Dárcy Vera (PSD) foi presa em dezembro do ano passado na 2ª fase da Operação Sevandija. No mesmo julgamento, o ex-secretário de Educação Angelo Invernizzi também perdeu habeas corpus.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) revogou na tarde desta quinta-feira (18) a liminar que mantinha a ex-prefeita de Ribeirão Preto (SP) Dárcy Vera (PSD) em liberdade.
Ela foi presa em dezembro do ano passado na segunda fase da Operação Sevandija, mas obteve um habeas corpus nove dias depois.
Dárcy é acusada de chefiar um esquema que desviou R$ 45 milhões dos cofres públicos por meio de fraude nos pagamentos de honorários advocatícios no chamado "acordo dos 28%", resultante de uma ação movida por servidores municipais contra a Prefeitura, referente às perdas salariais do Plano Collor.
Segundo o ex-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais Wagner
Rodrigues, delator do esquema, Dárcy recebeu R$ 7 milhões em propina.
Por quatro votos a um, os ministros da 6ª Turma do STJ decidiram
restabelecer a prisão preventiva da ex-prefeita, o que significa que ela
deverá permanecer presa até o julgamento do caso.
"Para os ministros, é concreto o receio de que haja movimentação,
dissipação ou ocultação dos valores que se quer recuperar.
Apesar de já ter sido destituída do cargo, por sua notória influência regional, a ex-prefeita ainda pode obstaculizar a investigação", informou o STJ.
Apesar de já ter sido destituída do cargo, por sua notória influência regional, a ex-prefeita ainda pode obstaculizar a investigação", informou o STJ.
A quebra de sigilo fiscal e bancário de Dárcy, a pedido da Operação
Sevandija, indicou que Dárcy apresentou movimentação financeira
incompatível com rendimentos brutos declarados, no período de 2010 a
2015, o que pode configurar ocultação de suas fontes de recursos.
A advogada da ex-prefeita, Maria Cláudia Seixas, afirmou que vai
recorrer da sentença no Supremo Tribunal Federal (STF), mas disse que
Dárcy vai se apresentar à Justiça, sem especificar quando e onde isso
deve ocorrer.
Ainda no mesmo julgamento, a 6ª Turma do STJ também decidiu restabelecer a prisão preventiva do ex-secretário de Educação de Ribeirão Angelo Invernizzi.
A votação foi semelhante: quatro votos a favor da prisão - apenas o ministro Sebastião Reis votou pela liberdade.
Invernizzi foi preso em 1º de setembro, mas obteve habeas corpus concedido pelo STJ no dia 28 do mesmo mês.
Ele é acusado de receber R$ 100 mil de propina da Atmosphera Construções e Empreendimentos, terceirizada da Prefeitura.
Ele é acusado de receber R$ 100 mil de propina da Atmosphera Construções e Empreendimentos, terceirizada da Prefeitura.
A empresa é considerada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público
como uma espécie de “cabide de empregos” para cabos eleitorais indicados
por vereadores, em troca de apoio político ao governo da ex-prefeita na
Câmara Municipal.
Ainda segundo a Operação Sevandija, o ex-secretário também está
envolvido no suposto esquema de contratação de trabalhadores indicados
por vereadores para a Prefeitura de Ribeirão, por intermédio da
Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto (Coderp).
O advogado de defesa de Invernizzi, Ricardo Sayeg, disse que o
ex-secretário deve se apresentar à Justiça na manhã desta sexta-feira
(19).
A defesa também vai recorrer ao STF.
“A orientação é sempre de cumprir a ordem judicial”, afirmou Sayeg.
A defesa também vai recorrer ao STF.
“A orientação é sempre de cumprir a ordem judicial”, afirmou Sayeg.
Acusação contra Dárcy
Dárcy Vera foi denunciada em dezembro de 2016 pela Procuradoria-Geral
de Justiça, responsável por investigar e processar criminalmente os
prefeitos.
Ela é acusada de corrupção passiva, peculato e associação criminosa.
A Justiça também decretou a indisponibilidade de seus bens.
Ela é acusada de corrupção passiva, peculato e associação criminosa.
A Justiça também decretou a indisponibilidade de seus bens.
A ex-prefeita já estava sendo investigada desde a primeira fase da Operação Sevandija, que identificou fraude em contratos de licitações de R$ 203 milhões, pagamentos indevidos de honorários advocatícios pela Prefeitura e corrupção envolvendo nove vereadores da base aliada.
Segundo o procurador-geral Gianpaolo Smanio, os desvios em Ribeirão Preto formam um dos maiores escândalos de corrupção em prefeituras já investigados pelo Ministério Público paulista.
Ainda de acordo com Smanio, Dárcy continuou a operar o esquema, mesmo após ser alvo de investigação.
