O ex-presidente Michel Temer
(MDB), de 78 anos, se entregou à Polícia Federal (PF) em São Paulo na
tarde desta quinta-feira (9) para cumprir prisão após revogação do habeas corpus que o mantinha livre.
Ele deixou sua casa, na Zona Oeste da capital, e seguiu escoltado até a Superintendência da PF.
Ele deixou sua casa, na Zona Oeste da capital, e seguiu escoltado até a Superintendência da PF.
Temer é acusado de chefiar uma organização criminosa que teria recebeu
R$ 1,091 milhão em propina nas obras da usina nuclear de Angra 3,
operada pela Eletronuclear.
O ex-presidente foi denunciado pelo Ministério Público pelos crimes de corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
O ex-presidente foi denunciado pelo Ministério Público pelos crimes de corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
O Ministério Público Federal do Rio de Janeiro afirma que a soma dos
valores de propinas recebidas, prometidas ou desviadas pelo suposto
grupo chefiado pelo ex-presidente ultrapassa R$ 1,8 bilhão.
Também se entregou à PF na tarde desta quinta João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, amigo do ex-presidente e sócio da empresa Argeplan.
O desembargador Abel Fernandes Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª região (TRF-2), determinou que Temer e Coronel Lima devam ficar presos em São Paulo.
Temer disse que iria se apresentar "voluntariamente", ao contrário do que ocorreu em 21 de março, quando foi abordado na rua e preso por policiais federais em um desdobramento da operação Lava Jato no Rio.
A defesa do ex-presidente pediu nesta quinta-feira (9) liberdade ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
No documento, o advogado Eduardo Carnelós afirma que não há motivos para manter Temer preso porque os fatos apurados ocorreram há muito tempo.
"Não há espaço, data venia, para a manutenção do paciente no cárcere a título cautelar, passado tanto tempo entre os fatos apurados e o presente momento", disse.
No documento, o advogado Eduardo Carnelós afirma que não há motivos para manter Temer preso porque os fatos apurados ocorreram há muito tempo.
"Não há espaço, data venia, para a manutenção do paciente no cárcere a título cautelar, passado tanto tempo entre os fatos apurados e o presente momento", disse.
"Salta aos olhos a circunstância de que fatos ter-se-iam dado na
Argeplan, empresa que não é gerida por Michel Temer, da qual o Paciente
não é sócio, diretor, nem funcionário.
Se assim é, como tomar tais circunstâncias contra Michel Temer, sem operar odiosa responsabilização por fato de terceiro?", diz a defesa no pedido de habeas corpus.
Se assim é, como tomar tais circunstâncias contra Michel Temer, sem operar odiosa responsabilização por fato de terceiro?", diz a defesa no pedido de habeas corpus.
O comboio com o ex-presidente saiu de sua casa às 14h40 e chegou menos
de 20 minutos depois à sede da PF, na Lapa, também na Zona Oeste de São
Paulo.
Sua defesa quer que ele fique detido na Superintendência na capital paulista, e não na do Rio, onde permaneceu preso em março.
Sua defesa quer que ele fique detido na Superintendência na capital paulista, e não na do Rio, onde permaneceu preso em março.
A Justiça irá definir para onde Temer irá.
A PF alega não ter condições de abrigá-lo: por ser ex-presidente, Temer tem direito a uma sala de estado maior, o que não há no prédio da Lapa.
A PF alega não ter condições de abrigá-lo: por ser ex-presidente, Temer tem direito a uma sala de estado maior, o que não há no prédio da Lapa.
Ex-presidente Temer deixa sua casa em SP e segue para a Policia Federal.
Argumentos dos desembargadores para pedir a prisão.
Na noite de quarta-feira (8), a 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) decidiu, por 2 votos a 1, pela revogação do habeas corpus
e o retorno à prisão de Temer e de João Baptista Lima Filho, o coronel
Lima, amigo do ex-presidente.
Eles estavam soltos desde o dia 25 de março após decisão liminar do desembargador Ivan Athié.
Eles estavam soltos desde o dia 25 de março após decisão liminar do desembargador Ivan Athié.
Promotores do Ministério Público Federal afirmaram que o grupo chegou a
manter atividades de contrainteligência sobre investigações feitas pela
Polícia Federal.
O Ministério Público Federal mencionou a possibilidade de destruição de provas e argumentou que a prisão domiciliar seria insuficiente para impedir crimes.
O Ministério Público Federal mencionou a possibilidade de destruição de provas e argumentou que a prisão domiciliar seria insuficiente para impedir crimes.
"Com os dois presos, facilitamos a investigação, que ainda está em andamento, e o processo andará mais rápido em 1ª instância", afirmou Mônica de Ré, procuradora da República.
Michel Temer após decisão do TRF-2.
O relator do processo na 2ª instância da Justiça Federal, Ivan Athiê,
foi quem se mostrou favorável à manutenção do habeas corpus concedido
por ele mesmo a todos os acusados.
"Nos habeas corpus, a principal alegação em todos é a ausência da
contemporaneidade dos fatos apontados como ilegais.
Tampouco em relação à lavagem de dinheiro, envolvendo a Eletronuclear, há contemporaneidade", declarou Athiê.
Tampouco em relação à lavagem de dinheiro, envolvendo a Eletronuclear, há contemporaneidade", declarou Athiê.
