Principal antibiótico, na opinião destes economistas, são os juros.
Reformas são necessárias para alterar cenário de forma permanente.
Agora é oficial: o Banco Central do Brasil prevê inflação acima da meta estabelecida pelo governo até o final do ano que vem. Em uma reportagem especial, o Jornal da Globo examina os dilemas do governo para combater a inflação, uma doença crônica.
Não é nenhum paciente terminal, mas é crônico, e o tratamento, complexo. Diagnósticos, remédios, efeitos colaterais, tudo isso está em discussão, e consultamos uma junta médica para examinar esse paciente.
“Ele está com um quadro complicado de saúde”, diz Sérgio Vale, economista. “Não está na UTI, mas é um paciente que poderia ter um desempenho muito melhor”, afirma o economista Alexandre Schwartzman.
O paciente é a economia brasileira. Nem o alto nível de emprego disfarça: está na cara que vai mal de saúde. Para cuidar do doente, o médico responsável: o governo federal. O paciente apresenta dois sintomas agudos: cresce pouco e tem uma febre persistente, a inflação.
O médico examina tudo: os indicadores, as expectativas, as reclamações. E decide o tratamento: juros baixos, algumas doses de desonerações de impostos, bastante gasto público, um remédio pra fazer efeito no câmbio, sempre que necessário, e crédito pra manter o paciente mais animado.
O tempo passa, porém, e os exames mostram: o Brasil continua crescendo pouco e com inflação.
O que acontece, doutor? “O médico considera que é uma gripe, mas, na verdade, eu acho que a gente está mais para um processo infeccioso grave, uma pneumonia. Então, o que acontece é que o governo está dando o medicamento fraco, errado, para um problema que deveria ter sido tratado de outra forma, com antibiótico”, diz Vale.
O principal antibiótico, na opinião destes economistas, são os juros. Só que, para eles, o Brasil está tomando a dose errada para o sintoma errado. Em vez de juros baixos para crescer, precisa de juros mais altos para conter a febre da inflação.
“Na verdade, é como se você estivesse dando um banho frio em um paciente com febre. Consegue baixar a febre, saí lá de 39 e vai para 37. Você fica contente, não está ainda sem febre, o processo infeccioso está lá. Você não tratou do processo infeccioso”, afirma Schwartzman.
Na terça-feira (27), durante o encontro dos Brics na África do Sul, a presidente Dilma falou sobre o estado da economia brasileira. “Esse receituário que quer matar o doente, em vez de curar a doença, é complicado.
Eu vou acabar com o crescimento do país? Isso está datado, isso, eu acho, que é uma política superada. Nós não achamos que a inflação está fora do controle, pelo contrário, achamos que ela está controlada, e o que há são alterações e flutuações conjunturais, mas nós estaremos sempre atentos”, afirmou.
Os economistas dizem que existe outro erro de diagnóstico: os remédios para fazer a economia crescer não dão resultado e ainda pioram a febre.
“O diagnóstico que está por trás desse conjunto de medidas é que o problema da economia brasileira hoje é semelhante ao problema que nós enfrentamos lá em 2008/2009, ou seja, falta de gasto, consumo fraco.
Não é esse o problema. A gente não consegue crescer mais porque a gente não consegue entregar. Você pode jogar mais demanda, mais consumo nessa economia, não vai gerar mais PIB. Em boa medida, vai virar um pedaço inflação e um pedaço aumento das importações”, afirma Schwartzman.
Então, qual é o remédio para crescer mais? “Outro antibiótico extremamente forte que se chama reformas, que a gente parou de fazer uns sete anos atrás”, diz Vale. “Reforma trabalhista, tributária, abertura com comércio internacional. Um conjunto de medidas que reduza custos, aumente produtividade, aumente a competição”, afirma Schwartzman.
Com autoridade de quem é médico e economista, o Maurício Alchorne concorda. Acha que o tratamento tem que mudar. “Medicações sintomáticas. Você tem um sintoma, você medica para corrigir o sintoma, a doença permanece, o paciente continua doente e, por vezes, só controlar sintomas faz com que a doença continue se agravando.
Nós vamos ter crescimento nesse país se nós mostrarmos que nós somos um país saudável, um país em que vale a pena investir, um país que está preparado para aquele aporte de recursos, que não vai se perder no emaranhado de problemas estruturais que nós temos e precisamos também combater”, afirma.
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