
Josédival Neri da Câmara
PARA ÀQUELES QUE VIVEM CRITICANDO AS FORÇAS ARMADAS, TÁI UM PEDAÇO DE UM DOSSIÊ QUE ENCONTREI NO GOOGLE.
TEM MUITA COISA, É SÓ PESQUISAR.
PELO
QUE SE VÊ E SE LÊ, PARECE QUE O MOVIMENTO COMUNISTA DE 1964, ERA UMA ESPÉCIE DE GUERRILHA COLOMBIANA, E SE AS FORÇAS ARMADAS NÃO TIVESSEM
AGIDO COM RAPIDEZ E PRECISÃO, ESTÁVAMOS ATÉ HOJE, COMO A COLÔMBIA.
AOS
ADEPTOS DESSA CAUSA EU LHES PERGUNTO: É isso que você quer, pra seus
filhos, seus netos?.... vc também tem coragem de recrutar sua mãe à
lutar por uma bandeira podre, que apenas sacrificou inocentes por uma
ideologia superada?.... se é, continue sua luta, mais tenha a consciência de que você, não é o dono do pais, nem inventou a razão. -
EU GOSTARIA MUITO DE DESCOBRIR QUANTOS MILITARES MORRERAM NESSAS
OPERAÇÕES, PORQUE, NO ARAGUAIA FORAM MUITOS.
O EXERCITO NÃO REVELAVA
ISSO, PARA NÃO ABATER O MORAL DA TROPA, NEM CAUSAR REPERCUSSÕES NO ALTO
COMANDO.
E NESSE DOSSIÊ ISSO FICA CLARO.
Guerrilha do Araguaia: a Segunda Campanha
Por Criméia Alice Schimidt de Almeida
•"... o Exército montou acampamentos em Xambioá, São Geraldo, Araguanã e
Araguatins, a meio caminho de Marabá, pelo Araguaia. Em Xambioá, o
acampamento foi construído em torno do campo de aviação, localizado num
dos extremos da cidade.
Segundo o prefeito, o Exército mantém, desde
maio, cerca de 200 homens no acampamento. Este número se elevou a
partir da semana passada, para cinco mil, distribuídos entre Araguatins,
Araguanã e São Geraldo. É porque, decidido a acabar de vez com a ação
terrorista na região, o Exército resolveu ´varrer´ toda a margem
esquerda do Araguaia e penetrar na selva, até então ´santuário´ dos
guerrilheiros. 7
•"Nas escaramuças verificadas esta semana, houve
apenas uma baixa entre os militares: morreu um soldado natural de Santa
Catarina e pertencente ao Regimento de Cavalaria de Guardas, de Brasília
... Dos terroristas não se conhece o número de baixas." 7
•"...Soldados e oficiais, que ingressam nas matas, devem fazê-lo
portando um cordão com placa metálica, contendo, em código, nome, posto e
outras indicações ..." 7
•"Agora, o assunto Araguaia já envolve o
Estado-Maior das Forças Armadas, a Escola Superior de Guerra e o próprio
presidente Médici. Mas o presidente, no seu costumeiro laisser-faire,
prefere delegar poderes. O General Viana Moog coordena as operações à
meia-distância, e o general Antônio Bandeira muda-se para Xambioá." 9
•"E um homem de uns 30 anos, que andava na Transamazônica, foi preso
por estar com documentos falsos. (...) Diante das torturas, como os
´especializados´ insistissem em saber ´onde estavam os terroristas´, o
homem confessou que, dentro da mata, conhecia um velhinho, a quem
chamavam de tio Peri, e que entregaria todo mundo. Bastava que os
´federais´ lhe dessem uns 200 cruzeiros. (...) Estavam convencidos, os
´especializados´, que de alguma coisa ele sabia (...) conhecia bem a
mata. Resolveram usá-lo como guia, para entrar numa certa área. Ele ia
na frente, amarrado com uma corda no pescoço e um soldado atrás,
segurando a corda. (Isso aconteceu com muitos lavradores que se
recusaram a guiar pelotões, segundo depoimento do povo da região). O
homem foi alertado pelos soldados de que, a qualquer barulho, caísse no
chão. Deve ter sido o primeiro encontro governo X governo: quando viu a
tropa chegando do outro lado, o guia atirou-se no chão, aí travou-se um
tiroteio. O sargento Raimundo, pára-quedista, saiu ferido por uma rajada
de metralhadora." 9
•"O papel do general Hugo Abreu começa a
crescer mais ou menos a partir dessas discussões: fica acertada a
participação cada vez maior dos pára-quedistas da Brigada de
Pára-quedistas do Exército, os homens mais bem treinados do país,
militarmente. E, em conversas muito reservadas, reconhecia-se que, entre
alguns guerrilheiros, encontrava-se militares brilhantes, de gênio
indiscutível. Osvaldão era o mais elogiado
(...) A disposição
de luta dos guerrilheiros também recebia elogios, apesar de todas as
ressalvas ideológicas. Comentário de um oficial, hoje:
- Se tivéssemos 50 deles do nosso lado, logo no começo, a história teria sido outra ..." 9
•"Segunda campanha. Novamente, as forças do governo tomam de assalto as
suas cidades-quartéis, Marabá e Xambioá, ocupam a Transamazônica, a
Belém-Brasília, a PA-70 (ligando Marabá à Belém-Brasília) e lanchas da
Marinha invadem o rio Araguaia.
Apesar das muitas prisões de
sempre, o ´pessoal especializado´ está mais contido. A ordem é cativar a
população. (...) A novidade, nas forças do governo, são os grupos de
soldados cabeludos, mal vestidos, barbudos, que, se não portassem
armamento moderníssimo, poderiam ser confundidos com hippies. É a tropa
descaracterizada, profissional, de elite. Os espiões dão algumas
informações importantes sobre a movimentação política dos guerrilheiros
nos lugarejos. Assim, sabe-se com mais certeza a quem prender.9
•"... [durante a segunda campanha] as Forças Armadas organizaram a
tomada simbólica da cidade de Marabá. Distribuíram revólveres de
brinquedo aos jovens da região, que fariam o papel de tropas legais, e
as tropas descaracterizadas fariam o papel de terroristas. O depoimento é
de Dom Alano Maria Pena, que assistiu a tudo e até hoje desaprova:
- Foi uma coisa gozadíssima. Eles fizeram um bombardeio da ilha aqui na
frente, batalha simulada, jogaram napalm na ilha, fogo de morteiro, e
depois fizeram uma programação da vitória. Houve festas na cidade e o
baile da vitória à noite, e esse negócio todo veio organizado de
Brasília. E havia uma missa. E foi aí que começou o enguiço, porque Dom
Estevão recusou-se a rezar a missa. Isso foi em setembro. Aí o prefeito
veio aqui pedir, até o governador procurou Dom Estevão para demovê-lo,
até o arcebispo se prestou a esse papel de insistir com Dom Estevão, que
continuou rejeitando energicamente. Aí eles trouxeram um capelão
militar do Nordeste e decretaram isso aqui uma praça militar, e o
capelão celebrou a missa. Uma palhaçada verdadeira." 9
•"Agora,
nesta segunda campanha, ...o pessoal que entrava na mata estava bem
treinado, com curso de guerra na selva e antiguerrilha. Mas ainda não
era possível encurralar os guerrilheiros, neste setembro-outubro de
1972." 9
•"O motivo que levou à retirada do grosso de tropas após
dois meses de cerco e aniquilamento (muito mais cerco que aniquilamento)
só o governo pode responder, hoje. (...) Presume-se que, finalmente, a
tática de infiltrar espiões e poupar, além de dar assistência as
populações dos lugarejos do baixo Araguaia, ganhou corpo junto à escola
Superior de Guerra, inclusive. Porque as preocupações com a guerrilha já
atingiam a todos os altos oficiais brasileiros. Os insucessos das
tropas, mesmo as descaracterizadas e bem treinadas, dentro da selva,
começam a irritar alguns generais importantes. 9
•Entrevista do jornalista Fernando Portela com oficial do Exército que não quis se identificar:
Sobre o confronto governo x governo:
"Foi no final de 1972, na segunda campanha, os guerrilheiros atacaram
um comando da Polícia Militar do Pará e mataram um sargento. Esse
comando estava muito tenso, evidentemente, e no outro dia, marchando na
selva, encontra um grupo do Exército, mas descaracterizado, vestido como
os caboclos da região, se não me engano era um pessoal da colônia do
Oiapoque, pessoal de fronteira (...) Do ouro lado, o sargento da PM
vendo aquela gente barbuda, armada, aparentemente com segundas
intenções, não teve dúvida, abriu fogo e um outro sargento, do outro
lado, morreu. Isso chocou muito e houve um clima de tensão muito grande e
o pessoal ficou com medo de haver um desentendimento maior entre o
Exército e a PM. Inclusive, a partir daí, a polícia se retraiu um pouco,
para evitar atritos maiores, mas continuou dando apoio.(...) É uma
história verídica, não é coisa inventada, não. Eu vi o relato escrito
disso, eu vi gente que participou e conversei com eles ..."10
•"O
informe não registra as razões do fracasso da primeira investida, mas um
militar que participou da operação revela que o Exército chegou à
região usando de violência indiscriminada contra a população nativa.