"Eis que todas as ocorrências visando camuflar a origem de valores,
supostamente camuflar a origem de valores, para colocá-los em
ilegalidade, segundo a narrativa, ocorreram e consumados foram há, no
mínimo, cerca de quatro anos atrás."
No entanto, o desembargador Abel Gomes foi a favor da prisão preventiva de Temer e do Coronel Lima, com a justificativa de que eles insistiram nas práticas criminosas, que, segundo ele, "nunca cessaram".
"São fatos antigos ou são fatos reiterados que nunca cessaram.
Só se tornaram antigos em 2016 porque veio a Lava Jato, porque senão, talvez, estivessem contemporâneos hoje em dia", afirmou Gomes.
Só se tornaram antigos em 2016 porque veio a Lava Jato, porque senão, talvez, estivessem contemporâneos hoje em dia", afirmou Gomes.
"Se gosta de anunciar, como sendo um dos requisitos da prisão
preventiva, a contemporaneidade, como se a prisão preventiva fosse
sempre na data do fato ou dois dias depois, uma coisa absolutamente
irreal.
A prisão preventiva é sempre decretada passado o fato quando ele é conhecido."
A prisão preventiva é sempre decretada passado o fato quando ele é conhecido."
Ex-presidente Michel Temer chega à sede da Polícia Federal em SP.
Por outro lado, Gomes acompanhou o relator pela manutenção do habeas
corpus para os outros réus: o ex-ministro Moreira Franco; Maria Rita
Fratezi, mulher do Coronel Lima; Carlos Alberto Costa, sócio da
Argeplan; Carlos Alberto Costa Filho, diretor da Argeplan; e Vanderlei
de Natale, sócio da Construbase.
O voto de desempate veio do desembargador Paulo Espírito Santo, que
também defendeu a retomada da prisão de Temer e Lima e da liberdade para
os outros réus.
“Eu não tenho a menor dúvida de que ele [Temer] foi a base comportamental a partir de um determinado tempo para toda essa corrupção praticada, alegada corrupção", disse Espírito Santo.
Movimentação de jornalistas em frente à casa de Temer na manhã desta quinta — Foto: Kleber Tomaz/G1.
Pouco após o anúncio da revogação do habeas corpus, o ex-presidente deu entrevista a jornalistas
na porta de sua casa e disse que considera a decisão “inteiramente
equivocada sob o foco jurídico”.
“Eu sempre sustentei que nessas questões todas não há prova.
Para mim, foi uma surpresa desagradável”, afirmou.
“Eu sempre sustentei que nessas questões todas não há prova.
Para mim, foi uma surpresa desagradável”, afirmou.
A acusação da Lava Jato fala em corrupção, peculato, lavagem de
dinheiro e organização criminosa.
Temer foi o segundo presidente do
Brasil a ser preso após investigações na esfera penal.
O primeiro a ser preso foi o ex-presidente Lula.
Temer foi o segundo presidente do
Brasil a ser preso após investigações na esfera penal.
O primeiro a ser preso foi o ex-presidente Lula.
O advogado de Temer e Coronel Lima, Eduardo Pizarro Carnelós, disse
considerar a decisão injusta.
“Respeitamos a decisão do tribunal, mas só podemos considerá-la injusta.
Uma injustiça contra o ex-presidente.
A prisão foi feita sem nenhum fundamento, apenas para dar um exemplo.
Vamos ao Superior Tribunal de Justiça para recorrer”, disse Canelós.
“Respeitamos a decisão do tribunal, mas só podemos considerá-la injusta.
Uma injustiça contra o ex-presidente.
A prisão foi feita sem nenhum fundamento, apenas para dar um exemplo.
Vamos ao Superior Tribunal de Justiça para recorrer”, disse Canelós.
Para a procuradora Mônica de Ré, a decisão “representa a Justiça diante
de todas as provas apresentadas pelo Ministério Público”.
“Restabelecemos a verdade dos fatos com relação ao presidente Temer e ao coronel Lima.
Com os dois presos, esse processo andará mais rápido.”
“Restabelecemos a verdade dos fatos com relação ao presidente Temer e ao coronel Lima.
Com os dois presos, esse processo andará mais rápido.”
Os sete réus foram presos na Operação Descontaminação no dia 21 de março,
pela Justiça Federal do Rio.
Naquele dia, Temer foi abordado na rua, perto de sua casa, em Alto de Pinheiros, bairro nobre da Zona Oeste de São Paulo.
Ele foi retirado de seu carro e transferido para o Rio.
Naquele dia, Temer foi abordado na rua, perto de sua casa, em Alto de Pinheiros, bairro nobre da Zona Oeste de São Paulo.
Ele foi retirado de seu carro e transferido para o Rio.
Na ocasião, a defesa de Temer disse que nada foi provado contra ele, e
que a prisão constituiu um "atentado ao Estado democrático de Direito".
O ex-presidente ficou preso em uma sala da Corregedoria, no terceiro
andar do prédio da superintendência da Polícia Federal no Rio de
Janeiro.
É uma das poucas salas no edifício com banheiro privativo.
O local tem frigobar, ar-condicionado e cerca de 20 m².
É uma das poucas salas no edifício com banheiro privativo.
O local tem frigobar, ar-condicionado e cerca de 20 m².
Além deste processo, o ex-presidente é réu em mais cinco ações na Justiça.
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