Ali Sipahi participou de atividades de centro cultural ligado ao Hizmet, um movimento que o governo da Turquia considera terrorista.
Ali Sipahi, turco que foi preso no Brasil e acusado pelo governo turco
de pertencer a uma organização terrorista — Foto: Divulgação / Centro
Cultural Brasil-Turquia.
Por Felipe Gutierrez, G1
Ali Sipahi, um empresário turco que tem cidadania brasileira, está
preso desde 5 de abril na Superintendência da Polícia Federal em São
Paulo.
Governo da Turquia pede extradição de empresário turco, que vive no Brasil há 12 anos.
Sipahi é acusado pelo governo da Turquia de pertencer a um grupo de oposição ao governo de Recep Tayyip Erdogan chamado Hizmet, liderado pelo imã Fetullah Gülen.
Para a Turquia, que pede sua extradição, trata-se de uma organização terrorista.
O Hizmet não é considerado terrorista pela ONU, mas o governo turco discorda dessa classificação.
"Fetullah Gülen é o líder de uma organização secreta, altamente hierárquica e antidemocrática (o chamado movimento Hizmet) que tentou o mais violento ataque terrorista da história turca na noite de 15 de julho de 2016", afirma, em nota, a embaixada turca em Brasília.
Naquela data, houve uma tentativa de golpe contra o presidente Recep Tayyip Erdogan.
Desde então, o governo do país passou a considerar o clérigo Gülen um inimigo.
Desde então, o governo do país passou a considerar o clérigo Gülen um inimigo.
A embaixada da Turquia não comenta o caso específico de Sipahi.
Ele foi detido logo depois de desembarcar com a família no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na volta de viagem de férias nos Estados Unidos.
Ele foi detido logo depois de desembarcar com a família no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na volta de viagem de férias nos Estados Unidos.
O que diz o governo turco?
Apoiador de Recep Tayyip Erdogan exibe foto do presidente da Turquia
durante manifestação eleitoral em Istambul — Foto: Kemal Aslan/Reuters.
No pedido ao governo brasileiro, as autoridades turcas acusam o
empresário de assumir funções em um centro cultural com ligações ao
Hizmet.
Além disso, a Turquia afirma que Sipahi de depositar dinheiro em uma conta de banco vinculada ao grupo entre 2013 e 2014 (entenda mais abaixo).
Além disso, a Turquia afirma que Sipahi de depositar dinheiro em uma conta de banco vinculada ao grupo entre 2013 e 2014 (entenda mais abaixo).
O pedido de prisão preventiva a Sipahi estava decretado desde 19 de março pelo Supremo Tribunal Federal.
Os advogados que o defendem pediram para que ele aguarde o julgamento
do pedido de extradição fora da prisão – com a retenção de passaporte ou
tornozeleira eletrônica.
A Procuradoria, no entanto, foi contrária ao pedido.
A Procuradoria, no entanto, foi contrária ao pedido.
O ministro do STF Edson Fachin determinou nesta quinta-feira (25) que
Sipahan seja ouvido.
A oitiva do empresário está marcada para 3 de maio.
Ele continua preso, por enquanto.
A oitiva do empresário está marcada para 3 de maio.
Ele continua preso, por enquanto.
Apreensão na comunidade turca.
Sipahi tem 31 anos e vive no Brasil desde 2007, segundo um de seus
advogados.
Ele é brasileiro naturalizado e tem um filho nascido no país.
Ele é dono de dois restaurantes em São Paulo.
Ele é brasileiro naturalizado e tem um filho nascido no país.
Ele é dono de dois restaurantes em São Paulo.
Ele virou alvo do pedido de extradição por ter desenvolvido atividades
no Centro Cultural Brasil-Turquia, que é uma entidade com vínculos com o
Hizmet.
Ao Jornal Hoje,
Kamil Ergin, porta-voz do Centro Cultural Brasil-Turquia, afirmou que
esse banco era considerado um banco comum.
"Ele [Sipahi] tinha uma conta bancária e depositou algum dinheiro nessa conta.
O governo vê isso como ação de ajuda para um grupo terrorista", afirmou.
"Ele [Sipahi] tinha uma conta bancária e depositou algum dinheiro nessa conta.
O governo vê isso como ação de ajuda para um grupo terrorista", afirmou.
O sócio de Sipahi em um dos restaurantes, Ilyas Kar, também disse ao Hoje que
a prisão se trata de "perseguição" ao turco-brasileiro por ele
participar de atividades na Câmara de Comércio e Indústria
Turco-Brasileira – também apontada como crítica a Erdogan.
"A gente tá trabalhando no restaurante porque, por causa da perseguição do governo turco, nossas atividades culturais foram rompidas", disse Kar.
Há cerca de 250 turcos ligados a essa organização no Brasil, segundo Kamil Ergin.
"Estamos preocupados.
Não somos terroristas, não vivemos em segredo, nossa identidade é aberta.
A maioria desses 250 é de refugiados que veio para o Brasil por acreditar que é um país seguro e democrático, e essa prisão gerou apreensão na comunidade.
Quem já pensava em sair do país acelerou."
Crise na Turquia.
Apoiadores do governo de Erdogan comemoram impedimento da tentativa de golpe na Turquia — Foto: REUTERS/Tumay Berkin.
A defesa vai alegar que a Turquia não vive um estado democrático de
direito e não há instituições da Justiça independentes para julgar Ali
ou outros membros do Hizmet, segundo um dos advogados dele.
"Não há garantia de que o acusado será julgado por juiz isento e imparcial", afirmou o advogado Theo Dias, que representa Sipahi.
A Turquia vive uma crise política intensificada em 2016.
Em julho daquele ano, o presidente Erdogan sofreu tentativa frustrada de golpe.
Em julho daquele ano, o presidente Erdogan sofreu tentativa frustrada de golpe.
Clérigo muçulmano Fethullah Gülen vive exilado nos EUA desde 1999 — Foto: Reuters/Charles Mostoller/File Photo.
Gülen, ex-aliado de Erdogan, foi apontado como um dos responsáveis pelo
movimento.
Desde então, o presidente turco passou a perseguir opositores e jornalistas. Muitos deles foram presos.
Desde então, o presidente turco passou a perseguir opositores e jornalistas. Muitos deles foram presos.
Ainda em 2016, o assassinato do embaixador russo Andrei Karlov durante a abertura de uma exposição aumentou as tensões.
Erdogan acusou Gülen de planejar o crime, o que o oposicionista nega.
Por isso, o governo turco exigiu a extradição do clérigo, que vive desde 1999 nos Estados Unidos.
Erdogan acusou Gülen de planejar o crime, o que o oposicionista nega.
Por isso, o governo turco exigiu a extradição do clérigo, que vive desde 1999 nos Estados Unidos.
Em sua residência na Pensilvânia, o clérigo nega qualquer envolvimento
na tentativa de golpe e rebate as acusações contra o seu movimento,
Hizmet, que se apresenta como uma rede educacional e humanitária, que
promove um islã moderado.
Gülen, inclusive, diz que foi o primeiro clérigo muçulmano a condenar
publicamente os atentados terroristas de 11 de setembro, em uma coluna
no jornal norte-americano "The Washington Post".
Erdogan, por outro lado, começou a dar sinais de perda de poder nas eleições municipais deste ano.
O partido do presidente turco perdeu o governo da capital Ancara, e de Istambul, a maior cidade do país.
O partido do presidente turco perdeu o governo da capital Ancara, e de Istambul, a maior cidade do país.
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