Nessa altura, os guerrilheiros cativavam a simpatia dos caboclos. (...)
Os guerrilheiros contavam com apoio da população local que, na primeira
operação do Exército, resistiu a colaborar na localização dos
acampamentos guerrilheiros. Os militares tentaram obter adesão à força,
obrigando com violência que os mateiros servissem como guias. Eles, por
vingança, enganavam os pelotões do Exército, levando-os a caminhar em
círculos no meio da floresta por dias seguidos. A campanha resultou em
fracasso: dezenas de soldados contraíram malária, leschimaniose, e
muitos desertaram. Os guerrilheiros registraram suas primeiras vitórias.
Em Brasília, diante do insucesso da primeira investida militar, o
general Milton Tavares, chefe do CIE, linha dura do Exército, convenceu o
ministro Orlando Geisel a desencadear uma operação de guerra de grande
porte, batizada de Manobrão. Os estrategistas militares decidiram adotar
a tática da bigorna e martelo, ou seja: o grosso do efetivo cerca a
região, enquanto pelotões invadiam a mata e empurrava os guerrilheiros
em direção à tropa. Mas o plano não funcionou. Os chefes militares
desconheciam as dimensões da área de atuação da guerrilha - maior do que
a Itália. Essa tentativa obrigou as Forças Armadas a promoverem uma
mobilização gigantesca de tropas.
O relatório secreto registra o
envio de dois batalhões de infantaria de selva; uma companhia
aero-transportada, um comando reforçado de paraquedistas, uma companhia
de fuzileiros navais e ´comando numerado´ da Força Aérea Brasileira
(FAB). A central de operações foi instalada em Xambioá, com
acampamentos, pistas de pouso, caminhões de transporte de tropas e
suprimentos. A pequena cidade foi ocupada pelo Exército com sua tropa de
3.200 homens e toda aparelhagem militar, ao longo de 8 meses de
campanha.
(...)
Na página 1037 do documento do CIE, o
tenente-coronel Arnaldo Braga apresenta um quadro com os resultados
obtidos no combate aos focos guerrilheiros, ... O Exército contabilizava
55 guerrilheiros já identificados. Destes, 12 foram mortos, seis presos
e outros 37 haviam conseguido escapar ao cerco, mas ainda estavam na
região.
O documento aponta o ex-deputado federal Maurício
Grabois como chefe militar da guerrilha, superior hierárquico de três
comandos distintos: o Comando A, à frente o comandante André Grabois,
Edgar, filho de Maurício; o Comando B, dirigido pelo técnico em máquinas
e motores Osvaldo da Costa, o Osvaldão, e o Comando C, que era liderado
pelo economista Paulo Mendes Rodrigues. Os militares reconhecem no
informe que a guerrilha do PC do B contava apenas com armas precárias e
levanta a suspeita de que os guerrilheiros estariam à espera de
armamentos da China comunista.
O relatório encerra na página
1058, contando que, naquela data, 9 de novembro de 1972, por decisão do
Estado Maior do Exército, sob a orientação do general Orlando Geisel, as
tropas abandonavam as operações regulares de combate à guerrilha. Os
militares, então, reconhecem que não haviam eliminado todos os focos de
resistência comunista. O Alto Comando decidiu deixar em seu lugar,
segundo o relatório, tropas das polícias militares do Pará, Goiás e Mato
Grosso sob o comando do Exército sediada em Marabá.101
Notas bibliográficas
7 - Jornal O Estado de São Paulo - São Paulo - 13/09/78 - pag. 15 -
"Hugo Abreu nega ter admitido torturas - "Em Xambioá, a luta é
contra..." [ Transcrição na íntegra do artigo publicado pelo mesmo
jornal em 24/09/72, intitulado "Em Xambioá, a luta é contra
guerrilheiros e atraso" .
8 - Jornal O Estado de São Paulo - São Paulo - 14/09/78 - pag. 20 - "Araguaia: efetivo chegou a 6 mil".
9 - Jornal da Tarde - São Paulo - 13/01/79 - pags. 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7
- "Guerra de Guerrilhas: Contribuição ao estudo da História do Brasil
contemporâneo. Capítulo inédito".
10 - Jornal da Tarde - São Paulo - 15/01/79 - pags. 14 e 32 - "Guerra de Guerrilhas: Quando cheguei o negócio fervia"
101 - Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 22/03/92 - capa e 1º caderno -
"Um mistério chega ao fim"; capa e pag. 19 - "Relatório mostra como
Exército venceu a guerrilha."- artigo assinado por Etevaldo Dias e
Ronaldo

PARA ÀQUELES QUE VIVEM CRITICANDO AS FORÇAS ARMADAS, TÁI UM PEDAÇO DE UM DOSSIÊ QUE ENCONTREI NO GOOGLE.
Guerrilha do Araguaia: a Segunda Campanha
Por Criméia Alice Schimidt de Almeida
•"... o Exército montou acampamentos em Xambioá, São Geraldo, Araguanã e Araguatins, a meio caminho de Marabá, pelo Araguaia. Em Xambioá, o acampamento foi construído em torno do campo de aviação, localizado num dos extremos da cidade.
Segundo o prefeito, o Exército mantém, desde maio, cerca de 200 homens no acampamento. Este número se elevou a partir da semana passada, para cinco mil, distribuídos entre Araguatins, Araguanã e São Geraldo. É porque, decidido a acabar de vez com a ação terrorista na região, o Exército resolveu ´varrer´ toda a margem esquerda do Araguaia e penetrar na selva, até então ´santuário´ dos guerrilheiros. 7
•"Nas escaramuças verificadas esta semana, houve apenas uma baixa entre os militares: morreu um soldado natural de Santa Catarina e pertencente ao Regimento de Cavalaria de Guardas, de Brasília ... Dos terroristas não se conhece o número de baixas." 7
•"...Soldados e oficiais, que ingressam nas matas, devem fazê-lo portando um cordão com placa metálica, contendo, em código, nome, posto e outras indicações ..." 7
•"Agora, o assunto Araguaia já envolve o Estado-Maior das Forças Armadas, a Escola Superior de Guerra e o próprio presidente Médici. Mas o presidente, no seu costumeiro laisser-faire, prefere delegar poderes. O General Viana Moog coordena as operações à meia-distância, e o general Antônio Bandeira muda-se para Xambioá." 9
•"E um homem de uns 30 anos, que andava na Transamazônica, foi preso por estar com documentos falsos. (...) Diante das torturas, como os ´especializados´ insistissem em saber ´onde estavam os terroristas´, o homem confessou que, dentro da mata, conhecia um velhinho, a quem chamavam de tio Peri, e que entregaria todo mundo. Bastava que os ´federais´ lhe dessem uns 200 cruzeiros. (...) Estavam convencidos, os ´especializados´, que de alguma coisa ele sabia (...) conhecia bem a mata. Resolveram usá-lo como guia, para entrar numa certa área. Ele ia na frente, amarrado com uma corda no pescoço e um soldado atrás, segurando a corda. (Isso aconteceu com muitos lavradores que se recusaram a guiar pelotões, segundo depoimento do povo da região). O homem foi alertado pelos soldados de que, a qualquer barulho, caísse no chão. Deve ter sido o primeiro encontro governo X governo: quando viu a tropa chegando do outro lado, o guia atirou-se no chão, aí travou-se um tiroteio. O sargento Raimundo, pára-quedista, saiu ferido por uma rajada de metralhadora." 9
•"O papel do general Hugo Abreu começa a crescer mais ou menos a partir dessas discussões: fica acertada a participação cada vez maior dos pára-quedistas da Brigada de Pára-quedistas do Exército, os homens mais bem treinados do país, militarmente. E, em conversas muito reservadas, reconhecia-se que, entre alguns guerrilheiros, encontrava-se militares brilhantes, de gênio indiscutível. Osvaldão era o mais elogiado
(...) A disposição de luta dos guerrilheiros também recebia elogios, apesar de todas as ressalvas ideológicas. Comentário de um oficial, hoje:
- Se tivéssemos 50 deles do nosso lado, logo no começo, a história teria sido outra ..." 9
•"Segunda campanha. Novamente, as forças do governo tomam de assalto as suas cidades-quartéis, Marabá e Xambioá, ocupam a Transamazônica, a Belém-Brasília, a PA-70 (ligando Marabá à Belém-Brasília) e lanchas da Marinha invadem o rio Araguaia.
Apesar das muitas prisões de sempre, o ´pessoal especializado´ está mais contido. A ordem é cativar a população. (...) A novidade, nas forças do governo, são os grupos de soldados cabeludos, mal vestidos, barbudos, que, se não portassem armamento moderníssimo, poderiam ser confundidos com hippies. É a tropa descaracterizada, profissional, de elite. Os espiões dão algumas informações importantes sobre a movimentação política dos guerrilheiros nos lugarejos. Assim, sabe-se com mais certeza a quem prender.9
•"... [durante a segunda campanha] as Forças Armadas organizaram a tomada simbólica da cidade de Marabá. Distribuíram revólveres de brinquedo aos jovens da região, que fariam o papel de tropas legais, e as tropas descaracterizadas fariam o papel de terroristas. O depoimento é de Dom Alano Maria Pena, que assistiu a tudo e até hoje desaprova:
- Foi uma coisa gozadíssima. Eles fizeram um bombardeio da ilha aqui na frente, batalha simulada, jogaram napalm na ilha, fogo de morteiro, e depois fizeram uma programação da vitória. Houve festas na cidade e o baile da vitória à noite, e esse negócio todo veio organizado de Brasília. E havia uma missa. E foi aí que começou o enguiço, porque Dom Estevão recusou-se a rezar a missa. Isso foi em setembro. Aí o prefeito veio aqui pedir, até o governador procurou Dom Estevão para demovê-lo, até o arcebispo se prestou a esse papel de insistir com Dom Estevão, que continuou rejeitando energicamente. Aí eles trouxeram um capelão militar do Nordeste e decretaram isso aqui uma praça militar, e o capelão celebrou a missa. Uma palhaçada verdadeira." 9
•"Agora, nesta segunda campanha, ...o pessoal que entrava na mata estava bem treinado, com curso de guerra na selva e antiguerrilha. Mas ainda não era possível encurralar os guerrilheiros, neste setembro-outubro de 1972." 9
•"O motivo que levou à retirada do grosso de tropas após dois meses de cerco e aniquilamento (muito mais cerco que aniquilamento) só o governo pode responder, hoje. (...) Presume-se que, finalmente, a tática de infiltrar espiões e poupar, além de dar assistência as populações dos lugarejos do baixo Araguaia, ganhou corpo junto à escola Superior de Guerra, inclusive. Porque as preocupações com a guerrilha já atingiam a todos os altos oficiais brasileiros. Os insucessos das tropas, mesmo as descaracterizadas e bem treinadas, dentro da selva, começam a irritar alguns generais importantes. 9
•Entrevista do jornalista Fernando Portela com oficial do Exército que não quis se identificar:
Sobre o confronto governo x governo:
"Foi no final de 1972, na segunda campanha, os guerrilheiros atacaram um comando da Polícia Militar do Pará e mataram um sargento. Esse comando estava muito tenso, evidentemente, e no outro dia, marchando na selva, encontra um grupo do Exército, mas descaracterizado, vestido como os caboclos da região, se não me engano era um pessoal da colônia do Oiapoque, pessoal de fronteira (...) Do ouro lado, o sargento da PM vendo aquela gente barbuda, armada, aparentemente com segundas intenções, não teve dúvida, abriu fogo e um outro sargento, do outro lado, morreu. Isso chocou muito e houve um clima de tensão muito grande e o pessoal ficou com medo de haver um desentendimento maior entre o Exército e a PM. Inclusive, a partir daí, a polícia se retraiu um pouco, para evitar atritos maiores, mas continuou dando apoio.(...) É uma história verídica, não é coisa inventada, não. Eu vi o relato escrito disso, eu vi gente que participou e conversei com eles ..."10
•"O informe não registra as razões do fracasso da primeira investida, mas um militar que participou da operação revela que o Exército chegou à região usando de violência indiscriminada contra a população nativa. Nessa altura, os guerrilheiros cativavam a simpatia dos caboclos. (...)
