Seus estrategistas aprenderam tudo com o principal inimigo: o PT
Bolsonaro durante ato de campanha no Rio de Janeiro, nesta quita-feira (11) — Foto: REUTERS/Ricardo Moraes.
A escolha do brasileiro precisa ser analisada em toda a sua extensão se quisermos decifrar as perspectivas do futuro governo.
Num país onde 69% dizem preferir a democracia a qualquer outro regime, é essencial não apenas respeitar a vontade do eleitorado, mas entender seus motivos, compreender o que ele disse (e o que não disse) em seu voto.
A história recente da democracia brasileira pode ser narrada como uma disputa entre petismo e antipetismo.
Bolsonaro é, hoje, o nome que canaliza o sentimento antipetista.
Se dificilmente seus apoiadores são todos “fascistas que apoiam a tortura”, ninguém tem dúvida de que sejam todos contra o PT, a maioria por princípio.
A tensão, as agressões verbais, a violência que tomam conta do país na
última semana despertaram todo tipo de temor a respeito de uma futura
presidência Jair Bolsonaro.
Um misto de ansiedade e perplexidade cercam a vitória provável dele no próximo dia 28.
Um misto de ansiedade e perplexidade cercam a vitória provável dele no próximo dia 28.
É natural, quando a realidade não corresponde àquilo que se espera, a
busca de algum refúgio para explicá-la.
Também é natural que os novos fenômenos da política frustrem as análises baseadas em premissas ultrapassadas.
As lentes do passado só contribuem para ofuscar tentativas de enxergá-los.
Também é natural que os novos fenômenos da política frustrem as análises baseadas em premissas ultrapassadas.
As lentes do passado só contribuem para ofuscar tentativas de enxergá-los.
A escolha do brasileiro precisa ser analisada em toda a sua extensão se quisermos decifrar as perspectivas do futuro governo.
Num país onde 69% dizem preferir a democracia a qualquer outro regime, é essencial não apenas respeitar a vontade do eleitorado, mas entender seus motivos, compreender o que ele disse (e o que não disse) em seu voto.
O primeiro enigma está na escolha de um nome que demonstra admiração
pela ditadura militar, desprezo pelos direitos humanos, aprovação à
tortura e certa devoção às armas de fogo.
É verossímil que os 46% dos brasileiros que votaram em Bolsonaro aprovem essas ideias?
É verossímil que os 46% dos brasileiros que votaram em Bolsonaro aprovem essas ideias?
Dificilmente.
Bolsonaro, como toda candidatura numa democracia representativa, representa uma aliança entre grupos ideológicos e de interesse.
É provável que os nazistas que agrediram uma jovem lésbica em Porto Alegre, os homófobos que atacam gays pelo Brasil e simpatizantes do fascismo o apoiem.
Mas nada disso faz de Bolsonaro um fascista ou nazista – ainda que ele erre ao não condenar as agressões com a devida ênfase ou até ao encorajá-las com suas frases de efeito.
Bolsonaro, como toda candidatura numa democracia representativa, representa uma aliança entre grupos ideológicos e de interesse.
É provável que os nazistas que agrediram uma jovem lésbica em Porto Alegre, os homófobos que atacam gays pelo Brasil e simpatizantes do fascismo o apoiem.
Mas nada disso faz de Bolsonaro um fascista ou nazista – ainda que ele erre ao não condenar as agressões com a devida ênfase ou até ao encorajá-las com suas frases de efeito.
Classificá-lo como alguém de “extrema-direita” que oferece riscos à
democracia, acreditar que estamos na ante-sala de um golpe militar ou da
ascensão de um regime autoritário só serve para acirrar ainda mais
ânimos já exaltados e dar razão àqueles que veem comprometimento
ideológico tanto na academia quanto na imprensa.
Em que pese todo o seu palavreado abjeto, as evidências de que
Bolsonaro represente uma ameaça de ruptura legal ou jurídica são
frágeis, se é que existem.
Claro que é preciso ficar alerta para o futuro.
Mas, hoje, a generalização em torno de termos de significado histórico preciso, como “fascismo” ou “nazismo”, é um erro de categoria que só faz alimentar sua campanha e obscurecer os riscos reais de Bolsonaro.
