personagem do Ceará: “MECOME BALHS”. Assustador que essas mulheres se submetam a ganhar uma miséria pra serem humilhadas em troca de se manter na mídia.

    A hipocrisia é tanta que se fosse com a Sandy o rebuliço tomaria proporções inimaginávies, mas como é com uma pessoa que se beneficia de seu corpo para trabalhar (e, em hipótese alguma, estou desmerecendo esse fato) ninguém vai fazer nada. Acariciar (ou tentar acariciar) as partes íntimas de pessoa, após havê-la subjugado de alguma forma – pelo emprego de arma ou outra violência (violência é real, mediante intimidação capaz de anular a resistência normal da vítima, que foi o que aconteceu), É CRIME!!! A conduta ilícita, que antes era tipificada como atentado violento ao pudor não deixou de ser crime; agora, pelo artigo 215 do CP, passa a ser estupro, crime de ação penal pública condicionada à representação da vítima… aí é que está o problema. Nicole não vai representar por ser a parte fraca da história, ainda mais que acabou de voltar pra TV..
    Adendo: a cena é de causar repugnância, nojo, ânsia…


    Vim aqui só pra lembrar que esse comportamento duvidoso não é de hoje, vejam o linque para esse entrevista na qual a pessoa em questão insiste em falar nu, num quarto de hotel, para a repórter. Antes havia sugerido “um motel”.

    http://revistatpm.uol.com.br/45/vermelhas/01.htm

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