Ela não mencionou o PT, mas fala foi uma resposta ao partido, que chamou a condenação de Lula de 'farsa judicial'. Além disso, integrantes da legenda vêm pregando 'desrespeito a decisões judiciais'.
Por Renan Ramalho e Bernardo Caram, G1, Brasília
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A presidente do STF disse hoje que desacatar a Justiça é inaceitável.
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, abriu nesta quinta-feira (1º) os trabalhos do Judiciário em 2018 com um discurso em defesa da Justiça.
Ela disse ser “inadmissível e inaceitável” atacar a instituição.
Cármen Lúcia não citou um caso específico do que ela tenha considerado
como desacato à Justiça, mas a fala dela foi uma resposta ao PT.
Na
semana passada, após a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), aliados do político contestaram a legitimidade da decisão.
Em nota o PT, partido de Lula, classificou o julgamento como uma "farsa judicial".
Além disso, integrantes da legenda vêm pregando "desrespeito a decisões judiciais".
No discurso, Cármen Lúcia ressaltou que uma pessoa pode até discordar
de uma decisão judicial, mas deve fazer a reclamação dentro dos "meios
legais".
Para ela, "justiça individual" é vingança.
“Pode-se ser favorável ou desfavorável a decisão judicial pela qual se aplica o direito.
Pode-se buscar reformar a decisão judicial, pelos meios legais e pelos juízos competentes.
O que é inadmissível e inaceitável é desacatar a Justiça, agravá-la ou agredi-la.
Justiça individual fora do direito não é justiça, senão vingança ou ato de força pessoal.”
Ela afirmou que a Justiça não é "ideal", é humana.
Mas a ministra
ressaltou que é a Justiça a instituição à disposição de cada cidadão
para garantir a paz.
Segundo Cármen Lúcia, deve haver um juiz para
proteger os direitos dos nossos "adversos", e assim haverá também um
para assegurar os nossos direitos.
"O Judiciário aplica a Constituição e a lei.
Não é a Justiça ideal, é a humana, posta à disposição de cada cidadão para garantir a paz.
Paz que é o contínuo dos homens e das instituições.
Se não houver um juiz a proteger a lei para os nossos adversos, não haverá um para nos proteger no que acreditamos ser o nosso direito."
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Cármen Lúcia: "Justiça individual fora do direito não é justiça".
A solenidade, realizada no plenário do STF, contou com a presença do
presidente Michel Temer; dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ); do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE); da procuradora-geral da
República, Raquel Dodge; do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Claudio Lamachia; além de ministros e outras autoridades dos
três poderes.
Em sua fala Cármen Lúcia também enalteceu o papel da Constituição, das
leis e da Justiça em momentos de crise.
Ela disse esperar que os
cidadãos saibam conviver com responsabilidade e zelar pela liberdade.
"Convém e espera-se que cada cidadão brasileiro atue para que a liberdade que a Constituição assegura seja exercida com a responsabilidade que o viver com o outro impõe.
Sem liberdade não há democracia.
Sem responsabilidade não há ordem.
Sem Justiça não há paz."
Segundo a ministra, a civilização é construída com o respeito às
pessoas que pensam diferente.
Ela disse que o mau exemplo no
descumprimento da lei "contamina e compromete" a sociedade.
“O respeito à Constituição e à lei para o outro é a garantia do direito para cada um de nós cidadãos.
A nós, servidores públicos, o acatamento irrestrito à lei é impor-se como dever.
Constitui o mau exemplo o descumprimento da lei, e o mau exemplo contamina e compromete.
Civilização constrói-se sempre com respeito às pessoas que pensem igual e diferente.
Constrói-se com respeito às leis vigentes.”
A cerimônia durou cerca de 20 minutos.
O presidente Michel Temer não discursou, assim como nenhum outro político.
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Veja a íntegra do discurso de Cármen Lúcia na cerimônia de abertura do ano judiciário.
Procuradora-geral falou de violência urbana e Justiça
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, também discursou no
evento. Ela citou problemas na segurança pública do país e também
defendeu o papel da Justiça no avanço da sociedade.
"O Ministério Público irmana-se ao sentimento dos membros desta Augusta Corte, que reconhecem que vivenciamos os brasileiros a dura realidade de aumento da violência urbana, de corrupção ainda disseminada, de crise nas prisões e de sentimento de impunidade."
Dodge ressaltou que os "olhos do país" estão voltados para a Justiça e
que o Ministério Público vai agir "firmemente" para "endireitar" os atos
daqueles que desviam dinheiro público.
"Os olhos do país e o coração de todo o povo observam e sentem o que pensam e decidem os órgãos do sistema de justiça, com a atenção que nos impulsiona, no Ministério Público, a agir firmemente em nome do interesse público, a encontrar caminhos que façam chegar justiça aos mais necessitados e a endireitar os atos tortuosos dos que desviam dinheiro público."
Ela também defendeu a prisão após condenação em segunda instância.
O
tema voltou à discussão após a condenação de Lula.
Para Dodge, a prisão
após segunda instância "evita a impunidade".
"O Ministério Público tem agido e pretende continuar a agir com o propósito de buscar resolutividade, para que a Justiça seja bem distribuída; para que haja o cumprimento da sentença criminal após o duplo grau de jurisdição, que evita impunidade; para defender a dignidade humana, de modo a erradicar a escravidão moderna, a discriminação que causa infelicidade, e para assegurar acesso à educação, à saúde e a serviços públicos de qualidade."
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Veja a íntegra do discurso de Raquel Dodge na cerimônia de abertura do ano judiciário
Crítica a 'linchamentos físicos e morais'
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia,
discursou como representante da advocacia.
Ele afirmou que nações, como o
Brasil, que passaram por momentos de “crises, desarranjos
institucionais, perplexidades, dilemas morais e existenciais’, saem
desses ciclos de maneira mais madura, consciente e fortalecida.
Em seguida, chamou a atenção pela cobrança da sociedade por mais ética
na esfera pública e o poder do Judiciário para o “saneamento das
instituições”.
Assim como Cármen Lúcia, Lamachia criticou ataques à
Justiça.
“Não se questiona o direito constitucional à crítica, mas ele não pode
derivar para agressões e linchamentos físicos e morais, como
eventualmente tem ocorrido.
Igualmente, assistimos a tentativas
inaceitáveis de constranger e influenciar magistrados por meio de
pressão política, em flagrante desrespeito à independência do
Judiciário”, afirmou.
Na saída do STF, questionado por jornalistas, o presidente da Câmara discordou da fala de Lamachia sobre pressão política.
“Eu respeito, mas acho que a relação entre os poderes tem sido de bom
diálogo.
Da Câmara, pelo menos, do Senado, com certeza, e do Executivo
também”, disse Rodrigo Maia.
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Rodrigo Maia disse que não vê pressão política sobre o Judiciário.
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