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terça-feira, julho 05, 2022

Prisão de Flordelis leva ao fechamento da última igreja fundada pela ex-deputada

Por Carolina Heringer

 03/07/2022. 04h30.

Justiça mantém prisão de Flordelis. Ex-deputada ficará em Bangu.


A prisão da pastora e ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, em agosto do ano passado, fez com que a última das igrejas fundadas por ela — a unidade do Mutondo, em São Gonçalo — fechasse as portas. 

Antes do assassinato de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, o Ministério Flordelis tinha, além da sede, cinco filiais, um novo templo sendo construído e milhares de seguidores. 

Após o crime, em junho de 2019, as igrejas mergulharam em uma crise que chegou ao seu ápice quando Flordelis foi para trás das grades, acusada de ser mandante do crime. 

Depois de dois adiamentos, seu julgamento foi marcado para dezembro. 

Ela nega participação na morte.

A morte de Anderson, principal administrador dos templos, foi o primeiro baque. 

Em seguida, a revelação de uma trama que tinha acontecido dentro da família levou embora não apenas fiéis, como pastores, alguns do próprio núcleo familiar, com importantes funções nas igrejas. 

Aos poucos, as filiais no Jardim Catarina, em São Gonçalo; Pendotiba e Piratininga, em Niterói; em Itaboraí e Itaipuaçu, em Maricá, foram encerrando as atividades. 

Por último, fechou a sede.

Fábrica de lajes.

Com o fim dos cultos, os pastores migraram para outras igrejas em suas regiões de atuação ou fundaram novos templos, levando consigo parte dos fiéis que frequentavam o Ministério Flordelis. 

O último a fazer esse movimento foi Gerson da Conceição, o Gerson Baiano, considerado filho pela ex-deputada.

O pastor permaneceu no comando da sede do Mutondo até o seu encerramento, após a prisão da ex-deputada. 

Depois, abriu sua própria igreja, a Comunidade Evangélica Manassés, que fica a cerca de um quilômetro da antiga sede.

Integrantes da numerosa família — Flordelis tem mais de 50 filhos — chegaram a passar o ponto do Mutondo para outra igreja — a Assembleia de Deus Ministério Saracuruna. 

Também foi acordada a venda de todo o mobiliário do Ministério Flordelis, além de equipamentos. 

A nova igreja chegou a funcionar por algumas semanas, mas representantes do templo voltaram atrás e desistiram do negócio. 

Atualmente, no local, funciona uma fábrica de lajes.

Anderson e Flordelis pregam na igreja principal antes do crime — Foto: Divulgação

Outro filho afetivo de Flordelis, Carlos Ubiraci contou com a ajuda da mulher para fundar uma nova igreja enquanto estava atrás das grades, também acusado de envolvimento na morte de Anderson. 

Até ser preso, em agosto de 2020, Carlos era o responsável pela filial de Piratininga. 

Ele também havia se tornado presidente do Ministério Flordelis. 

No fim daquele ano, rompeu com a pastora após a mulher e as filhas terem sido expulsas da casa da família.

Sem liderança.

Em setembro de 2021, foi fundado o Ministério Yeshua, em Piratininga, com a participação de antigos membros do Ministério Flordelis. 

Em maio deste ano, ao ser absolvido da participação na morte de Anderson, Carlos assumiu as pregações na nova igreja, da qual é presidente.

A antropóloga Carly Machado, que estudou o Ministério, afirma que o fechamento das igrejas pode ser atribuído não só ao escândalo com o crime, mas também às dificuldades administrativas que passaram a ocorrer:

— O que aconteceu não foi apenas pelo crime. 

É claro que o escândalo foi muito vultoso, midiático, gerou muito desgaste para os membros da família. 

Mas o problema é que, mesmo que haja pessoas que possam não estar convencidas de quem tem culpa (do crime), faltam figuras centrais, como eram Anderson e Flordelis. 

É muito difícil sustentar o projeto assim.

Carly relembra que a saída da igreja de outro filho afetivo, Wagner Andrade Pimenta, o Misael, também teve grande impacto, uma vez que ele auxiliava Anderson nas questões administrativas e financeiras. 

Após o crime, Misael rompeu com a mãe. 

Apesar de ser pastor, ele não costumava pregar. 

Com o assassinato de Anderson, passou a frequentar outra igreja, mas sem cargo.

Junto com Misael, dias após Anderson ter sido assassinado, o também filho afetivo Alexsander Felipe Matos Mendes, conhecido como Luan, rompeu com a mãe e se afastou. 

Importante membro na sede, no Mutondo, atualmente ele é pastor auxiliar no CEI Trindade, também em São Gonçalo.

Os pastores Moisés e Gessica Muniz, que eram responsáveis pela filial de Itaboraí, desligaram-se do Ministério Flordelis um mês após o crime. 

