Água foi remanejada para ajudar o Cantareira que está no volume morto.
Governo afirma que adesão dos consumidores a bônus é de 91%.
Represa de Ponte Nova, em Salesópolis, exibe pedras em seu leito (Foto: Edson Martins/O Diário)
O volume representa uma queda de 37,3% em relação ao mesmo período de 2014. Na quinta-feira (10) o sistema continuava a tendência negativa e marcava 24,1%.
“Pelo ritmo de 5% de consumo do volume útil a cada 30 dias, acredito que em cerca de seis meses o Alto Tietê também terá o volume quase zerado.
O que mais me preocupa é o ano que vem.
Em 2015, de onde vamos tirar a água?”, questiona Roberta Baptista Rodrigues, doutora em recursos hídricos pela USP e professora de Engenharia Ambiental.
Em dezembro de 2013, o Sistema Alto Tietê foi acionado para auxiliar o Sistema Cantareira, que está utilizando seu volume morto.
Desde maio, o Alto Tietê vem perdendo por mês cerca de 5% de sua capacidade.
Em 1º de maio, o sistema registrava 35,8% de volume. Um mês depois a situação era de 30,8%.
Julho começou com 25,7%.
Para Roberta, diante da estiagem, medidas deveriam ter sido tomadas mais cedo.
“No segundo semestre de 2013, como o nível já estava baixo no Sistema Cantareira, eles deveriam ter entrado com uma politica de racionamento bem forte.
Mas o que vem ocorrendo é um racionamento velado nas regiões periféricas.
Deveria ter ocorrido a oficialização do racionamento no segundo semestre de 2013.
Assim, haveria uma economia de água e favoreceria a educação das pessoas”, afirma.
“Hoje você vê os postos de gasolina lavando os carros com mangueira e deveria ter tido uma politica nesse sentido. Baixar uma proibição de lavagem de carros assim, por exemplo.
Tudo para preservar o volume útil”, afirma.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) diz que “o Sistema AltoTietê opera dentro das expectativas da companhia” e que “não há restrições de consumo em qualquer um dos 365 municípios operados pela companhia no Estado de São Paulo”.
Atualmente, o Alto Tietê produz cerca de 14,5 mil l/s de água e abastece aproximadamente 4,5 milhões de pessoas.
Represa do Paraitinga, localizada em Salesópolis, também surpreende por pontos em que está seca (Foto: Edson Martins/O Diário)
As principais são a transferência de vazões dos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga para atender áreas que são abastecidas pelo Cantareira; criação de bônus para clientes abastecidos pelo Sistema Cantareira – que ao reduzirem o consumo em 20% ganham 30% de desconto na conta de água – e sua ampliação para 31 municípios da região metropolitana, além de 12 cidades da região bragantina e da região metropolitana de Campinas.
Segundo a Sabesp, houve adesão de 91% da população ao bônus.
Roberta Rodrigues conta que usar o volume morto do sistema Cantareira não é o ideal.
“O primeiro lugar é a qualidade da água.
Temos um tratamento secundário, que não remove as partículas que estão dissolvidas e água do volume morto pode conter produtos tóxicos”.
A Sabesp afirma atestar a qualidade da água do volume morto, “que segue todos os padrões do Ministério da Saúde”.
O engenheiro civil e sanitarista José Roberto Kachel do Santos concorda com a gravidade da situação do Alto Tietê.
“À medida que a estiagem avança, o subsolo seca cada vez mais.
A vazão que chega nos reservatórios é cada vez menor. Temos cerca de 120 dias para zerar o sistema”, afirma.
Kachel trabalhou por 34 anos na Sabesp, dez deles diretamente com o Sistema Alto Tietê.
“O volume do Alto Tietê está caindo 0,2% ao dia, isso significa 1 milhão de metros cúbicos diários.
Entre o final de outubro e o início de novembro ele vai estar acabando”, alerta.
Nem mesmo a chuva que caiu no Alto Tietê nesta semana anima Kachel.
Segundo medição da Sabesp, de terça-feira (8) até quinta-feira (11) as represas do Sistema Alto Tietê receberam um volume de chuva que, somado, chega a 7,6mm.
"Mesmo que chova agora não vai fazer diferença.
Vai no máximo manter a situação como está, mas não vai melhorar", explica o engenheiro.
Inquérito
O Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) – núcleo do Ministério Público voltado à proteção ambiental - instaurou inquérito civil para verificar se é regular a gestão do Sistema Alto Tietê.
A portaria de instauração do inquérito é assinada pelo promotor Ricardo Manuel Castro.
Castro pediu informações sobre o funcionamento do Sistema para a Sabesp, Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp), Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e Agência Nacional de Águas (ANA).
O MP acredita ser necessária a investigação pela “falta de planos de contingência nos municípios da região metropolitana para o enfrentamento da crise de abastecimento de água” e “existência de indícios de ingerência não técnica nas tomadas de decisões para a gestão da crise de abastecimento de água”.
O inquérito foi instaurado em 26 de junho.
O MP explica que os órgãos têm prazo de 15 dias para enviar as informações contando a partir da data em que receberam o pedido.
Esta é a primeira etapa do inquérito e caso os órgãos não enviem ou encaminhem informações insuficientes, o promotor pode reiterar o pedido.
O inquéiito tem 180 dias para ser concluído.
Mogi das Cruzes
O município é abastecido pelo Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae) que compra da Sabesp cerca de 35% de seu consumo.
Os outros 65% são provenientes do próprio Semae.
O volume adquirido da Sabesp é destinado ao Distrito de Brás Cubas.
Trecho do Rio Tietê em Mogi das Cruzes
(Foto: Tatiane Santos/G1)
(Foto: Tatiane Santos/G1)
Segundo o Semae o nível do rio tem se mantido dentro de sua média histórica.
O Semae informou que ela varia entre 1m e 1,5m. São captados 900 litros por segundo do Tietê.
O Semae afirma possuir um grupo técnico encarregado de acompanhar a situação do abastecimento de água em Mogi das Cruzes.
Este grupo mantém contato diário com a Sabesp e, até o momento, não há informações que indiquem a redução no volume de água do Rio Tietê.
A administração municipal também diz ter resultados positivos com campanhas de conscientização do uso da água.
“O objetivo é estimular o uso responsável da água e reduzir o volume total consumido pela população.
Este trabalho já vem dando resultados positivos e a expectativa deste grupo técnico é que as chuvas retomem seu padrão normal nos próximos meses, o que contribuirá para melhorar a situação dos rios e represas”, informou o Semae.
Lixo acumulado no Rio Tietê no bairro da Ponte Grande em Mogi das Cruzes (Foto:Tatiane Santos/G1)
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