MP suíço relata contas bancárias em nome do presidente da Câmara.
Eduardo Cunha não quis comentar; defesa diz desconhecer investigações.
O Ministério Público da Suíça enviou ao Brasil, nesta quarta-feira (30), os autos da investigação sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por suspeita de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, informou a Procuradoria Geral da República.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aceitou a transferência feita pelo MP suíço.
Os documentos vão primeiro para o Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça e depois serão remetidos para a Procuradoria Geral da República.
O Ministério Público da Suíça relata na documentação contas bancárias supostamente em nome de Cunha e familiares.
As investigações começaram em abril na Suíça e resultaram em bloqueio de valores, segundo informou a PGR.
Indagado nesta quarta se tem conta no exterior, Cunha não quis responder: "O meu porta-voz será sempre meu advogado.
Não há o que falar.
Não falarei.
Não vou ficar todo dia comentando.
Amanhã, vai surgir outro.
Tenho que cumprir a orientação dele de não falar", afirmou.
A defesa de Cunha divulgou nota na qual afirmou que desconhece qualquer procedimento investigatório realizado na Suíça. "Por tal razão, está impedida de tecer comentários acerca dos supostos fatos noticiados", diz o texto da nota.
"A defesa do deputado Eduardo Cunha está pronta para prestar os devidos esclarecimentos que se façam necessários, mas mantendo a sua postura de se manifestar somente nos autos de processos e caso formalmente questionada pelas autoridades competentes."
Cunha não pode ser extraditado para a Suíça para responder a processo porque é brasileiro nato.
A transferência de processo é um procedimento de cooperação internacional, em que se assegura a continuidade da investigação ou do processo ao se verificar a jurisdição mais adequada para a tramitação do processo penal.
Com a transferência do processo, a Suíça renuncia à sua jurisdição para a causa, que passa a ser do Brasil e de competência do Supremo Tribunal Federal porque, devido à condição de deputado federal, Cunha tem prerrogativa de foro e só pode ser investigado com autorização do STF.
Este é o primeiro processo a ser transferido para o STF a pedido da Procuradoria-Geral da República e o segundo da Operação Lava Jato.
A primeira transferência de investigação foi a do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para Curitiba.
Saiba mais:
- Suíça envia à PGR informações de suposta conta secreta de Cunha
- Preso na Lava Jato cita Cunha, e Moro envia ao STF nova suspeita
- Baiano confirma depoimento de outro delator sobre propina para Cunha
- Delator relata pedido de propina de Cunha, que o desafia a provar
- Entenda a denúncia de Janot contra Eduardo Cunha na Lava Jato
Depoente revelou.
Suposto operador do PMDB no esquema de corrupção que atuava na Petrobras, o engenheiro João Augusto Rezende Henriques afirmou em depoimento à Polícia Federal (PF) que fez uma transferência ao exterior para uma conta do presidente da Câmara dos Deputados.
Henriques foi ouvido pela PF na última sexta-feira (25), após ter sido preso na 19ª fase da Operação Lava Jato, que investiga desvio de recursos de contratos da Petrobras.
Em despacho decretando a prisão preventiva de João Henriques, o juiz Sérgio Moro escreve que o suposto operador do PMDB confirmou pagamento de propina a um agente político, com foro privilegiado, já investigado pela Lava Jato.
Eduardo Cunha foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot ao Supremo pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
De acordo com a Procuradoria, o presidente da Câmara recebeu propina de contratos firmados entre a Petrobras e fornecedores da estatal.
Em julho, o ex-consultor da Toyo Setal Júlio Camargo afirmou em depoimento à Justiça Federal do Paraná que foi pressionado por Cunha a pagar US$ 10 milhões em propina para que um contrato de navios-sonda da Petrobras fosse viabilizado.
Do total do suborno, contou o delator, Cunha disse que era "merecedor" de US$ 5 milhões.
Além disso, investigadores da Lava Jato informaram que o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, também confirmou em sua delação premiada que o presidente da Câmara recebeu, ao menos, US$ 5 milhões em propinas por contratos de locação dos navios-sonda.
Baiano é acusado de ser um dos operadores do PMDB no esquema de corrupção que agia na estatal do petróleo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário