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domingo, dezembro 28, 2014

A crise moral em termos

Zuenir Ventura

Saber que as empreiteiras serão julgadas com mais rigor e que há poderosos empresários vendo o sol nascer quadrado em celas de presos comuns pode não ser tudo, mas faz de 2014 um ano não de todo ruim 

 

Na enquete que a coluna de Ancelmo Gois fez junto a “15 coleguinhas da casa” para saber o que pediriam a Papai Noel, dez respostas tinham a ver com corrupção, o tema que de fato predominou no noticiário e no vocabulário político de 2014. 

Houve quem pedisse como antídoto “vergonha na cara dos homens públicos”, houve quem quisesse o fim do petróleo, a estatização da Petrobras, uma faxina geral, um Poder Judiciário fazendo sua parte. Esse talvez tenha sido mesmo o maior vexame nacional. 

Pode-se alegar que a derrota de 7 x 1 para a Alemanha feriu a autoestima da população mais do que o Petrolão. 

Sim, mas no caso há sempre a desculpa de que foi um acidente, um acaso infeliz que dificilmente se repetiria, enquanto o que ocorreu com a nossa estatal, orgulho nacional, não foi um surto passageiro, mas a manifestação de um mal endêmico, enraizado. 

Não se pode esquecer também o baixo nível da campanha eleitoral, com os xingamentos e as “desconstruções”, um eufemismo para o processo de desmoralização do adversário. 

Duas outras expressões frequentaram o repertório político do ano: “Lava-Jato” e “Delação premiada”. 

A primeira deu nome à operação de limpeza cujo único erro está no título, pois a inspiração não é “lava jato”, e sim “lava a jato”. 

A outra traz consigo uma inversão semântica, já que delator sempre foi uma figura desprezível na História, desde Calabar, e no mundo do crime sob a forma de “X-9” e alcaguete. 

Entre os traficantes, o “X-9”, quando descoberto, é “julgado”, torturado e sumariamente executado.

A Operação Lava-Jato redimiu a figura do delator, que com suas traições destampou os dutos da petroleira por onde corriam em vez de óleo, lama. 

Paulo Roberto Costa possibilitou a descoberta de tantos escândalos que corre o risco de sair como mocinho dessa história em que só parece haver vilões. 

Mesmo Venina, que surgiu como heroína sem mácula num primeiro momento, hoje não é fácil encontrar quem bote a mão no fogo por ela, lançando a suposição de que sua motivação se deve a interesses contrariados ou não atendidos. 

O perigo da delação premiada é estimular ladrões em potencial a achar que podem roubar bastante, guardar uma boa parte e, quando apanhados, entregar toda a quadrilha e diminuir sua pena. 

É claro que não é bem assim, mas alguns podem fazer essa leitura.

Os mais pessimistas apostam que em breve os colarinhos brancos estarão soltos ou em prisão domiciliar. 

Mas só saber que as empreiteiras serão julgadas com mais rigor e que há poderosos empresários vendo o sol nascer quadrado em celas de presos comuns pode não ser tudo, mas faz de 2014 um ano não de todo ruim.

Zuenir Ventura é jornalista

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