Como se sentem hoje os efeitos da Reforma Protestante em um continente majoritariamente católico? O jubileu é uma oportunidade para a Igreja reformada por Lutero ganhar mais seguidores.
Por Deutsche Welle
O protestantismo na América Latina vai além da imigração alemã.
Ele é bastante diversificado e inclui muitas igrejas e missões diferentes.
Ao mesmo tempo, o continente é o mais forte bastião do catolicismo.
De quase 1,3 bilhão de católicos no mundo, cerca de metade vive na América Latina.
Por causa disso, o maior desafio para o protestantismo é ser percebido.
A celebração dos 500 anos da Reforma em 2017 é uma ótima oportunidade para isso.
Ele é bastante diversificado e inclui muitas igrejas e missões diferentes.
Ao mesmo tempo, o continente é o mais forte bastião do catolicismo.
De quase 1,3 bilhão de católicos no mundo, cerca de metade vive na América Latina.
Por causa disso, o maior desafio para o protestantismo é ser percebido.
A celebração dos 500 anos da Reforma em 2017 é uma ótima oportunidade para isso.
A maioria das igrejas luteranas é ligada à Federação Luterana Mundial
(FLM).
"Na América Latina, temos cerca de 850 mil membros, em 17 igrejas afiliadas de 15 países", disse a pastora Patricia Cuyatti à DW.
Ela lidera a seção da América Latina e Caribe na FLM.
Muitas igrejas membros na região têm uma longa tradição.
As mais antigas, na Guiana e no Suriname, existem há 275 anos.
"Na América Latina, temos cerca de 850 mil membros, em 17 igrejas afiliadas de 15 países", disse a pastora Patricia Cuyatti à DW.
Ela lidera a seção da América Latina e Caribe na FLM.
Muitas igrejas membros na região têm uma longa tradição.
As mais antigas, na Guiana e no Suriname, existem há 275 anos.
Protestantismo fragmentado
Além das igrejas evangélicas de origem alemã, há também as que vieram
de outros países europeus ou dos Estados Unidos, como o Sínodo de
Missouri.
"Ambas as ramificações fundaram suas próprias igrejas e nem sempre estavam em contato, o que explica a fragmentação do protestantismo na América Latina", esclarece o teólogo e cientista político Daniel Lenski.
"Ambas as ramificações fundaram suas próprias igrejas e nem sempre estavam em contato, o que explica a fragmentação do protestantismo na América Latina", esclarece o teólogo e cientista político Daniel Lenski.
As comunidades com maior número de fiéis se concentram nas regiões onde
foi mais forte a imigração dos países de língua alemã: na Argentina,
com a Igreja Evangélica do Rio da Prata, e no Brasil, com a Igreja
Evangélica de Confissão Luterana (IECLB).
Nos últimos anos, Cuyatti vem observando também uma disseminação
crescente em outros países: "Existe uma forte presença evangélica na
América Central, especialmente na Nicarágua, em El Salvador e na Costa
Rica, e com um forte envolvimento no processo de paz e no equilíbrio
social."
A pastora salienta ainda a contribuição ecumênica das igrejas protestantes na Colômbia e no Peru para o Ano da Reforma e o engajamento em prol da população indígena na Bolívia.
A pastora salienta ainda a contribuição ecumênica das igrejas protestantes na Colômbia e no Peru para o Ano da Reforma e o engajamento em prol da população indígena na Bolívia.
Nem todas as igrejas protestantes estão ligadas à Federação Mundial.
Um exemplo é a Igreja Evangélica Luterana da Argentina, fundada no final do século 19 por imigrantes teuto-russos da região do Volga.
Um exemplo é a Igreja Evangélica Luterana da Argentina, fundada no final do século 19 por imigrantes teuto-russos da região do Volga.
Isolamento e ideologia
No início, as comunidades religiosas dos imigrantes eram bastante
fechadas.
"Com muito zelo, os imigrantes procuraram preservar sua cultura, sua fé e seus costumes, e foi difícil se abrir a quem não fosse de origem alemã", observa o pastor argentino Carlos Nagel, filho de um alemão e uma lituana que emigraram para a Argentina nos anos 1920.
"Com muito zelo, os imigrantes procuraram preservar sua cultura, sua fé e seus costumes, e foi difícil se abrir a quem não fosse de origem alemã", observa o pastor argentino Carlos Nagel, filho de um alemão e uma lituana que emigraram para a Argentina nos anos 1920.
"Assim como o idioma, a religião tem um papel importante na preservação
da identidade", explica Lenski, cujo trabalho de doutorado é sobre a
história da Igreja Protestante no Chile.
"Para muitas comunidades, divulgar o evangelho e preservar a cultura alemã eram a mesma coisa", diz.
"Para muitas comunidades, divulgar o evangelho e preservar a cultura alemã eram a mesma coisa", diz.
Isso se refletiu também na época do regime nazista na Alemanha: "Na
Argentina, no Brasil e no Chile, muitos pastores se opuseram ao nazismo,
mas não foi a maioria", explica o teólogo.
Também a relação com as ditaduras militares latino-americanas revelaram
discórdias dos evangélicos.
Para Lenski, essa disparidade já havia sido estabelecida pelo próprio pai da Reforma.
Para Lenski, essa disparidade já havia sido estabelecida pelo próprio pai da Reforma.
"Lutero tinha opiniões bastante diferentes e contraditórias sobre a
situação política de seu tempo.
E as igrejas evangélicas interpretaram essas declarações de forma muito variada.
Algumas achavam que era dever da Igreja ajudar as vítimas da opressão.
Outras preferiram se concentrar nos serviços religiosos", conta Lenski.
E as igrejas evangélicas interpretaram essas declarações de forma muito variada.
Algumas achavam que era dever da Igreja ajudar as vítimas da opressão.
Outras preferiram se concentrar nos serviços religiosos", conta Lenski.
"Uma razão importante para a divisão da Igreja protestante nos anos
1970 no Chile foi a disputa sobre a atitude em relação aos direitos
humanos e também a falta de consenso sobre como a própria Igreja se
via", explica o teólogo.
Enquanto isso, a Igreja Evangélica de El Salvador, liderada pelo
carismático bispo Medardo Gómez, trilhou um caminho muito diferente:
apesar da forte pressão da ditadura naquela época, ela insistiu
firmemente nos direitos humanos, servindo de modelo para outras Igrejas.
Embora ainda modesta, a Igreja Protestante representa uma alternativa
real à onipresente hegemonia da Igreja Católica na América Latina, de um
lado, e às inúmeras igrejas pentecostais, do outro, aponta Lenski.
"A Igreja Evangélica é uma opção para os cristãos à procura de pastores
bem formados.
É uma alternativa intelectual à Igreja Católica, e oferece uma teologia mais sofisticada que a dos pentecostais", analisa.
É uma alternativa intelectual à Igreja Católica, e oferece uma teologia mais sofisticada que a dos pentecostais", analisa.
Engajamento social
As igrejas protestantes da América Latina apoiam uma série de
atividades, que vão desde o setor social, passando pela política
ambiental, direitos das mulheres, redução da pobreza, prevenção da
violência e plataformas ecumênicas. Isso a torna atraente para quem
busca um cristianismo participativo.
Os preparativos para o Ano do Jubileu da Reforma começaram há vários anos.
"Um dos lemas do aniversário é 'a salvação não está à venda'", conta Lenski, referindo-se aos movimentos pentecostais que clamam por ricas doações em seus cultos.
"A crença central da fé luterana é completamente o oposto: Deus te ama,
sem olhar para o que você é ou o que você tem.
Considerando a pobreza no mundo e a vontade de algumas pessoas de enriquecer usando a religião, esta mensagem hoje é tão relevante quanto no século 16", conclui o teólogo.
Considerando a pobreza no mundo e a vontade de algumas pessoas de enriquecer usando a religião, esta mensagem hoje é tão relevante quanto no século 16", conclui o teólogo.