Orientador corrigiu monografia e estudante reclamou para o pai em MT.
Professora estava com a mão na porta quando pai deu soco na estrutura.
Professora teve fratura no dedo e corte; ela levou 12 pontos (Foto: Arquivo pessoal)
Neuza Fernandes da Silva, de 40 anos, é professora e coordenadora do curso de direito das Faculdades Integradas Desembargador Sávio Brandão (FAUSB).
Ela registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil.
O G1 procurou a faculdade, que não se manifestou sobre o assunto até a publicação desta reportagem.
O pai do aluno, o ex-delegado da Polícia Civil David Seadra, de 53 anos, foi detido e liberado após firmar um Termo Circunstanciado da Ocorrência (TCO).
Ele deve comparecer ao Juizado Especial Criminal do Cristo Rei, no dia 9 de agosto, para uma audiência sobre o caso.
Seabra nega a agressão - (leia mais abaixo).
Segundo a professora, ele foi até a faculdade para conversar com Neuza sobre o filho dele, David Seadra Júnior.
O estudante não teria gostado de uma correção feita pelo professor e orientador a respeito de uma monografia e reclamou para o pai.
Segundo ela, a agressão teria ocorrido durante a conversa.
Ao G1, Seadra negou ter agredido a coordenadora, mas vai responder por lesão corporal.
O pai do universitário teria a empurrado duas vezes e dado um soco na porta da sala onde os dois conversavam.
Neuza estava com a mão na porta quando foi atingida e fraturou um dedo.
Neuza Fernandes da Silva (Foto: Arquivo pessoal)
O filho de David, que cursa o 9º semestre de direito, está fazendo a monografia.
Ele estudou boa parte do curso na FAUSB, porém, teria feito o último semestre em outra faculdade particular em Cuiabá e transferiu o curso novamente para a instituição em Várzea Grande.
“Ele trouxe a monografia que tinha feito com a ajuda de outro orientador.
O nosso professor, que é o orientador dele, pediu para ele fazer as alterações no documento e trocasse dados que ainda eram da outra faculdade, como o nome do orientador e carimbo da faculdade, por exemplo.
Ainda tinha suspeita de plágio.
Ele contou isso ao pai, que veio intimidar o professor junto com um advogado”, relatou Neuza.
De acordo com a coordenadora, na quinta-feira (2) o pai do aluno fez ameaças contra os funcionários e voltou até a faculdade no sábado.
“O professor estava dando aula no sábado e teria comentado na sala, na presença do aluno [David Júnior], sobre o fato ocorrido na quinta-feira.
O pai do estudante retornou muito agressivo novamente e queria falar comigo”, lembrou a coordenadora.
O pai queria conversar com Neuza sobre a situação do universitário.
Supostamente o estudante não concordaria em fazer as correções citadas pelo orientador.
“Ele entrou na sala dizendo que ia 'arrebentar' o professor.
Eu disse que não precisava daquilo e que ele estava alterado.
Eu disse: 'vou sair da sala e, quando o senhor se acalmar, nós conversaremos'.
Quando me levantei da cadeira, ele me empurrou, bati contra a parede.
Eu tentei sair de novo e ele me empurrou.
Me apoiei na porta e ele deu um murro”, declarou Neuza.
A coordenadora estava com a mão na porta no momento em que David deu o murro.
Ela teve o dedo médio fraturado e cortado.
“O segurança e os demais funcionários apareceram depois de ouvirem o barulho da porta.
Foi uma agressão gratuita.
Em nenhum momento levantei a voz, não o provoquei.
Ele descontou a raiva em mim”, disse.
A professora e o pai do aluno foram levados para a Central de Flagrantes de Várzea Grande, onde prestaram depoimento.
O delegado que atendeu o caso, Eder Clay de Santana Leal, entendeu o fato como uma lesão corporal.
Neuza foi levada para uma unidade de saúde e recebeu 12 pontos no dedo.
“Ainda ouvi do médico que me atendeu que o meu dedo pode necrosar.
Estou com 10 dias de atestado.
Não imaginava isso de um pai de um aluno.
São quase 10 anos de ensino e nunca vi uma situação dessas”, lamentou a professora.
Outro lado
Seadra declarou ao G1 que a situação não passou de um acidente. “Jamais houve agressão. Foi uma discussão boba.
Ela [professora] disse que eu deveria 'saber criar meu filho'.
Eu disse para que ela guardar os comentários, que eu sabia criar meu filho.
Ele não é uma criança.
Decidi sair da sala e puxei com força a porta, não vi que ela estava com a mão”, afirmou o ex-delegado.
“Jamais pensei em machucá-la.
Não ameacei ninguém. Era um pequeno problema e fui tentar resolver”, finalizou o pai.
O pai negou que o filho tenha cometido plágio na monografia.
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