Danilo Verpa - Folhapress | ||
Ricardo Lacerda, presidente do banco BR Partners, em São Paulo |
As recentes reviravoltas no governo do presidente Michel Temer para indicar Alexandre de Moraes ao STF, nomear Moreira Franco ministro da Secretaria-Geral e emplacar Edison Lobão na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado alertaram o mercado, segundo um dos principais assessores financeiros do país.
Ricardo Lacerda, fundador e presidente do banco de investimento BR Partners, diz que "há um temor de que o governo use seu capital político para livrar a cara de aliados em vez de aprovar reformas".
E prevê risco de novas manifestações.
"Muitos dos que foram às ruas lutar contra a corrupção estão perplexos com essas nomeações."
*Folha - A economia entra numa nova etapa, mas ainda há incertezas políticas. O que prevê?
Ricardo Lacerda - A economia se estabilizou e começa lentamente a mostrar recuperação.
A reconquista da credibilidade na política monetária do Banco Central permitirá uma forte redução nos juros ao longo de 2017.
A confiança dos empresários e consumidores vai aumentar e isso trará de volta o crescimento.
Não acho que a economia vai bombar a ponto de salvar a política do buraco, mas as coisas estão no caminho certo.
A Lava Jato mudou o jeito de fazer negócio? Como ela influencia a visão do investidor?
Ela acabou com a percepção de completa impunidade que sempre existiu no país.
Expôs a bandalheira de empresários próximos do poder com políticos corruptos e mandou vários deles pra cadeia.
Antes da Lava Jato bastava ser rico pra ter status. Agora a sociedade cobra atitude ética dos empresários.
Mas, pra mudar de fato a forma de fazer negócio no Brasil, é preciso reduzir o tamanho do Estado, em duas frentes: um programa agressivo de privatização de estatais e um plano para reduzir a burocracia e o controle do Estado sobre a iniciativa privada.
Só isso pode reduzir corrupção e atrair investimento.
Como avalia o governo hoje?
Esse governo acertou na equipe econômica e tem grande capacidade de articulação política no Congresso.
São vantagens sobre o anterior.
Mas há limitações para um governo de transição, sem apoio popular, obrigado a lotear cargos e refém de políticos suspeitos.
Como avalia ajuste fiscal?
A atual equipe econômica tem as melhores cabeças para definir o ajuste que o país precisa.
A aprovação da PEC do Teto foi importantíssima e mudou a percepção da solvência do Estado.
O próximo desafio é a reforma da Previdência.
A dúvida é o que efetivamente sairá daquilo que está tramitando no Congresso.
Esse governo não tem uma agenda absolutamente transparente, mas com vitórias tão contundentes nas presidências da Câmara e Senado, cresceu seu cacife para aprovar reformas.
Diante da dificuldade em gerar superavit fiscais no atual quadro econômico, a reforma da Previdência é crucial.
Quando vamos resgatar protagonismo e confiança?
Houve enorme decepção com o último ciclo de investimentos.
Primeiro, porque o crescimento não veio.
Segundo, porque o governo Dilma tinha mentalidade contrária à iniciativa privada.
Terceiro, porque com a crise econômica veio a política, que escancarou a fragilidade das instituições, esfrangalhadas pelo apagão moral que acometeu Brasília.
Destruiu-se muita riqueza no Brasil nos últimos cinco anos.
Investidor machucado demorará a voltar.
Mas somos uma grande economia, daremos a volta por cima.
Como a indicação de Alexandre Moraes ao STF, Edison Lobão na CCJ e o ministério de Moreira Franco comprometem a confiança do mercado?
Há um temor que o governo use seu capital político para livrar a cara de aliados em vez de aprovar reformas.
Há também o risco de voltarmos a ver manifestações.
Muitos dos que foram às ruas lutar contra a corrupção estão perplexos com essas nomeações.
Como está o apetite dos investidores estrangeiros por empresas brasileiras?
O apetite continua alto, mas há muita cautela ao negociar.
Após muitos anos, estamos ouvindo novamente investidores mencionando preocupação com o cenário político ou econômico na hora de comprar ativos no país.
Vi alguns até desistindo de olhar oportunidades em razão disso.
Mas creio que tudo se normalize com a iminente retomada do crescimento.
O sr. acredita na retomada dos IPOs?
Os investidores estão dispostos a pagar bem?
Acho que veremos alguns IPOs neste ano.
Ninguém comprará Brasil sem fazer a lição de casa, sem olhar retornos.
O ciclo será de mais cautela do que o de 2004 a 2007 ou o de 2009 a 2013.
O que espera das concessões?
Exceto pelos aeroportos, em que parece haver grande interesse, creio que teremos dificuldades.
O governo precisa criar um modelo de concessões com o intuito de atrair capital privado, principalmente o estrangeiro.
Quando o investidor olha o Brasil, vê tudo confuso, burocrático.
Parece que estamos fazendo favor de deixar o investidor colocar seu dinheiro aqui.
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