3ª etapa foi deflagrada na manhã desta segunda-feira (5); ex-diretor-presidente global da BRF foi preso.
Por José Vianna, Thais Kaniak, Alana Fonseca e Camila Bonfim, RPC Curitiba, G1 PR e TV Globo
O ex-diretor-presidente global da BRF Brasil Foods Pedro de Andrade
Faria foi preso na manhã desta segunda-feira (5), em São Paulo, na 3ª
fase da Operação Carne Fraca.
Outras dez pessoas ligadas à empresa são alvo de prisão temporária (veja lista mais abaixo),
e duas delas já foram presas na capital paulista: o ex-diretor e
ex-vice-presidente Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior e o gerente
jurídico Luciano Bauer Wienke.
Esta nova fase, batizada de Operação Trapaça, cumpre um total de 91
ordens judiciaisem São Paulo, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio
Grande do Sul e em Goiás. Além dos 11 mandados de prisão, há 27 mandados
de condução coercitiva e 53 de busca e apreensão.
De acordo com a PF, as investigações apontaram que cinco laboratórios
credenciados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa) e setores de análises da BRF fraudavam resultados de exames em
amostras de processo industrial.
Ainda segundo a PF, dados fictícios eram informados em planilhas e
laudos técnicos entregues ao Serviço de Inspeção Federal (SIF/MAPA) para
impedir que o Mapa fiscalizasse a qualidade do processo industrial da
BRF.
Em nota, o Ministério da Agricultura informa que o alvo principal desta
operação é a "fraude nos resultados de análises laboratoriais
relacionados ao grupo de bactérias salmonella spp".
De acordo com o Mapa, a presença de salmonela é comum em carne de aves,
pois faz parte da flora intestinal desses animais, mas a bactéria é
destruída quando submetida a altas temperaturas, como fritura e
cozimento, e procedimentos adequados de preparo e de consumo minimizam
os riscos à saúde.
Pedro de Andrade Faria chegou por volta das às 8h35 à sede da PF na
capital paulista.
Os demais alvos de mandados de prisão temporária dessa
fase trabalham ou já atuaram na BRF.
Veja a lista:
- André Luís Baldissera
- Décio Luiz Goldoni
- Fabiana Rassweiller de Souza
- Fabianne Baldo
- Harissa Silvério el Ghoz Frausto
- Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior - preso
- Luciano Bauer Wienke - preso
- Luiz Augusto Fossati
- Natacha Camilotti Mascarello
- Pedro de Andrade Faria - preso
- Tatiane Cristina Alviero
O G1
enviou um e-mail pra BRF às 7h12 mas, até as 9h, a companhia não havia
se posicionado.
A reportagem tenta localizar a defesa dos citados.
Os investigados podem responder, de acordo com a PF, por crimes como
falsidade documental, estelionato qualificado e formação de quadrilha ou
bando, além de crimes contra a saúde pública, entre outros.
Segundo a Justiça, os "crimes contra a saúde pública tiveram início e
foram essencialmente praticados na planta da BRF em Carambeí/PR".
"Em tal região teria havido a contaminação de granjas pela bactéria
Salmonella e a empresa, além de não tomar as providências necessárias
para a sua contenção, também não teria comunicado às autoridades
competentes", diz um trecho do despacho.
Ainda conforme a Justiça, "o que se verifica é a existência de um
círculo vicioso, em que um crime foi cometido para ocultar o outro e
assim por diante, restando evidente a conexão e impossibilidade de
dissociação dos fatos".
A primeira fase da Operação Carne Fraca, lançada em março de 2017,
investigou o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura em um
esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de
frigoríficos.
A operação causou um impacto financeiro de R$ 363 milhões nas contas da
BRF de 2017.
Houve gastos e despesas extras com mídia e advogados, além
de frete, armazenagem e perdas com devoluções de produtos
Operação Trapaça
"Trapaça" é uma alusão, conforme a PF, ao sistema de fraudes operadas
pela BRF e por laboratórios de análises de alimentos a ele vinculados.
Executivos da BRF, do corpo técnico e profissionais responsáveis pelo
controle de qualidade dos produtos da empresa consentiam com as fraudes.
Ainda segundo a PF, também foi constatado que executivos da BRF fizeram
manobras extrajudiciais para acobertar a prática das irregularidades ao
longo das investigações.
A PF informou que 270 policiais federais e 21 auditores fiscais
federais agropecuários estão nas ruas cumprindo os mandados desta nova
etapa da Carne Fraca.
Cidades onde há mandados
No Paraná, há mandados sendo cumpridos em Curitiba e em Araucária, na
Região Metropolitana; em Carambeí, em Castro, em Palmeira, em Ipiranga,
em Piraí do Sul e em Ponta Grossa, nos Campos Gerais; em Dois Vizinhos e
em Toledo, no oeste; e em Maringá, no norte.
Em São Paulo, a PF cumpre mandados na capital, em Piracicaba, em
Santana do Paranaíba, em Sorocaba, em Vinhedo e em Porto Feliz.
Em Goiás, os mandados são cumpridos em Mineiros e em Rio Verde. No Rio
Grande do Sul, em Arroio do Meio. Em Santa Catarina, as cidades com
ordens judiciais são Chapecó e Treze Tílias.
Os mandados judiciais foram expedidos pelo Juízo da 1ª Vara Federal de Ponta Grossa.
O que diz o Mapa
Por meio de nota, o Mapa informou que vai adotar algumas medidas a partir desta 3ª etapa da Carne Fraca.
Uma delas é a suspensão dos estabelecimentos envolvidos para exportar a
países que exigem requisitos sanitários específicos de controle e
tipificação da bactéria salmonella spp.
Será suspenso também o credenciamento dos laboratórios alvo da
operação, até finalização dos procedimentos de investigação, que podem
resultar no cancelamento definitivo do credenciamento.
Haverá a implementação de medidas complementares de fiscalização, com
aumento de frequência de amostragem para as empresas envolvidas, até o
final do processo de investigação.
O Mapa disse que a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) implementará
novos modelos de controle de laboratórios credenciados visando a
redução de fraude.
Outra medida vai ser aprimoramemto de ferramentas de combate a fraudes em alimentos.
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