Claro que é preciso ficar alerta para o futuro.
Mas, hoje, a generalização em torno de termos de significado histórico preciso, como “fascismo” ou “nazismo”, é um erro de categoria que só faz alimentar sua campanha e obscurecer os riscos reais de Bolsonaro.
Não é preciso buscar nos anos 1930 os motivos para condená-lo.
Eles são evidentes em 2018.
Alguém que pretende ser presidente da República numa nação democrática não pode negar a história da ditadura militar, fazer vista grossa para a tortura ou para crimes, apenas porque são cometidos por policiais ou pelo aparelho de repressão.
É do interesse das próprias Forças Armadas e da polícia respeitar e fazer cumprir a lei.
Tortura e violações de direitos humanos são crimes.
Eles são evidentes em 2018.
Alguém que pretende ser presidente da República numa nação democrática não pode negar a história da ditadura militar, fazer vista grossa para a tortura ou para crimes, apenas porque são cometidos por policiais ou pelo aparelho de repressão.
É do interesse das próprias Forças Armadas e da polícia respeitar e fazer cumprir a lei.
Tortura e violações de direitos humanos são crimes.
Outro erro de categoria é classificar Bolsonaro como “liberal”, graças à
súbita conversão aos princípios de mercado promovida pelo economista
Paulo Guedes, uma espécie de Pigmalião que tem se encarregado da agenda
econômica do candidato desde o final do ano passado.
Chamar Bolsonaro de “liberal” é um absurdo tão grande quanto classificar o PT como “comunista”.
Chamar Bolsonaro de “liberal” é um absurdo tão grande quanto classificar o PT como “comunista”.
Liberais não defendem o ensino religioso em escolas públicas, não veem
problemas na privatização da Eletrobras, não contestam a ciência
climática nem manifestam opiniões como as de Bolsonaro sobre direitos
das mulheres, homossexuais e outras minorias.
Qualquer um que já tenha lido Stuart Mill saberá distinguir o pensamento liberal genuíno do conservador, professado por boa parte dos apoiadores de Bolsonaro.
Qualquer um que já tenha lido Stuart Mill saberá distinguir o pensamento liberal genuíno do conservador, professado por boa parte dos apoiadores de Bolsonaro.
A aliança que permitiu a ascensão dele tem ingredientes do liberalismo
econômico, do nacionalismo militar e do conservadorismo religioso.
Eles estão presentes nos três ministros que Bolsonaro já confirmou, caso vença as eleições: Guedes, o deputado Onyx Lorenzoni e o general Augusto Heleno.
Como – e se – tal aliança resistirá aos embates inevitáveis é a principal incógnita em torno de um governo Bolsonaro.
Eles estão presentes nos três ministros que Bolsonaro já confirmou, caso vença as eleições: Guedes, o deputado Onyx Lorenzoni e o general Augusto Heleno.
Como – e se – tal aliança resistirá aos embates inevitáveis é a principal incógnita em torno de um governo Bolsonaro.
Mas o principal fator responsável pela vitória provável de Bolsonaro no
próximo dia 28 não está entre aqueles que o apoiam.
Está naqueles que disputam a eleição contra ele, em especial o PT.
Está naqueles que disputam a eleição contra ele, em especial o PT.
A história recente da democracia brasileira pode ser narrada como uma disputa entre petismo e antipetismo.
Bolsonaro é, hoje, o nome que canaliza o sentimento antipetista.
Se dificilmente seus apoiadores são todos “fascistas que apoiam a tortura”, ninguém tem dúvida de que sejam todos contra o PT, a maioria por princípio.
Bolsonaro soube adaptar a estratégia petista do “nós contra eles” para
seu público.
A oposição anterior ao PT tinha caráter mais pragmático, de defesa de interesses, por isso nunca teve a mesma força dos petistas.
Bolsonaro não.
Sua turma faz oposição ideológica.
Combate o PT com as mesmas armas do inimigo, adaptadas para a guerrilha no meio digital.
