Bretas também prorrogou prisão temporária de Leonardo Gryner. COB e Rio 2016 foram intimados a apresentar, em 24 horas, a íntegra do conteúdo de e-mails de secretária de Nuzman.
Por Marcelo Gomes, GloboNews
![Justiça matém Carlos Arthur Nuzman preso por tempo indeterminado Justiça matém Carlos Arthur Nuzman preso por tempo indeterminado](https://s02.video.glbimg.com/x720/6205901.jpg)
Justiça matém Carlos Arthur Nuzman preso por tempo indeterminado.
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, aceitou
nesta segunda-feira (9) o pedido do Ministério Público Federal (MPF) e
decretou a prisão preventiva de Carlos Arthur Nuzman, presidente
afastado do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Ele está preso desde
quinta-feira (5) e o prazo para a prisão temporária, de cinco dias,
terminaria nesta segunda. Agora, a detenção se dá por tempo
indeterminado.
Bretas também prorrogou prisão temporária de Leonardo Gryner,
braço-direito de Nuzman e ex-diretor do COB e do Comitê Rio 2016. Ele
também foi preso na segunda fase da operação "Unfair Play" (jogo sujo,
do inglês), na quinta.
Segundos os investigadores, Nuzman e Gryner intermediaram o pagamento
de propinas para que o Rio fosse escolhido a sede dos Jogos Olímpicos de
2016.
Também estão envolvidos no esquema, investigado em cooperação com
procuradores da França, o ex-governador Sérgio Cabral, preso desde
novembro, e o empresário Arthur Soares, o "Rei Arthur", que está
foragido.
De acordo com o pedido do Ministério Público Federal, a possibilidade
de Nuzman responder às acusações em liberdade "é medida absolutamente
insuficiente para impedir que atue no sentido de interferir na produção
de provas".
O pedido recente de cooperação internacional com a Suíça, para
identificar o patrimônio ocultado de Nuzman em um cofre em genebra,
também aparece como elemento para que os procuradores tenham pedido a
transformação da prisão em preventiva.
"A diligência em questão pode ser evidentemente prejudicada pelo acesso
ao referido cofre e movimentação dos bens lá armazenados", argumenta o
texto.
Em outro momento do pedido do MPF, fica claro que Nuzman utilizou
dinheiro da Rio 2016 para pagar o escritório de Nélio Machado, seu
advogado.
Em e-mail mandado em 25 de setembro de deste ano, portanto
após ter sido levado coercitivamente para prestar depoimento, Nuzman
afirma que a Diretoria Estatutária do Comitê Rio 2016 determinou
aprovação do contrato de prestação de serviço com o escritório de
advocacia, no valor de R$ 5,5 milhões.
A deliberação para aprovação ou não ocorreria apenas dois dias depois.
O
documento, segundo o pedido dos procuradores, prova que Nuzman
"continua a atuar em benefício próprio, usando os instrumentos do Comitê
Olímpico Brasileiro, bem como sua influência sobre as pessoas que lá
trabalham".
O advogado Nélio Machado disse que já havia atendido a Rio 2016 no ano
passado e que sua atuação junto ao Comitê não tem qualquer
irregularidade.
De acordo com o advogado, ele foi contratado para atuar
na defesa da Rio 2016 e o contrato incluía defender, se necessário, os
integrantes do conselho gestor, entre eles Carlos Arthur Nuzman.
Nélio Machado diz que, em setembro, ao saber que dois dos conselheiros
haviam questionado o contrato, ordenou que seu escritório cancelasse a
nota de pagamento.
Diz ainda que não recebeu nenhum honorário e que está
atendendo Nuzman em caráter humanitário e que Nuzman não usou qualquer
poder na Rio 2016 para contratar advogados.
Barras de ouro
O pedido de prisão foi feito pelo MPF após uma tentativa de ocultação
de bens no último mês, de acordo com os procuradores.
Entre as ações,
Nuzman teria tentando regularizar, com uma retificação de declaração à
Receita Federal, valores em espécie e 16 quilos em barras de ouro, que
estariam guardados em um cofre na Suíça.
A ação é um desdobramento da "Unfair Play", uma menção a jogo sujo e
que é mais uma etapa da Lava Jato no Rio.
Os presos serão indiciados por
corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Intimação ao COB
Na decisão, o juiz Marcelo Bretas também intimou o Comitê Olímpico
Brasileiro e o Comitê Organizador Rio 2016 para que apresentem, em 24
horas, o conteúdo integral da caixa de email de Maria Celeste de Lourdes
Campos Pedroso, secretária de Nuzman.
O magistrado pede ainda que sejam esclarecidas as razões que levaram à
impossibilidade da extração dos dados na quinta-feira (5), quando foram
cumpridos os mandado de busca e apreensão.
![Secretária de Nuzman conta detalhes dos bastidores da propina em depoimento Secretária de Nuzman conta detalhes dos bastidores da propina em depoimento](https://s02.video.glbimg.com/x720/6203653.jpg)
Secretária de Nuzman conta detalhes dos bastidores da propina em depoimento.
O depoimento da secretária, obtido pelo Fantástico,
revelou que a cúpula do Comitê Olímpico da Rio 2016 tinha conhecimento
que ela sofria pressão do empresário senegalês Papa Diack por
pagamentos.
O africano, segundo os investigadores, cobrou milhões de
dólares em troca de votos para trazer a Olimpíada para o Brasil.
Papa Diack é filho do ex-presidente do Comitê Internacional de
Atletismo, Lamine Diack, e apontado pelo ministério público de finanças
francês como um dos principais elos num esquema de compra de votos.
Nas quatro páginas do depoimento, a secretária de Nuzman disse que,
antes mesmo da eleição, em 2 de outubro de 2009, Papa dizia que Nuzman
lhe devia algum pagamento.
Disse que achava que o pagamento seria para
restauração de pistas de atletismo na África, que Papa era insistente,
mas que Nuzman alegava não saber do que se tratava e que não tinha nada a
ver com isso.
Os contatos, segundo ela, aumentaram depois que o Rio conquistou a
vaga.
Papa Diack ligava insistentemente, inclusive em horários absurdos,
de madrugada.
De acordo com os relatos de Maria Celeste, por e-mail,
Diack reclamava que o dinheiro combinado não havia sido depositado em
contas que ele mantinha no Senegal e na Rússia.
A secretária disse que estranhou que um dinheiro que supostamente seria
para pistas de atletismo na África fosse enviado a uma conta russa.
Em outro e-mail, que aparece no pedido de prisão feito pelo MPF, Papa
Diack cobra diretamente a Nuzman o que seria o pagamento do restante da
propina.
Diz que isso estava causando constrangimento entre as pessoas
com quem ele havia se comprometido em Copenhague, onde foi realizada a
votação para a sede da Olimpíada.
Diz ainda que tentou, sem sucesso,
falar com o então diretor do COB, Leonardo Gryner.
Os investigadores querem saber agora quantos votos foram vendidos para que o rio pudesse sediar a Olimpíada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário