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quinta-feira, fevereiro 07, 2019

Declarações do ministro da Educação causam polêmica e provocam reações no Congresso


Ricardo Vélez Rodríguez defendeu a volta da educação moral e cívica nas escolas e disse que universidade não é para todos. Parlamentares querem que ele vá ao Congresso para se explicar.

 

 

Por Jornal Nacional
Ministro da Educação causa polêmica com declarações
Ministro da Educação causa polêmica com declarações.

Declarações e propostas do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, têm causado polêmica e já provocaram reações no Congresso – parlamentares defendem que o ministro vá ao Congresso para dar explicações.


Entre outros assuntos, Rodríguez disse que a universidade não é para todos e defendeu incluir a disciplina educação moral e cívica no currículo do ensino fundamental – para os estudantes aprenderem o que é ser brasileiro e quais são "os nossos heróis". 

Na edição do último fim de semana, a revista "Veja" publicou entrevista concedida pelo ministro. 

Vélez Rodríguez disse que a volta da disciplina educação moral e cívica nas escolas é uma forma de ensinar ao adolescente que viaja "que há contextos sociais diferentes e que as leis de outros países devem ser respeitadas". 

Rodríguez afirmou que, viajando, o brasileiro é um "canibal". 


"Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. 


Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola", disse o ministro. 

Na noite desta segunda-feira (4), o ministro voltou a defender o ensino de moral e cívica em um vídeo na página do Ministério da Educação.


"Eu vou dar muita ênfase a isso, à retomada desse processo de ensino de valores fundamentais, fundantes da nossa vida cidadã. 


Tanto no ensino infantil quanto no ensino fundamental, ao longo de todo o ensino fundamental e – por que não? – continuando no nível universitário", afirmou. 

O senador Major Olímpio, do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, apoia a proposta do ministro. 

"Isso vai valorizar, vai ampliar a formação e a visão do cidadão brasileiro a partir da escola, coisas mínimas que hoje, se observa: que as pessoas não sabem mais cantar o Hino Nacional, não conhecem o símbolo pátrio. 


Então, isso é importante. 


Não conhecem minimamente a estrutura de funcionamento do estado brasileiro", disse o senador.


Ainda na entrevista à revista "Veja", Ricardo Vélez Rodríguez criticou a atriz e cineasta Carla Camuratti porque, segundo afirmou, ela colocou "Dom Joãozinho" – referindo-se ao príncipe regente d. João VI, que chegou ao Brasil com a família real em 1808 – "como um reles comedor de frango, sem nenhuma serventia". 

O ministro se referia ao filme "Carlota Joaquina", que, na verdade, não é um documentário, mas uma paródia de um momento histórico. 


Carla Camuratti preferiu não comentar a crítica do ministro.


Na entrevista, Rodríguez também repetiu que a universidade não é para todos, que representa uma elite intelectual, "para a qual nem todo mundo está preparado ou para a qual nem todo mundo tem disposição ou capacidade". 

Ricardo Velez Rodríguez elogiou o programa Escola Sem Partido e fez críticas ao que chama de "ideologização precoce de crianças na escola". 

Ele afirmou que a escola não serve para fazer política e que a ideologização nas escolas é "um abuso, um atentado ao pátrio poder e uma invasão da militância em um aspecto que não lhe compete". 


E ameaçou: quem praticar isso ostensivamente vai responder à legislação.

Sobre a liberdade de ensino, disse que liberdade não é fazer o que se deseja. 


"Liberdade é agir, fazer escolhas dentro dos limites da lei e da moralidade. 


Fazer o que dá vontade não é ser livre. Isso é libertinagem. 


No Brasil, por força de ciclos autoritários, temos uma visão enviesada da liberdade. 


Liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda. 


Não! 


Isso é desrespeito à autoridade, vai para o xilindró", afirmou. 

A mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, afirmou que o filho nunca disse isso e esclareceu que a frase é de autoria dos humoristas do Casseta e Planeta. 

Em uma carta aberta, Lucinha cobrou uma retratação. 


Nesta terça, Vélez Rodríguez ligou para ela a fim de pedir desculpas.

"Eu achei que ele além de ser mal informado, ele foi leviano de dar uma declaração dessas", afirmou Lucinha Araújo. 


"Como é que o senhor pôs na boca do meu filho? 


Ele disse: 'Ah! senhora, mil perdões. 


Eu não sei como eu vou me desculpar'. 


Eu falei: 'Quero que o senhor se desculpe publicamente'", relatou.


No fim da tarde, o ministro da Educação se desculpou em uma rede social. 


Disse que a conversa foi tocante e que combinou uma visita a Lucinha Araújo quando for ao Rio. 


E finalizou: "O amor do coração de uma mãe por seu filho é algo valoroso". 

A presidente do movimento Todos Pela Educação, Priscila Fonseca da Cruz, também criticou declarações do ministro. 


Ela disse que o país precisa identificar e enfrentar os problemas reais da educação.

"O problema central da educação brasileira é que a gente não tem conseguido garantir aprendizagem dos nossos alunos. 


Esse é o principal desafio. 


E como que a gente resolve esse desafio? 


Com formação de professores, escolas bem geridas, com tempo integral, com material didático de qualidade, com uma boa base nacional curricular. 


É assim que se resolve", declarou. 

As declarações do ministro da Educação também provocaram reações no Congresso. 

Na Câmara e no Senado, já estão prontos pedidos para que Ricardo Vélez Rodríguez explique as declarações, consideradas desrespeitosas, preconceituosas e que atacam direitos garantidos na Constituição. 

No Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do partido, contestou o ministro e disse que a educação é direito de todos. 

"Não se pode, a despeito de querer banir uma pretensa ideologização, tentar impor uma outra ideologia nas escolas. 


Na verdade, o que ele argumenta fere um princípio constitucional que é o princípio da liberdade de cátedra. 


E do pluralismo de ideias pelo qual está assentada a nossa educação", disse o senador. 

"Está na nossa Constituição: educação é dever de todos, é direito de todos e é dever do estado. 


Ele, ao se referir à universidade só para alguns, desconhece um princípio constitucional elementar", afirmou Randolfe Rodrigues. 

O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) quer que o ministro vá ao plenário da Câmara dar explicações.


"Ele atacou de forma inaceitável a honra dos brasileiros, chamando a todos de ladrões. 


E nós não aceitamos isso. 


Ele tem que vir à Câmara se explicar e pedir desculpas aqui ao povo brasileiro", disse Molon. 

Ministro explica.

 

A assessoria de Vélez Rodriguez divulgou uma nota em que declara que, ao falar sobre as universidades, o ministro queria dar ênfase à valorização do ensino básico e técnico. 

Para ele, segundo a nota, o ensino superior está aberto a todos os estudantes que quiserem ingressar por livre escolha, e não por imposição do mercado. 

Sobre a declaração de que o brasileiro viajando é um canibal, a assessoria do ministro afirmou que ele estava se referindo a casos específicos de determinados jovens e não quis generalizar.

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