A oposição anterior ao PT tinha caráter mais pragmático, de defesa de interesses, por isso nunca teve a mesma força dos petistas.
Bolsonaro não.
Sua turma faz oposição ideológica.
Combate o PT com as mesmas armas do inimigo, adaptadas para a guerrilha no meio digital.
Para propagar sua narrativa, o bolsonarismo aperfeiçoou táticas que o
PT consagrou.
Dispõe de sites e blogueiros “amigos”, trolls e robôs nas redes sociais, um grupo de esportistas e artistas simpáticos, até "intelectuais" a espalhar suas versões e atacar a imprensa profissional.
Dispõe de sites e blogueiros “amigos”, trolls e robôs nas redes sociais, um grupo de esportistas e artistas simpáticos, até "intelectuais" a espalhar suas versões e atacar a imprensa profissional.
Há certa ironia em ver reclamações sobre “fake news” vindas de Fernando
Haddad, cujo partido sempre financiou blogs e publicações camaradas
para disseminar notícias favoráveis e construir a narrativa de
perseguição do PT pela imprensa, pelo Judiciário e pelas “elites”.
Não menos irônica é a tentativa de atrair o apoio de políticos e
eleitores “centristas”, em nome da reedição da frente democrática que
combateu a ditadura.
É como se o naufrágio econômico provocado por Dilma ou a corrupção desmascarada pela Operação Lava Jato fossem notas de rodapé na história petista.
Não custa lembrar que o petrolão foi o maior esquema de desvio de dinheiro público já desvendado no mundo.
É como se o naufrágio econômico provocado por Dilma ou a corrupção desmascarada pela Operação Lava Jato fossem notas de rodapé na história petista.
Não custa lembrar que o petrolão foi o maior esquema de desvio de dinheiro público já desvendado no mundo.
Será que o PT espera que o eleitor simplesmente esqueça tudo isso, em
nome de uma aliança democrática contra Bolsonaro?
Que tipo de aceno o partido faz em troca?
Continuará a insistir que o ex-presidente Lula é vítima de perseguição política e que o impeachment de Dilma foi “golpe”?
Defenderá os erros da Nova Matriz Econômica?
O aumento de gastos públicos e a política de campeões nacionais que aprofundam a crise fiscal?
Continuará a negar o déficit da Previdência?
Que tipo de aceno o partido faz em troca?
Continuará a insistir que o ex-presidente Lula é vítima de perseguição política e que o impeachment de Dilma foi “golpe”?
Defenderá os erros da Nova Matriz Econômica?
O aumento de gastos públicos e a política de campeões nacionais que aprofundam a crise fiscal?
Continuará a negar o déficit da Previdência?
O próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujas credenciais
democráticas estão acima de qualquer suspeita, alguém que jamais
apoiaria Bolsonaro, constatou o óbvio numa entrevista publicada ontem
pelo jornal O Estado de S.Paulo:
“Por que tem de apoiar automaticamente?
Quando automaticamente o PT apoiou alguém?
Com que autoridade moral o PT diz: ou me apoia ou é de direita?”.
“Por que tem de apoiar automaticamente?
Quando automaticamente o PT apoiou alguém?
Com que autoridade moral o PT diz: ou me apoia ou é de direita?”.
O PT e Bolsonaro se escolheram como adversários mútuos logo no início
da campanha.
Acreditavam que um rival mais radical seria mais fácil de derrotar no segundo turno.
A realidade mostra que apenas um dos dois tinha razão.
No governo, o PT descobriu que a vida não é fácil num país de imprensa livre e Judiciário independente.
A turma de Bolsonaro pode estar feliz com a bancada que elegeu na Câmara e com a provável vitória.
Mas podem se preparar.
Não terão moleza.
De ninguém.
Acreditavam que um rival mais radical seria mais fácil de derrotar no segundo turno.
A realidade mostra que apenas um dos dois tinha razão.
No governo, o PT descobriu que a vida não é fácil num país de imprensa livre e Judiciário independente.
A turma de Bolsonaro pode estar feliz com a bancada que elegeu na Câmara e com a provável vitória.
Mas podem se preparar.
Não terão moleza.
De ninguém.
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