O casal, que tem o pastor Anderson como grande mentor religioso, relata que a decisão de montar uma igreja foi natural, fruto do contato que mantiveram com os antigos fiéis. 

Segundo Moisés, eles continuaram dando apoio aos ex frequentadores do Ministério, mesmo afastados.

— A gente começou a entender, como está na Bíblia, que Deus dá pastores às ovelhas e não ovelhas aos pastores. 

E a gente começou um processo novo, uma nova igreja — explica Moisés, que fundou, com a mulher, a Igreja Cema.

— Olho para as pessoas que fazem parte da igreja Cema  e eu vejo um povo muito resiliente. 

Um povo que conseguiu superar a dor, a frustração, a decepção e conseguiu entender que Jesus é o alvo da nossa vida. 

Estamos felizes, caminhando. 

Tem chegado pessoas novas e muita gente permaneceu conosco — acrescenta a pastora Géssica.

Em depoimento à polícia, Flordelis afirmou que suas igrejas chegaram a ter receita de mais de R$ 2 milhões mensais em 2018, valor do qual ela afirmou só ter tomado conhecimento após o crime. 

As despesas também eram altas, uma vez que todos os templos funcionavam em imóveis alugados. 

Além disso, a família gastava altas quantias com a construção de uma nova sede no Laranjal, em São Gonçalo, um projeto principalmente do pastor Anderson. 

O local abrigaria cinco mil fiéis.. 

A obra foi assumida por outro pastor, Leonardo Sale, da Catedral IPTM, que abriu uma filial no local.

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Quatro filhos do casal são presos na casa da família, em Pendotiba, Niterói, por suspeita de envolvimento na morte do pastor Anderson. — Foto: Reprodução / TV Globo.
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A deputada Flordelis, em setembro de 2019, no Conselho Tutelar de Pendotiba, onde foi prestar esclarecimentos sobre filha que não possui certidão de nascimento. — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo.
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Por ter foro privilegiado, deputada Flordelis não pôde ser presa na operação batizada de Lucas 12. 
 
Caso foi encaminhado para o Superior Tribunal de Justiça — Foto: Michel Jesus
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Flordelis foi indiciada por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização criminosa majorada. — Foto: Reprodução
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Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, preso logo após o enterro de Anderson, em 17 de junho de 2019 — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo.
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Filho adotivo do casal, Lucas César dos Santos também preso. 
 
Ele foi identificado pela polícia como a pessoa que comprou a arma utilizada no assassinato. 
 
— Foto: Reprodução TV Globo.
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Flordelis com os 55 filhos. 
 
Em depoimento a policiais da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, alguns filhos fizeram relatos que colocaram a deputada na mira da investigação. 
 
Onze pessoas foram responsabilizadas criminalmente pelo assassinato do pastor. — Foto: Divulgação.
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Laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) confirma que a pistola encontrada na casa de Flordelis foi usada na morte do pastor Anderson do Carmo. — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo.
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Ainda de acordo com depoimentos de filhos de Flordelis, a deputada teria manipulado os acusados do crime, Flávio e Lucas, para que cometessem o assassinato. — Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo.
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Flordelis e policiais durante a reconstituição do crime, na madrugada de 22 de setembro de 2019. 
 
Segundo a delegada, deputada deu declarações diferentes durante a reconstituição do crime. — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo.
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O mistério da pulseira: deputada aparece, em julho de 2019, em um culto usando a joia de ouro que ela disse ter sumido após a morte do pastor Anderson. — Foto: Reprodução.
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Filhos de Flordelis fazem ato em homenagem ao pai, em julho de 2019. 
 
No trajeto entre ponto de encontro e o Memorial Parque Nycteroy, onde Anderson foi enterrado, grupo gritava frases como "cadê o celular?" e "a pulseira já achou", em referência às provas do crime.
 
— Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo.
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Flordelis no enterro do marido, o pastor Anderson do Carmo. 
 
Na ocasião, ela disse que o pastor teria sido morto durante um assalto e tinham sido seguidos por suspeitos em uma moto quando retornavam para casa. — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo. 
 
COMENTÁRIO:

"Em setembro de 2021, foi fundado o Ministério Yeshua, em Piratininga, com a participação de antigos membros do Ministério Flordelis. 

Em maio deste ano, ao ser absolvido da participação na morte de Anderson, Carlos assumiu as pregações na nova igreja, da qual é presidente".

Não tomaram vergonha na cara, movidos pela conquista do dinheiro fácil, deram continuidade a fundação de outras "Arapucas", e "Ratoeiras", com nomes de "Igrejas", para continuarem enganando, iludindo, e extorquindo o bolso dos adeptos que frequentam tais grupos religiosos, com títulos de "Igrejas". 

Valter Desiderio Barreto.

Barretos, São Paulo, 05 de julho de 2022.

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