Os guerrilheiros contavam com apoio da população local que, na primeira operação do Exército, resistiu a colaborar na localização dos acampamentos guerrilheiros. Os militares tentaram obter adesão à força, obrigando com violência que os mateiros servissem como guias. Eles, por vingança, enganavam os pelotões do Exército, levando-os a caminhar em círculos no meio da floresta por dias seguidos. A campanha resultou em fracasso: dezenas de soldados contraíram malária, leschimaniose, e muitos desertaram. Os guerrilheiros registraram suas primeiras vitórias.
Em Brasília, diante do insucesso da primeira investida militar, o general Milton Tavares, chefe do CIE, linha dura do Exército, convenceu o ministro Orlando Geisel a desencadear uma operação de guerra de grande porte, batizada de Manobrão. Os estrategistas militares decidiram adotar a tática da bigorna e martelo, ou seja: o grosso do efetivo cerca a região, enquanto pelotões invadiam a mata e empurrava os guerrilheiros em direção à tropa. Mas o plano não funcionou. Os chefes militares desconheciam as dimensões da área de atuação da guerrilha - maior do que a Itália. Essa tentativa obrigou as Forças Armadas a promoverem uma mobilização gigantesca de tropas.
O relatório secreto registra o envio de dois batalhões de infantaria de selva; uma companhia aero-transportada, um comando reforçado de paraquedistas, uma companhia de fuzileiros navais e ´comando numerado´ da Força Aérea Brasileira (FAB). A central de operações foi instalada em Xambioá, com acampamentos, pistas de pouso, caminhões de transporte de tropas e suprimentos. A pequena cidade foi ocupada pelo Exército com sua tropa de 3.200 homens e toda aparelhagem militar, ao longo de 8 meses de campanha.
(...)
Na página 1037 do documento do CIE, o tenente-coronel Arnaldo Braga apresenta um quadro com os resultados obtidos no combate aos focos guerrilheiros, ... O Exército contabilizava 55 guerrilheiros já identificados. Destes, 12 foram mortos, seis presos e outros 37 haviam conseguido escapar ao cerco, mas ainda estavam na região.
O documento aponta o ex-deputado federal Maurício Grabois como chefe militar da guerrilha, superior hierárquico de três comandos distintos: o Comando A, à frente o comandante André Grabois, Edgar, filho de Maurício; o Comando B, dirigido pelo técnico em máquinas e motores Osvaldo da Costa, o Osvaldão, e o Comando C, que era liderado pelo economista Paulo Mendes Rodrigues. Os militares reconhecem no informe que a guerrilha do PC do B contava apenas com armas precárias e levanta a suspeita de que os guerrilheiros estariam à espera de armamentos da China comunista.
O relatório encerra na página 1058, contando que, naquela data, 9 de novembro de 1972, por decisão do Estado Maior do Exército, sob a orientação do general Orlando Geisel, as tropas abandonavam as operações regulares de combate à guerrilha. Os militares, então, reconhecem que não haviam eliminado todos os focos de resistência comunista. O Alto Comando decidiu deixar em seu lugar, segundo o relatório, tropas das polícias militares do Pará, Goiás e Mato Grosso sob o comando do Exército sediada em Marabá.101
Notas bibliográficas
7 - Jornal O Estado de São Paulo - São Paulo - 13/09/78 - pag. 15 - "Hugo Abreu nega ter admitido torturas - "Em Xambioá, a luta é contra..." [ Transcrição na íntegra do artigo publicado pelo mesmo jornal em 24/09/72, intitulado "Em Xambioá, a luta é contra guerrilheiros e atraso" .
8 - Jornal O Estado de São Paulo - São Paulo - 14/09/78 - pag. 20 - "Araguaia: efetivo chegou a 6 mil".
9 - Jornal da Tarde - São Paulo - 13/01/79 - pags. 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 - "Guerra de Guerrilhas: Contribuição ao estudo da História do Brasil contemporâneo. Capítulo inédito".
10 - Jornal da Tarde - São Paulo - 15/01/79 - pags. 14 e 32 - "Guerra de Guerrilhas: Quando cheguei o negócio fervia"
101 - Jornal do Brasil - Rio de Janeiro - 22/03/92 - capa e 1º caderno - "Um mistério chega ao fim"; capa e pag. 19 - "Relatório mostra como Exército venceu a guerrilha."- artigo assinado por Etevaldo Dias e Ronaldo
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