O esquema
Dárcy Vera, os ex-advogados do Sindicato dos Servidores Municipais,
Sandro Rovani e Maria Zuely Librandi, o ex-secretário de Administração
Marco Antônio dos Santos, e o advogado André Hentz são acusados de
peculato, corrupção passiva e ativa, falsidade ideológica e associação
criminosa.
Em delação premiada ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público (MP), Wagner Rodrigues deu detalhes sobre as planilhas apreendidas pela força-tarefa da Operação Sevandija,
Em um dos trechos da documentação, Rodrigues afirma que foram acertados
os pagamentos de R$ 7 milhões para a prefeita, R$ 2 milhões para Marco
Antônio dos Santos, e R$ 11,8 milhões para serem divididos entre ele e
Sandro Rovani.
Inicialmente, a Sevandija suspeitava que agentes públicos responsáveis
por liberar os pagamentos do acordo judicial exigiam que Maria Zuely,
que representou os servidores na ação movida em 1997, pagasse propina
para receber os valores que lhe eram devidos na causa.
Entretanto, documentos apontaram que, na verdade, houve um acerto entre
as partes muito antes dessa decisão judicial.
Para o Gaeco, o acordo só ocorreu para que o valor total dos honorários, cerca de R$ 69,9 milhões, fosse desviado dos cofres públicos e dividido entre os envolvidos.
Para o Gaeco, o acordo só ocorreu para que o valor total dos honorários, cerca de R$ 69,9 milhões, fosse desviado dos cofres públicos e dividido entre os envolvidos.
Segundo o Gaeco, o contrato firmado para que Maria Zuely trabalhasse para o Sindicato excluía qualquer possibilidade de cobrança de honorários por parte da advogada.
Entretanto, em 2003, após o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP)
dar ganho à causa movida por 3,5 mil funcionários públicos contra a
Prefeitura, Maria Zuely entrou em uma disputa para receber os valores
que alegava serem seus por direito.
A advogada contratou André Soares Hentz para representá-la na ação de
cobrança dos honorários, mas a causa sofreu consecutivas derrotas, até
que os recursos na primeira e na segunda instâncias foram esgotados.
A partir da delação premiada de Wagner Rodrigues, a força-tarefa
apreendeu provas de que Maria Zuely e Hentz procuraram os outros
envolvidos e passaram a prometer vantagens para que pudessem receber o
dinheiro.
Segundo o sindicalista, em reuniões na Prefeitura de Ribeirão Preto e
no escritório do advogado, Rovani, Rodrigues e Santos definiram como
seria feito o “termo de aditamento de acordo” para incluir o pagamento
dos honorários.
Ainda de acordo com Rodrigues, o documento foi assinado pela prefeita
Dárcy Vera em seu gabinete.
A chefe do Executivo tinha pleno conhecimento da manobra feita para garantir os pagamentos para que o grupo fosse privilegiado.
A chefe do Executivo tinha pleno conhecimento da manobra feita para garantir os pagamentos para que o grupo fosse privilegiado.
Em sua delação, Rodrigues informou que a ata de uma assembleia realizada no dia 20 de março de 2012 foi adulterada por ele e pelo então advogado do sindicato, Sandro Rovani.
Em votação anterior, os servidores já haviam decidido que não pagariam honorários advocatícios.
Mas, um parágrafo afirmando que os trabalhadores decidiram pela cessão
dos valores devidos foi incluído no documento.
O assunto sequer foi mencionado para discussão no documento original, que tratou apenas do reajuste salarial do funcionalismo.
O assunto sequer foi mencionado para discussão no documento original, que tratou apenas do reajuste salarial do funcionalismo.
De acordo com a Promotoria, o termo de aditamento previa redução dos juros de mora de 6% para 3%, e esse valor seria destinado à Maria Zuely, cerca de R$ 58 milhões.
Entretanto, o então secretário de Administração se utilizou de um jogo de planilhas e elevou o valor para R$ 69 milhões.
Para o Gaeco, todos os documentos apresentados induziram a Justiça a
erro e o pagamento dos honorários milionários foi autorizado.
Com isso, a quadrilha manteve os desvios planejados por anos a fio, inclusive porque o desvio do dinheiro público foi executado em parcelas mensais e o plano criminoso exigiu cumplicidade e organização de janeiro de 2009 a agosto de 2016.
Com isso, a quadrilha manteve os desvios planejados por anos a fio, inclusive porque o desvio do dinheiro público foi executado em parcelas mensais e o plano criminoso exigiu cumplicidade e organização de janeiro de 2009 a agosto de 2016.
O promotor Leonardo Romanelli afirmou que a análise bancária dos
suspeitos, assim como documentos apreendidos, apontam que o valor dos
honorários era depositado mensalmente na conta de Maria Zuely, e então
entregue aos demais envolvidos em dinheiro ou cheques.
Além do desvio de R$ 45 milhões dos cofres públicos, o esquema gerou um prejuízo de R$ 120 milhões aos servidores, que foram privados de receber os 6% de juros de mora referentes ao acordo inicial.