MPF solicita à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que avalie se deve requerer ao STF a suspeição ou o impedimento do ministro. Segundo procuradores, Aloysio Nunes atuou em interesse próprio 'junto ao ministro Gilmar Mendes valendo-se de relação pessoal'.
Por Pedro Brodbeck, G1 PR
Lava Jato pede que Gilmar não atue mais em casos de Aloysio e Paulo Vieira de Souza.
Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato pediram à
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que avalie se deve
requerer ao Supremo Tribunal Federal que o ministro Gilmar Mendes não
atue mais em casos envolvendo o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB) e Paulo
Vieira de Souza, apontado como operador do PSDB.
O documento, enviado nesta quarta-feira (6) à Procuradoria Geral da
República (PGR), cita ligações telefônicas de Aloysio Nunes com o
gabinete de Gilmar Mendes e com o ex-ministro Raul Jungmann.
Paulo Vieira de Souza e Aloysio Nunes foram alvos da 60ª fase da Operação Lava Jato.
O empresário foi preso, investigado por atuar como operador financeiro em um esquema de lavagem de milhões de reais em favor da Odebrecht.
A casa do ex-senador foi alvo de mandado de busca e apreensão.
O empresário foi preso, investigado por atuar como operador financeiro em um esquema de lavagem de milhões de reais em favor da Odebrecht.
A casa do ex-senador foi alvo de mandado de busca e apreensão.
O documento mostra um histórico de ligações entre Aloysio Nunes e o
gabinete de Gilmar Mendes no STF. — Foto: TV Globo/Reprodução.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), "em fevereiro de
2019, Aloysio Nunes Ferreira Filho atuou, em interesse próprio e do
também investigado Paulo Vieira de Souza, junto ao ministro Gilmar
Mendes, valendo-se de relação pessoal com este, para produção de efeitos
protelatórios em processo criminal em trâmite na 5ª Vara da Justiça
Federal de São Paulo".
No histórico de conversas telefônicas e mensagens apresentado pelo MPF,
há uma conversa de 11 de fevereiro do advogado José Roberto Figueiredo
Santoro com o ex-senador.
- José Roberto Figueiredo Santoro: "Caríssimo você falou com nosso amigo?"
- Aloysio Nunes: "Falei. Resposta vaga: sim, já estou sabendo... Compreensível dadas as circunstâncias."
- José Roberto Figueiredo Santoro: "Vc é um anjo."
De acordo com o MPF, o trecho indica que Nunes "havia conversado, ao que tudo indica, com o Ministro Gilmar Mendes".
No mesmo dia, o documento mostra que Aloysio Nunes fez ligações e recebeu telefonemas do gabinete de Gilmar Mendes.
Paralelamente, o ex-senador também trocou telefonemas e mensagens com Raul Jungmann.
O pedido do MPF descreve as mensagens:
O pedido do MPF descreve as mensagens:
- Aloysio Nunes: "Falei".
- Raul Jungmann: "E?!?!"
- Aloysio Nunes: "Vago, cauteloso, como não poderia ser diferente."
Segundo o MP, dois dias depois, no dia 13 de fevereiro, o advogado José Roberto Figueiredo Santoro informou o ex-senador por mensagem de celular que "o ministro Gilmar Mendes deferiu o habeas corpus nº167727, em que figurava como interessado Paulo Vieira de Souza, afilhado político de Aloysio Nunes Ferreira Filho".
Na oportunidade, Gilmar Mendes determinou o reinício da coleta de provas em um processo de Paulo Vieira de Souza.
O documento mostra que, no dia seguinte, Nunes e Jungmann trocaram mensagens:
- Aloysio Nunes: "Nosso causídico é foda!"
- Raul Jungmann: "Sr de escravos.."
De acordo com os procuradores, as conversas evidenciam "a interferência
de Aloysio Nunes Ferreira Filho, em interesse próprio e do também
investigado Paulo Vieira de Souza, junto ao Ministro Gilmar Mendes,
valendo-se de relação pessoal com este, para produção de efeitos
protelatórios em processo criminal em trâmite na Justiça Federal de São
Paulo".
O MPF destaca no pedido que a "gestão junto a Gilmar Mendes" não foi feita pelo advogado, mas pelo ex-senador Aloysio Nunes.
"De forma muito mais acintosa, o contato foi feito pelo próprio
investigado da Operação Lava Jato, Aloysio Nunes Ferreira Filho, com o
E. Ministro do Supremo Tribunal Federal".
O que dizem os citados.
O gabinete de Gilmar Mendes informou que o ministro não vai se
pronunciar sobre o documento.
Informou, também, que se manifestará no processo caso haja algum questionamento ou pedido de suspeição.
Informou, também, que se manifestará no processo caso haja algum questionamento ou pedido de suspeição.
Segundo o gabinete do ministro, a decisão que beneficiou Paulo Vieira
de Souza foi derrubada pelo próprio ministro da semana passada diante de
informações prestadas pela Justiça de São Paulo.
A assessoria de Aloysio Nunes Ferreira declarou que ele não vai se manifestar até se informar sobre os fatos.
O ex-ministro Raul Jungmann declarou que o papel dele no caso se resume
a atender ao pedido de Aloysio Nunes e dar a ele o telefone de Gilmar
Mendes.
O G1 tenta contato com os demais citados.
'Ad Infinitum'
Nas investigações da 60ª fase da Lava Jato, batizada de 'ad infinitum',
os procuradores da força-tarefa identificaram que a Odebrecht
transferiu, em 2007, € 275.776,04 para uma conta de Paulo Vieira de
Souza.
A apuração identificou que, no mês seguinte à transferência, foi
emitido um cartão de crédito em nome de Aloysio Nunes Ferreira,
vinculado à conta de Paulo Vieira de Souza.
O banco foi orientado a entregar o cartão de crédito no Hotel Majestic Barcelona, na Espanha, onde o Nunes estava hospedado.
O banco foi orientado a entregar o cartão de crédito no Hotel Majestic Barcelona, na Espanha, onde o Nunes estava hospedado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário