Empresário é citado como pivô de esquema que desviou mais de R$ 110 milhões da saúde. Em áudio, cita propina como "custo político".
Por G1 AM
Investigado por corrupção na Saúde do Amazonas,
o médico Mouhamad Moustafá chegou a debochar de um protesto de colegas
que denunciavam atraso de salários.
As mensagens constam nos relatórios
da operação "Maus Caminhos", que resultou ainda na prisão de ex-secretários de Estado, do ex-governador José Melo e da ex-primeira-dama, Edilene Oliveira.
Em delação premiada, a enfermeira Jennifer Nayara, ex-sócia do médico,
deu mais detalhes sobre o pagamento de propina que era feito.
A ação da Polícia Federal apreendeu mais de 50 celulares.
Na memória
dos aparelhos, centenas de arquivos mostram como o dinheiro era
desviado.
Entre esses arquivos estão algumas conversas do empresário com
o seu advogado, no qual ele fala sobre o pagamento de propina, e usa o
termo “custo político”.
“Que para eu trabalhar 100% correto, doutor, eu não vou poder dar 'custo político' para ninguém”.
A propina saía de contratos públicos firmados com empresas dele.
Moustafa gerenciava três unidades de saúde no Amazonas.
“Você acaba tendo que fazer muitos contratos, pra gerar aquele
dinheiro, pra dar pros caras, e acaba sobrando pra você também,
entendeu?
Menos até do que eles levam, entendeu?”.
Delação premiada.
A conversa foi gravada sem que o empresário soubesse por uma sócia.
A
enfermeira Jennifer Nayara teve a delação premiada homologada pelo
Supremo Tribunal Federal (STF).
O vídeo da delação é de 2016.
A enfermeira afirma que o pagamento de
propina envolvia até diretores de unidades de saúde no estado.
Eles
recebiam quantias em dinheiro em pacotes por ordem de Moustafá.
Segundo Jennifer Nayara, o dinheiro era pago para que os diretores não
reclamassem do serviço.
Ela afirma ainda que um termo aditivo de R$ 80
milhões, para a contratação de ortopedistas e aluguel de um Raio-X para
uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), serviu para injetar dinheiro na
campanha política de 2014, quando o ex-governador José Melo foi
reeleito.
A empresa Total Saúde, dirigida por Nayara, conseguiu, em 2013, um
contrato com dispensa de licitação com a Fundação Medicina Tropical, por
intermédio de Cláudia Gomes, assistente do ex-secretário de saúde
Wilson Alecrim, e do apresentador de televisão Waisser Botelho.
A
propina era paga por ordem de Moustafá.
Deboche a manifestação
Em um vídeo divulgado pela Polícia Federal, o empresário xinga alguns
funcionários que protestam em frente ao palácio do Governo, em 2015, por
conta de atraso no pagamento dos salários.
Ele ainda trocou mensagens
sobre a manifestação com a empresária e advogada Priscila Marcolino.
“Lotada a manifestação dos médicos aqui na Compensa.
Três médicos o resto tudo assessores do sindicato para fazer barulho.
Acho que vi até a faxineira do Sindicato de jaleco aqui para dar volume (sic)”, diz a mensagem.
Outras mensagens apontam a preferência do empresário em realizar o pagamento dos enfermeiros.
“Pode movimentar algo amanhã mesmo se quiser para pagar enfermagem, que
esse povo ganha pouco e não faz barulho”, diz Moustafá, que foi preso
em 2016 e atualmente responde ao processo em liberdade com o uso de
tornozeleira eletrônica. Ele afirma ser inocente das acusações.
Sobre a operação.
O grupo é suspeito de participar de um esquema de desvio de verbas na
Saúde do Estado.
A Maus Caminhos apontou o envolvimento deles em 2016.
Ex-secretários e o ex-governador José Melo estão entre os presos ao
longo das três fases da operação.
Os investigados possuíam contratos firmados com o Governo do Estado
para a gestão de unidades de saúde, que era feita por meio do Instituto
Novos Caminhos (INC), instituição qualificada como organização social.
As investigações que deram origem à operação demonstraram que, dos
quase R$ 900 milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional
de Saúde (FNS) ao Fundo Estadual de Saúde (FES), mais de R$ 250 milhões
teriam sido destinados ao INC.
A participação do ex-governador, da esposa, Edilene Oliveira, e de
ex-secretários no desvio de verbas da saúde foi identificada por meio de
conversas telefônicas interceptadas entre o irmão de José Melo, Evandro
Melo, e Mouhamad Moustafa.
Presos nas três fases da Maus Caminhos
- José Melo, ex-governador do Amazonas - prisão preventiva;
- Evandro Melo, irmão dele e ex-secretário de Administração e Gestão - prisão preventiva;
- Wilson Alecrim, ex-secretário de Saúde - prisão preventiva;
- Afonso Lobo de Moraes, ex-secretário de Fazenda - prisão preventiva;
- Pedro Elias, ex-secretário de Saúde - prisão preventiva;
- Edilene Gomes Oliveira, ex-primeira-dama - prisão preventiva
Também são suspeitos:
- Raul Zaidan, ex-chefe da Casa Civil;
- Mouhamad Moustafá, médico
Além de Moustafá e Zaidan, a decisão também envolve Keytiane
Evangelista e José Duarte Filho.
No documento, o juiz plantonista
Wendelson Pereira Pessoa pontua que não foram verificados "fatos novos
aptos à decretação de prisão preventiva dos investigados".
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