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sábado, outubro 02, 2021

Após falar sobre abuso que sofreu de ginecologista, jovem inspira prima a também denunciar que foi vítima do médico, em Anápolis

Polícia Civil montou força-tarefa para atender mulheres que relataram abusos; já foram ouvidas cerca de 50 pacientes. Profissional está preso preventivamente e nega os crimes.

Por Vanessa Martins, g1 Goiás

Kethlen Carneiro denunciou abuso por ginecologista — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Kethlen Carneiro denunciou abuso por ginecologista — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal.

Após contar que foi abusada sexualmente por ginecologista quando tinha 12 anos, a aromaterapeuta Kethlen Carneiro, agora com 20, se tornou referência para uma prima. Segundo a jovem, uma parente se sentiu inspirada e também prestou depoimento na Polícia Civil relatando o que passou durante consulta com o médico Nicodemos Júnior Estanislau Morais, 41.

O profissional foi preso na quarta-feira (29) e está detido em cela especial após passar por audiência de custódia em Anápolis, a 55 km de Goiânia. A defesa dele afirma que o cliente não cometeu nenhum dos crimes.

Durante uma conversa ainda em 2020, Kethlen contou à prima sobre a consulta que teve com o médico aos 12 anos e como ele havia agido. Na ocasião, a parente compartilhou que, naquele ano, tinha passado por uma situação muito parecida com o mesmo médico.

“Em algum momento a gente chegou nesse assunto, eu falei para ela [que havia sofrido o abuso] e ela falou: ‘Também fui a esse ginecologista e aconteceu isso comigo’”, recordou Kethlen.

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Ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos, chegando em audiência de custódia, em Anápolis — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

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Segundo ela, nenhuma das duas conseguiu denunciar à época, mas tudo mudou depois que a Polícia Civil prendeu o ginecologista com base nos relatos de outras mulheres que também se sentiram abusadas. Kethlen criou coragem para falar sobre a situação e acabou inspirando a prima.

“Ela foi ontem [sexta-feira] à Polícia Civil. No nosso caso foi uma coincidência sermos da mesma família, nem foi indicação. Todo mundo da família está muito revoltado, muito chocado”, comentou.

Em seu depoimento, Kethlen contou que o médico mostrou material pornográfico e até fez com que ela o tocasse.

“Ele veio me falar que eu podia começar a me masturbar. Me mostrou histórias em quadrinho pornô e vídeos. Me mandando os links e quais eu podia assistir. Depois levantou, pegou minha mão e colocou nele, na parte íntima dele", contou.
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Kethlen foi a única denunciante do caso que se identificou e, com isso, acabou se tornando referência para outras mulheres. Ela contou que muitas pessoas a procuraram para agradecer e parabenizar pela coragem.

“Muitas meninas me procuraram, mandaram relatos que estavam com medo de denunciar. [...] Algumas vieram me contar que, mesmo sendo mais velhas, não souberam identificar que era um abuso. Acharam estranho, mas não sabiam", completou.

A jovem também comentou sobre a importância de denunciar. Segundo ela, apesar de ser difícil lembrar do que aconteceu, considera essencial que as pessoas que foram abusadas não deixem de falar sobre o caso.

“A proporção que tudo tomou é assustadora, mas fiquei feliz de poder ajudar algumas meninas a tomarem essa coragem. Sinto que a justiça está sendo feita”, concluiu.
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Relatos

A Polícia Civil já reuniu dezenas de relatos similares aos de Kethlen. Em uma das denúncias, uma mulher disse que o médico enviou mensagens de cunho sexual após ela questioná-lo sobre um método contraceptivo.

Outra paciente disse que, durante uma consulta, o médico elogiou seus olhos e também o órgão sexual. Em seguida, perguntou sobre sua relação sexual com o marido.

“Eu fiquei congelada, e ele fazendo manipulações, isso tudo com os dois dedos introduzidos na minha vagina. Eu não consegui nem respirar no momento. É uma situação que a gente nunca espera que vá acontecer”, contou.

Ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Investigação

A delegada Isabella Joy está responsável pela investigação das denúncias de abuso sexual contra o ginecologista. Segundo ela, foi montada uma força-tarefa para atender as mulheres que entraram em contato para contar que também foram alvos do médico.

A Polícia Civil já recebeu mais de 50 contatos de pacientes que relataram que foram abusadas sexualmente pelo profissional.

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“Temos diversos relatos de vítimas que ele tentou agarrar, beijar, fez que tocassem nos órgãos genitais dele, vítimas que ele abusou durante o parto, que sofreram depressão pós-parto por causa dele”, descreveu Isabella.

O ginecologista é investigado por importunação sexual, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou, por meio de nota, que "vai apurar o caso e a conduta do médico no exercício profissional".

 

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