Lincoln Secco: Que saudades do PT quando ele era “aquela” quadrilha
por Lincoln Secco, especial para o Viomundo (www.viomundo.com.br)
Em 1947 a cidade de São Paulo “explodiu”.
O aumento de em trinta
centavos levou ao “vandalismo”.
Bondes queimados, passeatas
“descentralizadas”, indignação generalizada.
Desconheço se já havia no
Direito a oportunidade de acusar os passageiros de formadores de
quadrilha.
Durante toda a nossa história (desde o Império) tivemos motins
“espontâneos” por causa de aumentos de preços e, mesmo assim, até hoje
nossa sociedade não aprendeu a conviver com protestos.
As cenas da
violência policial de ontem comprovam isso.
A fotografia de um policial
espancando uma menina repugna.
O lançamento de uma bomba contra um idoso
em seu carro (prontamente ajudado pelos manifestantes) é digno de um
fascista.
Nas Manifestações do Movimento do Passe Livre várias pessoas foram
detidas “por formação de quadrilha”.
A Ditadura Militar não precisava de
tais expedientes “legais”, mas a “democracia” precisa.
Pessoas que se
reúnem para lutar por objetivos políticos têm toda a liberdade de
fazê-lo, desde que o façam na calçada, com um cordão de isolamento de
policiais e sem ofendê-los, é claro, pois como declarou um deles
recentemente, “tive que me segurar para não atirar”.
Depois dos elogios do prefeito à Polícia, seguidos de um recuo; depois
do Ministro da Injustiça prometer auxílio e “monitoramento” da Polícia
Federal à ameaça terrível que um movimento social representa à ordem;
depois que o PT criticou os “vândalos”, há algo que se rompeu
definitivamente entre tais “petistas” e a história do PT.
O partido já foi chamado de quadrilha por embalar protestos desde os
anos 1980.
É verdade que agora é chamado assim por outros motivos.
Recentemente, Lula declarou que existem dois PT.
Eles deveriam prestar
atenção nisto e interpretar a ideia enigmática do líder da melhor forma
possível.
O leitor decerto se lembra de que o PT foi o defensor desta mesma pauta
(tarifa zero) no governo Luiza Erundina.
Mas isto faz tempo, é verdade.
No entanto, na última mobilização importante do MPL durante a gestão
Kassab estavam entre os manifestantes dois conhecidos vereadores do PT
com apoio do Diretório Municipal do partido.
Não é incoerência.
A Direção do PT aprendeu a fazer aquilo que
criticava: movimentos sociais só servem como correias de transmissão da
política eleitoral do partido.
Se não são “centralizados” (como diz o
prefeito), dirigidos ou tutelados eles de nada servem. São uma
quadrilha.
Que saudades do PT quando ele era aquela quadrilha…
Lincoln Secco é professor da História Contemporânea da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP)
Fonte: Blog Sol do Carajás
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