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Flaviana vive em um apartamento com os cinco filhos — Foto: Inter TV Cabugi/Reprodução.
Flaviana com três de seus cinco filhos — Foto: Inter TV Cabugi/Reprodução.
Flaviana Bezerra tem 44 anos e trabalha na DHPP da Polícia Civil — Foto: Cedida.
5 de agosto de 2018.
O que parecia ser mais um dia comum de plantão na Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) em Natal acabou se tornando um divisor de águas na vida da policial civil Flaviana Bezerra.
Foi neste dia, durante as primeiras investigações de um crime, que, mesmo sem saber, ela começava a adotar seus cinco filhos.
O que parecia ser mais um dia comum de plantão na Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) em Natal acabou se tornando um divisor de águas na vida da policial civil Flaviana Bezerra.
Foi neste dia, durante as primeiras investigações de um crime, que, mesmo sem saber, ela começava a adotar seus cinco filhos.
Flaviana lembra com clareza daquele 5 de agosto de 2018.
Era domingo e a agente acabara de voltar das férias para o trabalho.
"Esse foi um dia muito difícil porque meu pai teve uma suspeita de infarto e por causa disso meu irmão também passou mal.
Meus colegas queriam que eu não fosse trabalhar para ficar com ele, mas meu pai melhorou e eu fui para o plantão", conta.
Era domingo e a agente acabara de voltar das férias para o trabalho.
"Esse foi um dia muito difícil porque meu pai teve uma suspeita de infarto e por causa disso meu irmão também passou mal.
Meus colegas queriam que eu não fosse trabalhar para ficar com ele, mas meu pai melhorou e eu fui para o plantão", conta.
Às 22h, Flaviana e uma equipe da DHPP foram acionadas para uma
ocorrência em Parnamirim, na Região Metropolitana de Natal.
Um homem havia sido assassinado a tiros na frente do neto e de cinco filhos.
Eram três crianças, dois adolescentes e um bebê de 11 meses.
Um homem havia sido assassinado a tiros na frente do neto e de cinco filhos.
Eram três crianças, dois adolescentes e um bebê de 11 meses.
"Quando estávamos na cena do crime apareceu uma mulher dizendo que seis
crianças estavam chorando por causa do pai numa casa próxima.
Fui até eles com minha equipe e eles estavam com medo, diziam que a gente era do Conselho Tutelar e que iria separá-los", conta.
As crianças e adolescentes que viram o pai ser assassinado também perderam a mãe, três anos antes, em 2015.
Ela morreu durante uma cirurgia.
Fui até eles com minha equipe e eles estavam com medo, diziam que a gente era do Conselho Tutelar e que iria separá-los", conta.
As crianças e adolescentes que viram o pai ser assassinado também perderam a mãe, três anos antes, em 2015.
Ela morreu durante uma cirurgia.
Nesse momento, Flaviana começava a se tornar mãe, algo que nunca
planejou.
Ainda na noite do crime, em agosto de 2018, a policial foi até a casa onde as crianças moravam e se impressionou com o que viu.
"Tinha muito lixo na casa e não tinha um grão de comida.
Eles trabalhavam catando lixo na rua e estavam passando fome", conta.
Ainda na noite do crime, em agosto de 2018, a policial foi até a casa onde as crianças moravam e se impressionou com o que viu.
"Tinha muito lixo na casa e não tinha um grão de comida.
Eles trabalhavam catando lixo na rua e estavam passando fome", conta.
Comovidos com a situação, os policiais da DHPP levaram as crianças para
a casa de uma tia, que não as recebeu muito bem, segundo Flaviana.
"Eles também não poderiam ficar lá porque a tia não tinha condições e por outros motivos.
Também não podiam ficar na casa onde moravam porque o assassino do pai poderia morar na região", explica.
"Eles também não poderiam ficar lá porque a tia não tinha condições e por outros motivos.
Também não podiam ficar na casa onde moravam porque o assassino do pai poderia morar na região", explica.
Dos seis, cinco são irmãos.
O mais novo do grupo tinha 11 meses e é filho da mais velha, que tinha 15 à época.
Eles permaneceram na casa da tia por algumas semanas.
Flaviana escreveu um texto pedindo doações e divulgou no grupo interno de WhatsApp da Polícia Civil.
Com o dinheiro arrecado, a agente comprou alimentos e deixou na casa da tia das crianças.
O mais novo do grupo tinha 11 meses e é filho da mais velha, que tinha 15 à época.
Eles permaneceram na casa da tia por algumas semanas.
Flaviana escreveu um texto pedindo doações e divulgou no grupo interno de WhatsApp da Polícia Civil.
Com o dinheiro arrecado, a agente comprou alimentos e deixou na casa da tia das crianças.
No entanto, o texto que Flaviana havia compartilhado entre os colegas
de profissão vazou do grupo da corporação e as doações aumentaram
consideravelmente.
O recurso arrecadado daria para pagar o aluguel de uma casa para os seis durante um ano.
Flaviana consultou um promotor para tratar juridicamente da possibilidade.
O recurso arrecadado daria para pagar o aluguel de uma casa para os seis durante um ano.
Flaviana consultou um promotor para tratar juridicamente da possibilidade.
"Eu fiquei com medo quando vi o dinheiro porque ele estava na minha
conta pessoal.
Por isso consultei o promotor para abrir uma conta para eles, mas ninguém era responsável por eles.
Com tudo ok, aluguei a casa para eles e fiz umas compras.
Isso tudo com meus amigos da DHPP.
Também pedi ajuda do Estado para matricular eles na escola.
Uma parente deles veio para morar com eles na casa alugada", diz a policial civil.
Por isso consultei o promotor para abrir uma conta para eles, mas ninguém era responsável por eles.
Com tudo ok, aluguei a casa para eles e fiz umas compras.
Isso tudo com meus amigos da DHPP.
Também pedi ajuda do Estado para matricular eles na escola.
Uma parente deles veio para morar com eles na casa alugada", diz a policial civil.
A essa altura, a policial civil conta que já estava bem envolvida com
as crianças e adolescentes, que conheceu em uma cena de crime.
"O vínculo afetivo já era muito forte.
Eles eram muito inocentes, no dia que o pai morreu eles disseram que antes estavam muito felizes porque tinham comido pizza pela primeira vez.
Tinham uma admiração enorme pelo pai, gostavam muito dele", lembra.
"O vínculo afetivo já era muito forte.
Eles eram muito inocentes, no dia que o pai morreu eles disseram que antes estavam muito felizes porque tinham comido pizza pela primeira vez.
Tinham uma admiração enorme pelo pai, gostavam muito dele", lembra.
A história começa a mudar quando a tia responsável por morar com o
grupo na casa alugada resolve sair da cidade.
Os meninos e meninas não poderiam ficar sozinhos e seriam levados para um orfanato do estado.
"Fiquei preocupada com isso, os mais novos poderiam ser adotados, mas os mais velhos ficariam numa instituição até completar 18 anos.
E depois?", relembra Flaviana.
Os meninos e meninas não poderiam ficar sozinhos e seriam levados para um orfanato do estado.
"Fiquei preocupada com isso, os mais novos poderiam ser adotados, mas os mais velhos ficariam numa instituição até completar 18 anos.
E depois?", relembra Flaviana.
É neste momento em que a policial decide fazer a adoção.
"Não é uma escolha fácil.
Não é como um cachorrinho que você pega para criar.
Eu nunca tive esse sonho tradicional de casar e ter filhos, mas aconteceu e acredito que não foi por acaso.
No começo foi mais difícil ainda, mas hoje as crianças são muito minhas e eu sou muito delas.
Eles são apaixonados pela minha família e minha família por eles.
Foi a adoção familiar completa", diz.
"Não é uma escolha fácil.
Não é como um cachorrinho que você pega para criar.
Eu nunca tive esse sonho tradicional de casar e ter filhos, mas aconteceu e acredito que não foi por acaso.
No começo foi mais difícil ainda, mas hoje as crianças são muito minhas e eu sou muito delas.
Eles são apaixonados pela minha família e minha família por eles.
Foi a adoção familiar completa", diz.
"Você precisa repensar toda uma vida e fazer renúncias.
Baladas, distrações, viagens, a gente repensa tudo isso.
Mas no fim das contas, isso é mais importante que as crianças?
Quando boto no balança fica tão desproporcional.
As crianças são muito mais importantes que tudo isso".
Flaviana, que tem 44 anos, oficializou o pedido pela guarda dos filhos
em agosto do ano passado.
Em novembro saiu a confirmação.
Ela conseguiu a guarda de cinco: dois meninos de 2 e 11 anos; e três garotas de 8, 13 e 16 anos de idade.
A mais velha do grupo de seis, que atualmente está prestes a fazer 18 anos decidiu morar só.
Em novembro saiu a confirmação.
Ela conseguiu a guarda de cinco: dois meninos de 2 e 11 anos; e três garotas de 8, 13 e 16 anos de idade.
A mais velha do grupo de seis, que atualmente está prestes a fazer 18 anos decidiu morar só.
Vivendo com os cinco filhos em casa, a policial segue trabalhando
durante a pandemia do novo coronavírus.
Para evitar o contágio pela Covid-19, ela está há quase dois meses mantendo o distanciamento social dos filhos.
Para evitar o contágio pela Covid-19, ela está há quase dois meses mantendo o distanciamento social dos filhos.
"Já fiz um teste que deu negativo, mas o medo é grande de me contaminar
e trazer o vírus para dentro de casa.
É uma angústia muito grande.
Como policial civil não posso parar, mas esperamos que essa pandemia passe o mais rápido possível.
Alguns colegas meus já se infectaram e as crianças morrem de medo.
Em casa a gente se protege como dá", conta.
É uma angústia muito grande.
Como policial civil não posso parar, mas esperamos que essa pandemia passe o mais rápido possível.
Alguns colegas meus já se infectaram e as crianças morrem de medo.
Em casa a gente se protege como dá", conta.
Morando em um apartamento em Lagoa Nova, na Zona Sul de Natal, a agente
diz tomar todos os cuidados de prevenção ao voltar para casa e garante
que apesar do distanciamento social se aproximou afetivamente dos
filhos.
A entrevista para esta reportagem, por exemplo, foi interrompida diversas vezes pelos gritos de "mãe" dos filhos.
A entrevista para esta reportagem, por exemplo, foi interrompida diversas vezes pelos gritos de "mãe" dos filhos.
"Vivemos assim felizes, mesmo com todo o estresse da profissão.
Não vejo a hora dessa pandemia passar para poder abraçá-los sem medo.
Eles adoram o avô e estão tristes porque não podem encontrar ele nesse momento, mas a gente senta e explica.
Acho que isso é ser mãe", conta.
Não vejo a hora dessa pandemia passar para poder abraçá-los sem medo.
Eles adoram o avô e estão tristes porque não podem encontrar ele nesse momento, mas a gente senta e explica.
Acho que isso é ser mãe", conta.
Flaviana Bezerra destaca ainda a importância dos colegas da Polícia
Civil durante todo o processo.
"A ajuda dos amigos da DHPP foi fundamental, não fiz nada sozinha.
Tenho certeza que meus filhos ganharam diversos pais porque meus colegas estão sempre em contato com as crianças", lembra a agente.
"A ajuda dos amigos da DHPP foi fundamental, não fiz nada sozinha.
Tenho certeza que meus filhos ganharam diversos pais porque meus colegas estão sempre em contato com as crianças", lembra a agente.
COMENTÁRIO:
Parabéns policial Flaviana Bezerra, por esse seu gesto tão nobre de solidariedade com essas crianças que ficaram órfãos de pai e mãe tão cedo, sem nenhuma pespectiva de encontrar
uma mão amiga estendida, mas que graças a você e seus colegas e amigos, hoje esses seres indefesos estão amparados e recebendo muito amor seu, como uma verdadeira mãe que ama seus filhos de coração.
Valter Desiderio Barreto.
Barretos, São Paulo, 30 de maio de 2020.
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