Fiu-fiu
Lançaram agora um celular à
prova d’água, que você pode usar no chuveiro.
Ou em qualquer outro lugar embaixo d’água.
No mar, por exemplo.
— Bem, não me espere para o jantar...
— Onde você está?
— Sabe a nossa pesca submarina?
— O que houve?
— Pensei que fosse uma garoupa e era um tubarão. E ele está vindo na minha direção.
— Você ainda está embaixo d’água?!
— Estou.
— E o seu arpão?
— O tubarão engoliu!
— Ligue para a Guarda Costeira!
São cada vez mais raros os lugares em que você pode se ver livre de celulares, e agora nem as piscinas estão seguras.
Os celulares são práticos e se tornaram indispensáveis, eu sei, mas empobreceram a vida social.
Existe coisa mais melancólica do que uma mesa de quatro pessoas, numrestaurante , em que três estão dedilhando seus smartphones
e uma está falando sozinha?
Ou um casal em outra mesa, os dois mergulhados nos respectivos celulares sem nem se olharem, o que dirá se falarem — a não ser que estejam trocando mensagens silenciosas entre si, o que é ainda mais triste?
Os celulares podem ser perigosos de várias maneiras, mesmo que não derretam o cérebro, como se andou espalhando há algum tempo.
Imagino uma velhinha que ganhou um celular dos netos sem que estes se dessem ao trabalho de explicar seu funcionamento para a vovó.
Não contaram, por exemplo, que o celular dado assobia quando recebe uma mensagem.
É um assovio humano, um nítido fiu-fiu avisando que alguém ligou, e que pode soar a qualquer hora do dia ou da noite.
E imagino a vovó, que mora sozinha, dormindo e, de repente, acordando com o assovio.
Um fiu-fiu no meio da noite!
A vovó, se não morrer imediatamente do coração, pode ficar apavorada.
Quem está lá?
Um ladrão ou um fantasma assoviador?
E o assovio tem algo de galante.
A vovó pode muito bem sair da cama, sem saber se está acordada ou sonhando, e caminhar na direção do fiu-fiu sedutor, como se tivessem vindo buscá-la.
Alguém pensou nas vovós solitárias quando inventou o assovio?
O fato é que não há mais refúgio.
Nem castelos anti-smartphones com um fosso em volta.
Eles agora podem atravessar o fosso.
Leia todas as colunas...
Ou em qualquer outro lugar embaixo d’água.
No mar, por exemplo.
— Bem, não me espere para o jantar...
— Onde você está?
— Sabe a nossa pesca submarina?
— O que houve?
— Pensei que fosse uma garoupa e era um tubarão. E ele está vindo na minha direção.
— Você ainda está embaixo d’água?!
— Estou.
— E o seu arpão?
— O tubarão engoliu!
— Ligue para a Guarda Costeira!
São cada vez mais raros os lugares em que você pode se ver livre de celulares, e agora nem as piscinas estão seguras.
Os celulares são práticos e se tornaram indispensáveis, eu sei, mas empobreceram a vida social.
Existe coisa mais melancólica do que uma mesa de quatro pessoas, num
Ou um casal em outra mesa, os dois mergulhados nos respectivos celulares sem nem se olharem, o que dirá se falarem — a não ser que estejam trocando mensagens silenciosas entre si, o que é ainda mais triste?
Os celulares podem ser perigosos de várias maneiras, mesmo que não derretam o cérebro, como se andou espalhando há algum tempo.
Imagino uma velhinha que ganhou um celular dos netos sem que estes se dessem ao trabalho de explicar seu funcionamento para a vovó.
Não contaram, por exemplo, que o celular dado assobia quando recebe uma mensagem.
É um assovio humano, um nítido fiu-fiu avisando que alguém ligou, e que pode soar a qualquer hora do dia ou da noite.
E imagino a vovó, que mora sozinha, dormindo e, de repente, acordando com o assovio.
Um fiu-fiu no meio da noite!
A vovó, se não morrer imediatamente do coração, pode ficar apavorada.
Quem está lá?
Um ladrão ou um fantasma assoviador?
E o assovio tem algo de galante.
A vovó pode muito bem sair da cama, sem saber se está acordada ou sonhando, e caminhar na direção do fiu-fiu sedutor, como se tivessem vindo buscá-la.
Alguém pensou nas vovós solitárias quando inventou o assovio?
O fato é que não há mais refúgio.
Nem castelos anti-smartphones com um fosso em volta.
Eles agora podem atravessar o fosso.
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