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sexta-feira, fevereiro 22, 2019

Homem denunciado pela enteada por estupro e tortura na Bahia é transferido para presídio e exonerado de prefeitura


Homem já foi indiciado por estupro e tortura e, segundo a Polícia Civil, nega as acusações. Jovem de 21 anos relatou ter feito vários abortos por causa dos abusos.

 

 

Por Alan Tiago Alves, G1 BA
Thiago Oliveira Alves foi acusado pela enteada de estupro e tortura contra ela e a mãe — Foto: Reprodução/Redes sociais
Thiago Oliveira Alves foi acusado pela enteada de estupro e tortura contra ela e a mãe — Foto: Reprodução/Redes sociais.


O homem que foi acusado pela enteada Eva Luana da Silva, de 21 anos, de estupro e tortura, no município de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, foi encaminhado para o sistema prisional e exonerado do cargo de assessor técnico da prefeitura da cidade. 

Thiago Oliveira Alves, natural de São Paulo, estava preso na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari desde o dia 13 de fevereiro e, na quinta-feira (21) foi encaminhado para para o Centro de Observação Penal de Salvador, segundo informou a Secretaria de Administração Penitenciária da Bahia (Seap). 

O G1 busca contato com a defesa do suspeito, entretanto ainda não obteve sucesso. 


Ele já foi indiciado por estupro e tortura e, segundo a Polícia Civil, nega as acusações.


Também na quinta-feira, Thiago teve a exoneração publicada no Diário Oficial do Município de Camaçari. 


Conforme a publicação, ele era lotado na Secretaria de Serviços Públicos (Sesp). 


A prefeitura divulgou nota de repúdio a Thiago na quarta (20). 

Ele já tinha deixado o cargo desde 1º de fevereiro, dois dias depois da enteada ter denunciado o caso à Polícia Civil, mas a oficialização da exoneração no Diário pela prefeitura só saiu ontem. 

Caso.

Eva Luana da Silva, de 21 anos, denunciou o padrasto por abusos e torturas na Bahia — Foto: Juliana Cavalcante/TV Bahia
Eva Luana da Silva, de 21 anos, denunciou o padrasto por abusos e torturas na Bahia — Foto: Juliana Cavalcante/TV Bahia.

"Foram nove anos sendo abusada praticamente todos os dias. 


Era algo cotidiano, coisa rotineira. 


Perdi as contas de quantas vezes fui vítima. 


Tinha vez que chegava a ser estuprada duas vezes no dia". 


O relato é da estudante de Direito Eva Luana da Silva, que usou as redes sociais para relatar que ela e a mãe foram constantemente violentadas e torturadas durante anos pelo padrasto. 

A jovem conta que ainda se sente com medo mesmo após prisão de padrasto Thiago Oliveira Alves, na semana passada, após ela ter procurado a Polícia Civil para denunciar o caso. 


É que as lembranças dos momentos de terror que viveu por mais de oito anos ainda as deixa inquieta. 

"Não tenho como dizer o que foi mais terrível, porque tudo foi muito ruim.


No entanto, os abusos e os estupros foram mais fortes.


As torturas que sofri mexeram muito comigo, com o meu psicológico.


Em determinadas ocasiões, passava um dia inteiro sendo torturada", destacou.

Como resultado dos estupros cometidos pelo padrasto desde que ela tinha 12 anos, a jovem disse que fez vários abortos. 


"Foram quatro ou cinco vezes", lembra.


Eva levou o caso a público na quarta (20), após relatar em cinco posts no Instagram toda a violência pela qual foi submetida dentro da própria casa, e que teve início quando ela tinha 12 anos. 


Ela conta que a mãe era constantemente vítima do companheiro e que, depois, passou a ser alvo dele também. 

Artistas como Kéfera e Alice Wegmann compartilharam as postagens da estudante. 

A delegada Florisbela Rodrigues, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Camaçari, que apura o crime, confirmou que a jovem prestou depoimento no dia 30 de janeiro. 


A mãe dela também falou com a polícia e confirmou as denúncias da filha. 

No dia 31 de janeiro, após Eva ter feito a denúncia, a Justiça concedeu uma medida protetiva para que Thiago não se aproximasse dela e nem da mãe e da irmã. 


O homem, então, foi obrigado a sair de casa e alugar uma casa para morar. 

Ela conta, no entanto, que, antes de ser preso, ele descumpriu a medida que o obrigava a ficar distante das vítimas por no mínimo, 300 metros. 


A jovem conta que ele foi até a casa dela e destruiu provas, antes do cumprimento de um mandado de busca e apreensão. 

"Ele foi na minha casa. 


Quando a gente foi com a polícia lá, para pegar as provas, meu guarda-roupa estava todo revirado. 


Ele conseguiu desfazer todas as provas.


Conseguiu quebrar a bateria do celular dele inteira. 


Quebrou o celular dele no meio. 


Quebrou meu guarda-roupa procurando papéis dele, documentos. 


As malas dele, bolsas dele", disse a jovem. 

Eva diz que a mãe também ainda está muito abalada. "


Ela está comigo sob proteção da Justiça e, assim como eu e todo mundo, quer que ele pague pelo que fez. 


Queremos justiça. 


Nunca vou esquecer as cenas que eu vi e as dores que eu senti", destacou. 

Eva, que já tinha prestado uma queixa contra o padrasto quando tinha 13 anos e que foi obrigada a retirar por conta de ameaças do suspeito, diz que ainda confia na Justiça. 


"Acredito totalmente e creio que ele pagará por tudo. 


Também tenho orgulho das pessoas que estão comigo, me ajudando", diz. 

A advogada de Eva, Maria Cristina Carneiro, que já foi sua professora, diz que a defesa está fazendo recolhimento da provas e ouvindo testemunhas para reforçar as denúncias de Eva. 


"Ele ficou acompanhando o inquérito e teve notícia de que haveria uma busca e apreensão na casa onde morava com a família. 


Foi lá antes e destruiu provas, quebrou celular, chip. 


Inclusive, ele trocou o segredo da fechadura", destacou. 

Abusos e torturas.

 

Após a tentativa frustrada de levar o padrasto para a cadeia, quando tinha 13 anos, a jovem disse que os abusos, torturas e agressões aumentaram. 


O pai biológico não conviveu com ela e a mãe — Eva diz que só o conheceu quando tinha 14 anos. 

"O Estado falhou a tal ponto, que o meu caso não chegou nem ao Ministério Público. 


Fui obrigada a retirar a queixa por ameaças do meu padrasto. 


Ele utilizou o poder financeiro pra comprar a liberdade e comprar a minha alma. 


Porque ali eu perdi a minha alma. 


E o que eu fui denunciar, 1 ano de sofrimento, se multiplicou em mais 8 anos", relatou. 

"As agressões eram verbais, físicas e psicológicas. 


Entre elas comer muito, em tempo estipulado. 


Isso aconteceu com uma pizza família, pra comer inteira em 10 minutos. Óbvio que não conseguimos. 


Também tomar 2 litros de refrigerante nesses 10 minutos. 


Eu levei socos no rosto, e ele não me deixava me proteger com a mão". 

"Chutes até cair no chão e, de quatro, ele enfiou as pizzas na minha boca, me chamando de animal.


Eu vomitei e comi meu próprio vômito.


Meu gato comeu um pedaço e lambeu outro, ele me obrigou a comer o que ele havia lambido", destacou.

A jovem ainda relatou que era obrigada a fazer trabalhos de faculdade para o padrasto e que era torturada caso se negasse. 


Ela também disse que tinha o celular vistoriado todos os dias e que era proibida de sair com amigos e de namorar. 

A jovem ainda relata nos posts que decidiu novamente denunciar o padrasto e pedir ajuda, agora, porque "ou ele mataria ou eu me mataria". 

"Tentei me suicidar várias vezes com cortes e remédios.


Eu contei a verdade pois não aguentava mais".

"Ele me agredia nos estupros, mas depois de um tempo, só utilizou das ameaças contra a minha família. 


Eu era usada como um lixo. 


Já abortei diversas vezes. 


Nunca pude ir ao médico pra fazer curetagem. 


Todas as vezes sangrava e passava mal a noite inteira. 


Já vi os bebês inteiros no vaso sanitário. 


Eu era chamada de burra, anta, doente, demente todos os dias, e era obrigada a repetir isso pra mim mesma", relata a jovem. 

"Ele é um monstro.


Perdi minha infância e adolescência.


Me sentia um lixo por não ter forças pra pedir ajuda e por sentir tanto medo", afirmou.

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) informou que ofereceu denúncia contra o suspeito no dia 11 de fevereiro, por todos os crimes narrados pela vítima. 


O MP afirmou que recebeu o inquérito da Delegacia de Atendimento à Mulher de Camaçari, no dia 7 de fevereiro, e ouviu a vítima no dia seguinte. 

O Ministério Público informou também que solicitou medida de busca e apreensão de provas contra o suspeito, que foi cumprida no mesmo dia da prisão dele. 


A promotora de Justiça Anna Karina Senna, substituta na 10ª Promotoria de Justiça de Camaçari, e outras cinco promotoras de Justiça foram designadas para atuar na análise do inquérito. 


O processo penal está em segredo de justiça por força de lei, informou o MP-BA.

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