“Portanto, eu, prisioneiro no Senhor, suplico-vos que andeis de modo digno
para com o chamado que recebestes, com toda humildade e mansidão,
com paciência, suportando-vos uns aos outros em amor.”
(Efésios 4.1-2)
Há muita diferença entre os dias de perseguição e a glória da liberdade social.
As palavras do apóstolo Paulo, citadas acima, fizeram muito sentido para os cristãos vitimados pela fúria dos imperadores romanos
ou pelas fogueiras e forcas da diabólica inquisição do catolicismo
medieval.
Mas, lamentavelmente, já não fazem para a livre e prestigiada
igreja dos dias atuais.
Uma das atribuições do fogo é o seu
poder de purificação.
Isso explica porque nos dias mais adversos, o ser
humano tende a optar pela humildade.
Mas em cessando as labaredas da
tribulação e em chegando as águas revigorantes da tranquilidade, poucos
são os que não cedem à tentação da arrogância, da vaidade e do egoísmo.
Um breve comparativo que fizermos sobre a
postura cristã daqueles que vivem sob regimes políticos totalitários e
hostis à sua fé para com os que vivem em nações democráticas e com
direitos constitucionais à liberdade religiosa e de expressão, mostra com absoluta clareza o quanto a natureza humana tira proveito da paz externa para deliberar sua decadência interior.
É justamente do chamado "mundo livre"
que nas últimas décadas surgiram dentro do seio cristão, dois perigosos
movimentos, que nesse presente artigo, gostaríamos de ressaltar e
denunciar:
O decadente modismo teológico
Em fins dos anos 80 e sobretudo por toda
a década de 90, assistimos a uma explosão de movimentos teológicos,
absurdamente vazios do que seja a verdadeira teologia e claramente
direcionados para um sincretismo filosófico / esotérico e uma visão
mercadológica da fé.
Concepções como o chamado modelo G12, que vislumbra
a igreja sob células, deram uma conotação de crescimento baseada nas
mais aviltantes técnicas de mercado de rede, onde os números
reproduzidos fazem parte de uma manipulação retórica, que lhes dão a
aparência de desenvolvimento da igreja.
Não é de admirar que tenha
surgido a partir daí a conjuntura do "supercristianismo", atribuindo ao
servo "seus direitos de reinvindicações" sobre o Senhor.
Assim,
ensina-se o cristão a determinar, a exigir, a declarar, a profetizar e a
instituir, pois há poder soberano em sua palavra.
Até o verbo de Deus
passa a ser dividido nas perspectivas de "Rhema" ou "Logos", tendo assim
a brecha para que se relativize os absolutos bíblicos e se possa
legitimar as "revelações" e "visões" que a partir de então se alastraram
e desfiguraram a igreja cristã, tornando-a na caricatura vazia que todos nós podemos assistir em dias atuais.
Desse modismo derivam crenças absurdas
como o atrelamento dos conceitos de fé e riqueza / falta de fé e
pobreza, a ideia de que mesmo aqueles que estão em Cristo possam viver
sob maldições, assim como o já citado poder das determinações, que
declaram isso ou aquilo, sob a certeza de que tal coisa ocorrerá.
Tenho visto Brasil a fora, muitos desses
pregadores o tempo inteiro declarando palavras de cura e restauração
para as cidades e o país, e, no entanto, o que assistimos é uma nação
cada vez mais destruída pelas drogas, destroçada pela violência e
corroída pela corrupção; sendo está última muitas vezes protagonizada
por "políticos cristãos", eleitos em nome desses mesmos movimentos.
A cura de uma nação é um processo
exaustivamente narrado em toda Bíblia e sua diretriz é simples:
testemunho de vida, intercessão e evangelismo.
A Igreja Primitiva (a que
mais cresceu) não era regida por "visões e revelações".
Havia caráter e
justiça na vida de todos. Havia oração incessante.
E havia obstinada
determinação por ganhar almas.
Esse foi o segredo do crescimento e ainda
é, posto que as variantes humanas não implicam numa alteração na
essência de Deus.
Graças ao modismo teológico, temos hoje
uma igreja sem identidade, sem cara própria.
Uma igreja, que por se
desfigurar e esquecer sua origem abriu espaço para a mazela seguinte...
O evangelismo invertido
O atributo da palavra de salvação é
apresentar ao coração perdido um caminho novo e alternativo para o
resgate de sua alma.
Mas não é isso que temos visto em dias atuais. A
igreja moderna tornou-se "um compartimento gospel do mundo".
Foi
assimilada, aceitou adaptações e perdeu seu caráter de santificação.
Em
vez de ganhar o mundo - graças a um horrendo processo de contradições -
acabou sendo engolida por ele.
Dentro desse contexto, vemos artistas
profissionais fazendo shows e vendendo CDs e não mais levitas
ministrando a adoração na presença de Deus.
Vemos igrejas que se
estabelecem em ruas de grande movimento e pontos comerciais
estratégicos, com vistas a atrair público.
Ficou no passado a visão
missionária de chegar a uma região, lançar as sementes e ali lutar até
ver o crescimento espiritual da Obra de Deus.
Vemos também a influência sociológica do
mundo moderno determinando mudanças no padrão administrativo da igreja,
com o surgimento do feminismo gospel e suas pastoras, assim como com a
deflagração das novas "patentes" do egoísmo e vaidade humanos, que
tornam a nomenclatura de pastor uma espécie de graduação mínima e dão
origem aos bispos, apóstolos e patriarcas da igreja moderna, num show de
narcisismo sem precedentes.
Não é a toa que tantos escândalos têm
chegado ao conhecimento público e que a camada esclarecida da população
passa a rotular de forma pejorativa o universo cristão evangélico.
Não é
a toa que já não vemos a autêntica manifestação do poder de Deus, como
historicamente registrou-se nos dias de pioneirismo, onde prevalecia a
fé e a humildade em suas mais puras e sinceras expressões.
A humildade é um dom sublime, que adorna
o caráter e agrada a Deus.
Ao contrário do que dizem "os profetas da
prosperidade", Jesus não foi um aristocrata endinheirado.
A cria de
jumenta sobre a qual Ele entrou montado em Jerusalém não era a ferrari
da época.
Quão blasfemo e desrespeitoso é esse discurso!
Jesus, Filho de Deus, o próprio Deus,
nasceu num estábulo, misturado a bichos, estercos e fenos.
Poderia ter
vindo numa linhagem abastada, mas veio de uma simples camponesa e um
pobre carpinteiro.
As raposas tinham seus covis e as aves seus ninhos,
mas Ele não tinha nem aonde reclinar a cabeça.
Não obstante, Jesus era homem de gestos e
palavras doces.
Era conciliador.
Não buscava glória e nem aplausos para
si.
Nunca se declarou Rei, mesmo sendo o maior de todos.
Nunca
reivindicou honras para si, mesmo sendo o único e real merecedor de toda
honra e toda glória.
E nos deixou milhões de exemplos de humildade
através da sua forma de agir e conviver em sociedade.
Esse é o verdadeiro cristianismo. Não
cabe arrogância nos arraiais de Deus.
A vaidade humana não tem
ingerência sobe a realidade da fé.
E o fim de todo esse terrível erro
será bem oposto a tudo que tem sido prometido nos luxuosos púlpitos pela
boca falaciosa e impostora de seus propagadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário