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sábado, fevereiro 16, 2019

Juiz explica pena de mais de 1 mil anos de prisão a acusado de estuprar enteada: 'Não posso deixar um pedófilo em liberdade'




Vítima de 13 anos, que foi abusada por cinco anos, está sob cuidados da avó, em Fernandópolis (SP). Juiz determinou sentença multiplicando a pena de 16 anos de prisão pelo número estimado de vezes dos abusos: 63.

 

 

Por G1 Rio Preto e Araçatuba
Juiz Vinicius Castrequini Bufulin, de Fernandópolis — Foto: Reprodução/TV TEM
Juiz Vinicius Castrequini Bufulin, de Fernandópolis — Foto: Reprodução/TV TEM.

O juiz que condenou em primeira instância um homem a 1.008 anos de prisão pelo estupro da enteada em Fernandópolis (SP) explica que chegou a essa sentença por considerar cada vez que a vítima foi abusada pelo padrasto.


Apesar da sentença milenar, o condenado deve cumprir bem menos tempo de prisão, 30 anos, período máximo de prisão no Brasil, segundo o Código Penal. 


Como a condenação é em primeira instância, ainda cabe recurso. 

O juiz Vinicius Castrequini Bufulin explica que uma pena alta igual a essa pode impedir que a progressão aconteça rapidamente ou que realmente ocorra. 

"Não posso deixar um pedófilo em liberdade tendo acesso a vítima”, afirma.


Por causa dos mais de mil anos, se mantida a condenação, “ele cumpre os 30 anos, que é o máximo de pena, em regime fechado”, diz.
Menina estuprada 63 vezes pelo padrasto está sob os cuidados da avó
Menina estuprada 63 vezes pelo padrasto está sob os cuidados da avó.

Cálculo da pena.

 

Para chegar a 1.008 anos de prisão, o juiz multiplicou os 16 anos de condenação, sentença dada em caso de estupro, por cada abuso sofrido pela vítima: 63 vezes. 


O juiz explica que esse número é estimado durante os cinco anos que a vítima relatou os abusos. 

Bufulin comenta que há uma construção legal no Brasil sobre o crime continuado, aquele que acontece várias vezes e de forma semelhante, pode ser único e aplicado a pena do crime, com um aumento por causa da insistência. 


Ele discorda dessa situação. 

“No Brasil isso foi interpretado de forma tão ampla e genérica, que passou a atingir situações que não poderiam ser atingidas. 


Ele foi concebido para o sujeito que, por exemplo, furta uma faca por dia para não ser percebido e aí ele furta o faqueiro todo. 


Por insistir na conduta, ele responde por furto e tem um aumento pela insistência”, afirma.

Ele diz que no país esse tipo de condenação acabou sendo usado para crimes mais graves, como roubo, latrocínio e estupro.
Justiça condenou homem a mais de mil anos de prisão por estuprar a enteada 63 vezes — Foto: TV TEM/Reprodução
Justiça condenou homem a mais de mil anos de prisão por estuprar a enteada 63 vezes — Foto: TV TEM/Reprodução.

“Para mim está errado e agora a jurisprudência está acordando para isso, que gera injustiça. 


Se um sujeito pratica estupro 20 vezes, ele seria condenado por um estupro e aumentado de dois terços a pena. 


Mas a criança foi estuprada 20 vezes, pergunta para ela se ela concorda que foi só um estupro. 


O sujeito se beneficia disso”. 

De acordo com o Código Penal, artigo 75, “o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 anos”. 


Se a sentença for mantida nas instâncias superiores, ele deve cumprir os 30 anos de prisão. 

“Nosso sistema de cumprimento de pena é progressivo. 


Mesmo se for condenado a regime fechado, após um perídio curto, ele passa para o semiaberto, onde já tem acesso a sociedade, já que pode trabalhar. 


E logo em seguida ele passa para o aberto, onde cumpre um período curto."
Sentença de mais de 1 mil anos foi dada em Fórum de Fernandópolis — Foto: TV TEM/Reprodução
Sentença de mais de 1 mil anos foi dada em Fórum de Fernandópolis — Foto: TV TEM/Reprodução.

Menina está com a avó.

 

De acordo com a sentença, o homem abusou sexualmente a enteada durante cinco anos. 


O caso chegou à Justiça em 2018 e os abusos teriam começado em 2012.

Segundo o Ministério Público, o condenado morava com a menina e a mãe dela em um sítio em Bálsamo (SP). 


Os abusos começaram quando ela tinha 6 anos e terminaram somente aos 11 anos, quando a mãe rompeu o relacionamento com o homem. 

A decisão de janeiro deste ano é em primeira instância e, segundo o advogado, o réu já recorreu. 


O condenado não terá o nome publicado para proteger a identidade da menor. 

A vítima está sob os cuidados da avó. A família ainda está abalada com o ocorrido.
Justiça condena homem a mais de mil anos de prisão por estuprar a enteada 63 vezes — Foto: TV TEM/Reprodução
Justiça condena homem a mais de mil anos de prisão por estuprar a enteada 63 vezes — Foto: TV TEM/Reprodução.

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