País é considerado o 11º mais seguro do mundo, segundo o Índice Global da Paz de 2016.
Por Luis Ottoni*, G1
Um homem embriagado provoca um grupo de policiais nas ruas de Tóquio,
no Japão.
Os policiais reagem, usando estratégias de luta corporal e o
envolvendo em uma espécie de "cobertor" para levá-lo à delegacia.
O vídeo
da abordagem “não-violenta” chama atenção pela calma dos agentes e a
ausência do uso de armas de fogo.
A técnica, que não é nova, se tornou
um exemplo para corporações pelo mundo.
De acordo com especialistas
consultados pelo G1, ela é fruto de um sistema de valores que envolve a cultura do país e hoje se reflete em seus baixos índices de violência.
Sistema comunitário.
De acordo com o professor do Departamento de Justiça Criminal da
Universidade Estadual de Nova York em Albany, David Bayley, o
comportamento mais “humanizado” da polícia japonesa está relacionado ao
“koban”, um sistema de policiamento comunitário.
A palavra se refere às pequenas estações policiais que compõem o
sistema.
Mas, na prática, ela vai muito além do significado literal,
podendo ser explicada como uma filosofia que estabelece a ligação da
polícia com a sociedade japonesa desde 1870.
"Os kobans são postos policiais colocados em pontos estratégicos das
cidades.
Nelas, os policiais são treinados para não apenas servirem a
população em relação à segurança, mas também dando todo tipo de
informação, fortalecendo um laço de confiança com as pessoas", explica
Bayley.
Ainda de acordo com ele, é comum esses policiais ligarem para a casa
das pessoas da área do koban, "apenas para saber como elas estão ao
menos duas vezes por ano".
Lealdade.
Autor do livro “Força da Ordem”, que discute as práticas incorporadas
pela polícia japonesa, Bayley enfatiza que a “obediência à autoridade” é
algo enraizado na cultura dos japoneses, e a polícia se utiliza disso
para conseguir “lealdade do público”.
“Com isso, eles trabalham muito
para evitar escândalos de corrupção que possam vir a manchar a imagem da
corporação.
Em troca, o público os respeita cada vez mais”, disse.
As práticas.
Em 2010, o agente do Departamento de Direitos Humanos da Polícia
Militar do Espírito Santo, Sandro Roberto Campos, foi selecionado para
participar de um treinamento com a polícia japonesa em Tóquio, onde foi
introduzido às práticas do koban.
Por duas semanas, ele se uniu a um grupo de policiais brasileiros para
assistir a palestras e acompanhar os policiais japoneses pelas ruas de
Tóquio.
Durante o treinamento, aprendeu métodos de abordagem e de
policiamento japoneses.
“Eles utilizam muito o kendô, que são práticas de artes marciais.
Inclusive, como grande parte das armas utilizadas por criminosos são
brancas (como facas, por exemplo), os coletes dos policiais são à prova
desse tipo de arma”, disse.
Além disso, segundo Campos, os policiais fazem uso de uma “rede” ou
"cobertores" para envolver indivíduos que estejam alterados, como
aparece no vídeo citado acima.
Outro método encontrado pela polícia para punir crimes considerados
“pequenos”, segundo Bayley, é levar os criminosos às kobans “e fazê-los
assinar um pedido formal de desculpa à sociedade, comprometendo-se a
devolver eventuais prejuízos à comunidade”, explica.
Grande parte dessas táticas, na visão de Campos, ainda não são
"viáveis" para serem importadas ao Brasil por conta da grande diferença
social dos dois países.
Mesmo assim, alguns estados, como o Espírito
Santo, tentam se inspirar nessas práticas para guiar suas corporações.
Efeitos Positivos.
Segundo Lim Hyeyoung , professora da Universidade do Alabama em
Birmingham, nos EUA, "os japoneses consideram a desobediência à lei como
algo vergonhoso.
Os próprios cidadãos têm uma política de policiamento
de seus atos e da comunidade muito enraizado", disse.
A prática vem surtindo efeito.
O Japão hoje é considerado a 11ª nação
mais segura do mundo, segundo o Índice Global da Paz de 2016.
O país
registrou 112 incidentes envolvendo armas de fogo ao longo de 2016,
segundo relatório
do Departamento Nacional de Polícia Japonesa.
No Brasil, o número de
mortes por armas de fogo chegou a 44.861 vítimas em 2014, de acordo com Mapa da Violência divulgado no ano passado.
* Sob supervisão de Dennis Barbosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário