Desmatamento e aquecimento provocado pela emissão de CO2 agravaram falta de chuvas na região, apontam cientistas. Futuras secas podem se tornar mais severas e mais frequentes, alertam.
Por Priscila Jordão, Deutsche Welle
Seca dos rios se
intensifica e prejudica navegação no Amazonas (Foto: Reprodução/Rede Amazônica).
A ação humana contribuiu para intensificar o período de seca na Amazônia
em 2016, que bateu o recorde de pior em 100 anos, mostrou um estudo da
Universidade de Connecticut, publicado recentemente na "Scientific
Reports", da editora da revista "Nature".
Entre as secas na região
analisadas pelos pesquisadores, de 1983, 1998, 2005, 2010 e 2016, a do ano
passado foi a primeira que não pôde ser explicada somente pelo aumento da
temperatura da superfície dos oceanos, incluindo mudanças causadas pelo
fenômeno do El Niño.
Isso "sugere fortemente" que o desmatamento e a
mudança climática causados pelo homem contribuíram para tornar a seca ainda
mais severa.
"Temperaturas acima do
normal da superfície oceânica na região tropical do Pacífico e no Atlântico
foram os principais causadores de secas extremas na América do Sul, mas não
explicam a severidade da falta de chuva em 2016 em uma porção substancial da
Amazônia e do Nordeste", diz o estudo.
"Isso sugere
fortemente uma contribuição potencial de fatores não oceânicos (como mudanças
na cobertura da terra e aquecimento por emissões de dióxido de carbono) para a
seca de 2016", conclui.
As secas de 2005 e 2010
também foram recordes num período de 100 anos, mas puderam ser melhor previstas
pelo modelo dos pesquisadores, que não considerava a contribuição humana, do
que a seca de 2016.
Efeitos do desmatamento
Com o aumento do
desmatamento, que cresceu quase 30% passado, "futuras secas podem se
tornar mais severas e mais frequentes", afirmou uma das autoras do estudo,
Guiling Wang à DW Brasil.
O desmatamento agrava
períodos de seca porque a perda da cobertura vegetal reduz a transferência de
água para a atmosfera, a chamada evapotranspiracão (evaporação do solo somada à
transpiração das plantas), resultando em menos chuvas.
Com cada vez mais secas
recordes, o que o futuro reserva para a Floresta Amazônica?
As secas recorrentes em
períodos curtos de tempo afetam a recuperação do ecossistema, o que aumenta o
risco de queimadas e mortalidade das árvores.
As secas de 2005 e 2010,
por exemplo, resultaram em recordes de queimadas e emissões de carbono.
Um fator importante a
observar é o chamado "ponto de inflexão" da floresta.
"Algumas pesquisas
mostram que uma vez que o desmatamento ultrapassa um limite, ele pode sustentar
uma forte dinâmica entre vegetação e clima que pode levar a seca e morte da
floresta tropical em um período relativamente curto", afirma Wang.
Esse fenômeno seria
preocupante não só para a biodiversidade da Amazônia, mas poderia ter impactos
sobre a falta de água em outras regiões do país.
Cientistas já apontaram que
o desmatamento na Amazônia prejudica a rota dos chamados rios voadores, grandes
nuvens que levam a umidade para outras regiões do Brasil, incluindo as mais
populosas como o Sudeste.
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