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terça-feira, maio 07, 2019

O dilema insolúvel de Bolsonaro


Por Helio Gurovitz
07/05/2019 07h45.
Presidente Jair Bolsonaro conversa com aluna do Colégio Militar do Rio de Janeiro durante cerimônia de 130 anos da instituição — Foto: Henrique Coelho / G1
A briga persistente entre alas do governo Jair Bolsonaro, cujo último capítulo foi um tuíte do general Eduardo Villas-Bôas, tem um sentido político que vai além da mera disputa pelo poder. 


Traduz um conflito que, levado ao limite, pode paralisar o governo ou mesmo levá-lo ao fim. 

O choque entre a ala militar e a ideológica, ou soberanista, põe Bolsonaro diante de um dilema insolúvel. 


De um lado, a força e o poder das armas. 


Do outro, a família e o poder da militância nas redes sociais. 

Diante da escolha impossível, Bolsonaro minimiza o confronto. 


Transmite sinais ambíguos para agradar ambos os lados. 


Contemporiza e, com razão, afirma que o Brasil tem problemas mais sérios. 


O único senão é que a disputa mina a estabilidade de seu governo. 


Ao ignorá-la e deixá-la prosperar, revela a própria fraqueza. 

Com a liderança fraca, o Brasil se vê nas mãos daqueles grupos que realmente detêm poder no país, pela posição que ocupam ou pela capacidade de gerar transtorno: militares, ministros do Supremo, funcionalismo público refratário às reformas, caminhoneiros, milícias digitais, petroleiros e por aí afora.

Ao longo da campanha eleitoral, espalhou-se o temor descabido de que Bolsonaro representaria um risco autoritário. 


A imprensa foi inundada de artigos sobre o populismo e a involução institucional em vários países do mundo, da Venezuela à Hungria. 


Bolsonaro, argumentavam, poria ao Brasil no mesmo rumo das autocracias contemporâneas. 

Embora sedutora, a ideia esbarra na contradição mais óbvia dentro do governo. 


A ala mais interessada em ampliar os poderes presidenciais (a ideológica) não tem força para impor sua agenda e está restrita aos devaneios no Itamaraty e no ministério da Educação. 


A ala que tem força (a militar) tem se pautado pela atuação técnica e profissional. 


O conflito entre as duas torna inviável qualquer ruptura. 

Bolsonaro não pode se livrar de nenhuma delas. 


Ambas estão na essência de um governo que reúne uma coalizão heterogênea de vários matizes de direita (leia mais aqui). 

A ala militar é formada basicamente por generais da reserva da geração do próprio Bolsonaro, mobilizados politicamente a partir do momento em que, no governo Dilma Rousseff, a Comissão da Verdade desprezou a versão deles para os eventos da ditadura. 

A ala ideológica soube aproveitar a mobilização em torno do sentimento antipetista que cercou o impeachment de Dilma para disseminar o nome de Bolsonaro nas redes sociais e tornar sua candidatura viável a partir de memes, hangouts, lives e tuítes.


Na primeira, Bolsonaro buscou a capacidade técnica e quadros para sua equipe de governo. 


Na segunda, as ideias e a visão de mundo que embasam a versão do populismo nacionalista que tenta implantar. 

Se tivesse mais talento para a política, teria sabido equilibrar as demandas de ambas. 


Teria usado o conflito para consolidar sua liderança. 


Inexperiente, deixou acontecer o oposto. 


Revelou-se fraco, incapaz de evitar o choque entre os que o cercam. 


Tornou-se refém do maior risco desde o primeiro dia de governo: a família.

Ao abrir espaço no governo para dois de seus filhos, Bolsonaro criou para si mesmo o dilema de que não consegue escapar. 


Qualquer tentativa de disciplinar a ala ideológica se torna deslealdade familiar. 


Como reação, o vice-presidente e seus aliados militares continuarão a tentar cavar e a ocupar um espaço próprio. 

Se a disputa persistir, quem pagará o preço será o próprio Bolsonaro. 


Nos cenários mais extremos, ou bem ele se alia aos ideológicos para tentar um golpe, mas aí é barrado pelos militares que se proclamam garantia da legalidade. 


Ou então fica isolado, e seu conflito com o Congresso descamba para um processo de impeachment. 


Nos dois casos, manter a confiança dos militares – e não o amor dos filhos – é o fator crucial para Bolsonaro ficar no poder. 

O nó que imobiliza o governo

Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta Rodrigo Maia, presidente da Câmara, ao entregar a proposta de reforma na Previdência dos militares — Foto: J. Batista / Câmara dos Deputados
Em conflito como presidente da Câmara e com o Congresso, o presidente Jair Bolsonaro enfrenta um dilema político insolúvel para fazer andar seus projetos no Parlamento. 


A única solução que o tiraria do impasse é inaplicável. 


Não é difícil entender por quê. 

Como escrevi na véspera da posse, seis núcleos de poder disputam influência no governo: militar, liberal, policial, religioso, soberanista e familiar. 


Dos seis, dois não têm luz política autônoma e dependem de Bolsonaro para sobrevivência: o soberanista (a ala “antiglobalista” do chanceler Ernesto Araújo) e o familiar (os três filhos políticos). 

Na prática, esses dois grupos têm funcionado como um só, já que o deputado Eduardo Bolsonaro assumiu na prática a função de formulador da política externa brasileira, e o vereador Carlos Bolsonaro comanda a estratégia de comunicação nas redes sociais.


Ambos são fiadores de Araújo, do ministro da Educação, Ricardo Vélez, e de assessores de segundo escalão de orientação ideológica semelhante. 

Os demais núcleos embarcaram no comboio bolsonarista, mas viveriam perfeitamente sem ele. 


Manifestam ideias próprias e despertam a ira do núcleo soberanista-familiar. 


Derivam daí todos os choques: com o Parlamento e presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com o Supremo Tribunal Federal (STF), com militares, com evangélicos, com o ministro Sérgio Moro ou com aqueles que exigem de Bolsonaro mais convicção no apoio à Previdência de Paulo Guedes.

Para governar, Bolsonaro precisa dos militares (entregou-lhes um terço dos cargos e ministérios). 


Precisa do núcleo policial ligado a Moro para implementar o programa de segurança pública que o elegeu.


Precisa do apoio dos religiosos evangélicos no Congresso. 


Precisa, sobretudo, da aprovação das reformas econômicas formuladas pela equipe de Guedes (não só a da Previdência). 

Não precisa do núcleo familiar-soberanista, mas está indissoluvelmente unido a ele por laços familiares. 


Inútil pedir que Bolsonaro saia do Twitter ou mande os filhos ficarem quietos. 


Obviamente, ele não quer nem fará nada disso, pois sua relação com os filhos (por tabela, com o grupo que os cerca) não é só de natureza política. 

Tal situação gera uma assimetria que paralisa o governo. 


Todos aqueles de que Bolsonaro precisa para tocar seus projetos, no limite, não precisam dele. 


O único núcleo que ele precisa dispensar para se livrar dos conflitos é o que mais depende dele – e que jamais dispensará. 

Não há solução óbvia para tal impasse. 


Os cenários possíveis carregam diferentes graus de drama e tragédia. 


A persistir o choque com o Parlamento vislumbrado pelo conflito com Maia, o exercício do poder por Bolsonaro se tornará insustentável. 

Não quer dizer que, necessariamente, ele seja derrubado ou venha a sofrer impeachment (não há clima nem motivo). 


Mas a pressão o obrigará a um encolhimento, com transferência de poderes a ministros ou ao vice pela mera força gravitacional. 

Num cenário ainda mais trágico, o conflito engendra o cenário caótico que precede a ruptura nas instituições democráticas. 


Tradução: Bolsonaro usa o caos como pretexto para dar um golpe.


A dificuldade, nesse caso, é que isso não depende apenas da vontade dele ou de seus acólitos. 


Um golpe depende de força – e a força permanece com os militares. 


Eles não têm interesse algum numa saída fora das instituições, já que uma crise insolúvel que levasse à saída de Bolsonaro deixaria o poder nas mãos do vice Hamilton Mourão e do grupo de generais que o circunda. 

Dificilmente haveria nas Forças Armadas uma conspiração para depôr Bolsonaro. 


Dificilmente elas entrariam numa conspiração com Bolsonaro para fechar o Congresso ou o Supremo Tribunal Federal. 


Mas elas não teriam motivo para se recusar a ser beneficiárias de uma situação em que, acuado, ele entregue o poder a Mourão. 


Por maior que se torne o caos aparente, a chance de ruptura é pequena.


Há, enfim, um cenário intermediário, nem impeachment nem golpe. 


Menos impetuoso e heroico, não necessariamente menos trágico. 


É a persistência da pasmaceira, dos conflitos do Executivo com Legislativo e Judiciário, em que nenhum projeto anda, um poder joga contra o outro, o país é tomado pela paralisia. 

Seria uma mistura de governo Sarney e governo Dilma, acrescido do eterno clima de tensão e caça às bruxas nas redes sociais, com perseguição a adversários, juízes, jornalistas e todo aquele que ouse discordar da missão divina atribuída a Bolsonaro por seus acólitos fieis. 

Talvez seja esse o rosto da tal “nova política”.


 — Foto: Arte/G1 

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